sexta-feira, 18 de abril de 2014

A carta que enviei à Marlboro


Aproveitei que era feriado e que não ia ter muito trabalho para escrever uma carta à Marlboro. Porquê à Marlboro? Se quiserem saber leiam a carta, não vou estar aqui já a dizer tudo e a prejudicar aqueles que lerem a carta quando podiam ler logo aqui. Entretanto, um cliente ligou-me de urgência que o lavatório da cozinha entupiu e era água por todo o lado e então fui lá de tarde e só agora retomei a carta. Mas acabei-a hoje, senão já mandava a carta sábado e aí já não era feriado. Portanto, vejam lá a carta que enviei à Marlboro:


«Saudações,

Noutras cartas que enviei para outras companhias, especificava sempre a saudação tendo em conta características relativas aos produtos ou ao sistema organizacional das empresas. No entanto, neste caso, optei pelo descomprometido «saudações» tendo em conta que não fumo nem nunca fumei e por isso não sei qual a melhor altura do dia para o fazer e, pela observação de um ex-fumador próximo de mim, a minha mulher, ver que tanto fumava de manhã, como à tarde ou à noite e, por isso, não saber qual a melhor altura do dia para vocês operarem e, consequentemente, serem convenientemente saudados. A minha mulher dizia-me que adorava fumar depois de consumar o acto sexual, mas entretanto deixou de fumar e começou a consumir CapriSonnes comigo após o sexo. Perguntei-lhe no outro dia o que é que ela preferia mas ela não me respondeu e ainda me bebeu outro CapriSonne. Eu não levei a mal, beber dois CapriSonnes no pós-sexo é sinal que tive um bom desempenho.


Mas adiante, que não é do meu desempenho sexual que vou falar nesta carta hoje, apesar de considerar que à medida que o tempo passa me tenho saído cada vez melhor. O Gary, um amigo meu, disse-me que se o sexo fosse como o futebol eu já andava a ser seguido por olheiros internacionais e a minha mulher já me tinha posto uma cláusula de rescisão. Infelizmente, acho que ia chumbar sempre nos exames psicológicos, tendo em conta a minha condição psiquiátrica. Bem. Posto isto, quem quer que leia esta carta deve-se estar a perguntar «Porquê a nós e não a outra companhia qualquer?». A resposta é simples: a minha mulher fumava sempre Marlboro Light. Quando não havia, não fumava. Uma vez pedi um Camel emprestado a um amigo meu e quando cheguei a casa meti-lhe no maço sem ela ver. Acreditam que quando foi fumar e acendeu o Camel começou a tossir e a dizer que estava com vontade de vomitar? Incrível. Mas porque raio é que é «Marlboro Light»? Sei que as bebidas «light» têm menos calorias e engordam menos. O que são cigarros «light»? Matam menos? Ou matam menos depressa? Ou sabem menos a cigarro e mais a outra coisa qualquer? Eu uma vez perguntei à minha mulher mas ela disse-me que não tinha todas as respostas do Mundo. E só me respondeu assim porque tinha acabado de dar duas passas no Camel que lhe meti lá sem ela saber. Ainda hoje não sabe e acho que se soubesse terminava o casamento comigo imediatamente.


Outra coisa que nunca percebi foi uma descoberta que fiz sozinho. Uma vez, aquando do 34º aniversário da minha mulher, procurava oferecer-lhe uma prenda que se adequasse ao meu rendimento enquanto picheleiro trabalhador por conta própria mas que lhe proporcionasse um momento de felicidade, ainda que momentâneo. E eis que encontro numa perfumaria um perfume da Marlboro. Ainda liguei ao meu amigo Gary a perguntar-lhe se havia uma marca de perfumes com o mesmo nome da marca de tabaco, às vezes acontece. Por exemplo, havia um jogador de futebol que era o Deco e há uma instituição de defesa do consumidor que é a DECO. O Gary disse-me que neste caso era a mesma marca, o que me deixou confuso. O que raio tem a ver cigarros e perfume? Porque o fazem? Só se for para a pessoa se encher de perfume depois de fumar, que aquilo deixa um mau cheiro e até desagradável. Eu na altura não comprei esse perfume para a minha mulher por dois motivos: primeiro, descobri que era um perfume como os outros, a ser da Marlboro, pensei que fosse ser uma mistura frutada e agradável dos vossos cigarros; segundo, não havia nenhum perfume da Marlboro Light. Por isso, mesmo que fosse bom, não havia o «Light» e a minha mulher não ia gostar. Dei-lhe um da Dior ou lá o que era, foi a moça da loja que recomendou. 


A escrever não se nota, mas a ler é um inferno. Eu durante os primeiros 2/3 anos em que estive com a minha mulher, não conseguia dizer «Marlboro» sem enrolar a língua toda ou sem dizer, pelo menos uma vez, «Máboro». Depois descobri que as pessoas que trabalhavam nas tabacarias diziam todas «Márbóro» e eu também parei de dizer o «L». Mas o raio do nome é difícil de dizer. A minha mulher não, mas eu se fumasse e fosse comprar tabaco, só para não ter que dizer esse nome pedia antes Camel ou Lucky Strike. Lucky Strike é um bom nome, fica no ouvido. Sabe-se que um nome é bom quando facilmente podia passar por nome de whiskey. «Quero um LuckyStrike com duas pedras de gelo». Fica perfeito. E eles lá na Lucky Strike não têm perfumes, só tabaco. E não há «light» nos Lucky Strike. Deviam aprender qualquer coisa com a Lucky Strike. Um antigo cliente meu tinha em casa um carro de Fórmula 1 em cartão que era patrocinado pela Lucky Strike. Ouvi dizer que a Marlboro só aparece nos capacetes dos pilotos. Vêem a diferença de ser uma marca de jeito e uma marca com um nome difícil e que faz perfumes?


Para acabar, esta digo-vos a vocês mas podia dizer a todas. Porque é que fazem das pessoas burras? Aquela jogada publicitária de terem aqueles anúncios que fumar mata e que as grávidas têm filhos deficientes ou que os homens ficam impotentes, fez com que fumar passasse a ser como ir jantar a um restaurante chinês e ver o que é que saía nos bolinhos da sorte, mas ao contrário. Ninguém leva a sério esses avisos e às vezes até compram maços de tabaco só para ver se mudam as mensagens. Grande golpe publicitário. Eu se fumasse e me saísse um aviso do género «Fumar mata» eu até ia continuar a fumar só para ver se era mesmo assim ou se era embuste. E, se fosse mesmo assim, vocês já tinham lucrado comigo a comprar tabaco só para ver se vocês tinham razão ou não. E a morrer por fumar, ao menos que as pessoas me recordassem por fumar Lucky Strike e não por fumar uma marca de cigarros difícil de dizer. Já agora, é cigarro ou tabaco? E não me digam que pode-se dizer das duas formas, que aprendi nos testes com escolha múltipla que quando duas estão certas, uma está mais certa que a outra e era essa que se assinalava. 


Do vosso não-fumador mas cidadão preocupado e com algumas dúvidas que lhe alimentam o intelecto mas o impedem de dormir profundamente a não ser após ter relações sexuais desenfreadas ou a ter assistido a um documentário sobre os deuses pagãos no Canal História e esperando uma resposta breve, sincera e interessante da vossa parte,


Lucindo Sampaio de nascença, Lucindo Sampaio Bonifácio desde o feliz dia que me casei com uma ex-fumadora e que nunca amei menos do que agora, embora tivesse gostado muito que tivesse deixado de fumar.»



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