terça-feira, 29 de abril de 2014

Quinta-feira entro de férias. Obrigadinho pelas sugestões!


Não dá para notar mas no título estava a ser irónico. Mas só na segunda parte, porque é verdade que quinta-feira entro de férias, infelizmente não há ironia nenhuma nessa parte. Só estava a ser irónico na parte em que agradecia as vossas sugestões quando ninguém me ajudou a decidir. Fui lá falar com o meu patrão na sexta-feira, como ele me tinha dito para fazer mas ele estava numa reunião. Eu um dia gostava de chegar a chefe ou a uma posição alta para ter uma secretária que dissesse às pessoas que eu estava numa reunião. Quando eu não quisesse aturar ninguém ou quisesse estar à vontade com uma moça no meu gabinete de chefe ou de posição superior ia pedir à minha assistente que dissesse às pessoas que eu estava numa reunião, para parecer que estava sempre ocupado e a fazer coisas importantes. Aposto que nunca ninguém pensou nisto.



A secretária do patrão disse-me que depois me informava quando o patrão pudesse falar comigo. Descobri que o meu patrão era uma pessoa muito ocupada e que gerir uma fábrica de tintas sem ser a Robialac dá mesmo trabalho e consome muito tempo da vida de uma pessoa, já que o meu patrão só me chamou hoje ao gabinete dele. Fui lá uma pilha de nervos. O Isaías «Ponta-de-lança» perguntou-me se eu ia ser despedido, o Lino perguntou-me se eu não tinha ficado com o champô dele quando fomos jogar ontem entre o pessoal da fábrica e o Sebastião perguntou-me se eu já sabia que datas é que ia propor ao patrão para as minhas férias. De todas as perguntas, a que mais me intrigou foi a do Isaías «Ponta-de-lança». Ultimamente ele anda a falar muito comigo e antes quase não queria saber de mim. O meu tio sempre me disse que quando um moço mostra muito interesse na nossa vida ou nos quer roubar dinheiro ou nos quer comer a namorada. Pelo sim, pelo não, comecei a ir trabalhar sem dinheiro na carteira, o Sebastião paga-me tudo e ao fim do dia ele passa em minha casa e eu pago-lhe o que lhe devo.



O Venâncio encaminhou-me até ao escritório do patrão. Pelo caminho aconselhou-me a não mostrar nervosismo perante o patrão e que ir falar com o patrão era como ir num encontro com uma moça: temos sempre de causar boa impressão, mesmo que não haja qualquer futuro na relação. Perguntei de que valia causar boa impressão se não houvesse futuro na relação e o Venâncio disse-me que as moças e os patrões falam sempre de nós aos outros e que se tivéssemos deixado boa impressão, então, fosse com outro patrão ou com outra moça, podíamos ter mais sorte no futuro. Lembrei-me desse conselho e decidi que na reunião com o patrão ia fazer o que faço normalmente nos meus encontros com as moças. O Gary uma vez disse-me que a regra mais básica nos encontros é não gozar com nomes próprios até a moça dizer como se chamam os pais. Como esse conselho não me ia servir de nada, optei por seguir os meus e os do Venâncio.



Quando entrei no gabinete o meu patrão estava ao telefone e a escrever umas coisas num bloco. Fiquei sem perceber o que raio fazia a secretária, já que ele estava ali a fazer duas coisas ao mesmo tempo e ela, quando eu estava à espera, estava no Facebook a ver fotografias de gatos e de bebés. Até pensei em denunciar essa situação ao patrão mas o meu tio sempre me disse que ninguém gosta de bufos, nem mesmo os polícias gostam de bufos, só os usam porque os fins justificam os meios. Se o meu patrão não gostasse de bufos, ia estar a violar o conselho do Venâncio e violar conselhos é quase tão grave como violar menores, depois ia preso e em menos de uma semana era esfaqueado na prisão. Quando o patrão desligou e parou de escrever expus a minha situação e ele perguntou-me se eu já tinha pensado quando queria ter férias. Disse-lhe que o deixava escolher a altura do ano em que gostaria de se ver livre de mim. O meu patrão riu-se e disse que o que mais gostava nos trabalhadores era o sentido de humor e o não estarem sindicalizados. Disse-lhe que não conhecia nenhum sindicato mas tinha um amigo picheleiro. O meu patrão riu-se outra vez e depois pediu-me o número do Lucindo, que estava a precisar de uns arranjos em casa.



O Sebastião sempre me disse que preferia que o patrão lhe devesse um favor do que ele devesse um favor ao patrão. Ao dar o número do Lucindo estava a fazer um favor ao meu patrão, o que era perfeito. Decidi dar-lhe outro favor e disse-lhe que podia ser ele a escolher as minhas férias. Ele aceitou e propôs que começasse quinta-feira, dia 1 e estendesse até segunda-feira, dia 12 de Maio. Ainda pensei em perguntar se tinha de ser já, mas mais vale o nosso patrão ficar a dever-nos dois favores do que apenas um. Aceitei a proposta. Só assinei lá uns papéis e voltei ao trabalho. Quando comentei com o Sebastião ele disse-me que tinha sorte que apanhava a altura da Queima e podia ir lá embebedar-me à vontade todos os dias. Disse-lhe que sozinho não queria ir. Ao almoço perguntei à Xana da cantina se queria vir comigo à Queima nas minhas férias mas a Xana disse-me que eu podia era passar as minhas férias a apagar o fogo que ela tinha por dentro. Às vezes não percebo a Xana e é pena, porque ela até é gira e cozinha bem, podia ser um bom partido para mim.








P.S.: Nem estava muito desapontado com as minhas férias até ter falado com o Venâncio à hora de saída. Ele disse-me que o patrão foi maldoso a contar o dia 1 de Maio, que é feriado, como férias e a contar os sábados como dias úteis. O Venâncio disse-me que eu tinha sido comido. Na minha perspectiva, tudo isto significou duas coisas: primeiro, que depois tenho de agradecer ao meu patrão por me ter encurtado as férias o mais possível e segundo, pela primeira vez acabei um encontro a ser comido. Ainda que tenha sido metaforicamente e não tenha sido com uma moça. Agora, quero ver quem é que me vai dar sugestões para eu preencher os meus dias a partir de quinta-feira. E estava a ser irónico, tal como comecei, também acabei, ou não estivesse sempre o Gary a dizer-me que toda a gente gosta de pessoas coerentes. 


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