terça-feira, 27 de maio de 2014

Se soubessem como começou o meu dia iam querer saber mais


Pelo menos foi o que o Venâncio me disse hoje, quando me estava a vir embora da fábrica. Sim, é verdade, fui para lá de manhã e passados 20 minutos já estava a vir embora. Levantei-me cedo, fui apanhar o autocarro para ir para a fábrica e até estava bem disposto que tocou o telemóvel de uma senhora que ia no autocarro e o toque dela era aquela música «La Bamba». Vim a cantarolar isso o resto da viagem, até gostava que ela não tivesse atendido a chamada e tivesse deixado o telemóvel sempre a tocar para ouvir a música mais tempo. Mas depois cheguei à fábrica, cumprimentei o Venâncio e perguntei-lhe como estava a situação geo-política no Uzbequistão, que ele é uma pessoa informada, e ele disse-me que não me esperava ver na fábrica hoje. Por momentos fiquei aterrorizado com a ideia do Venâncio sofrer de amnésia e não me reconhecer ou de ter sido despedido durante a noite sem eu saber, mas depois ele é que me explicou que hoje tinha-me calhado a mim fazer banco de horas.



Achei um piadão à expressão «banco de horas». Só me imaginei a ir a um balcão do BNH, o Banco Nacional de Horas e dizer «bom dia, gostaria de fazer um depósito. São 25 horas». Perguntei ao Venâncio o que era um banco de horas e ele disse-me que era algo que permitia às pessoas ter uma folga a meio da semana. Perguntei quem é que tinha folgado ontem por causa do banco de horas e ele disse-me que tinha sido a Lúcia. Não conheço nenhuma Lúcia, mas se o Venâncio me diz que foi uma Lúcia a ter folga ontem, eu acredito. Quer dizer, por acaso até conheço uma Lúcia mas é de nome: a Lúcia Piloto. Se há apelido que eu não gostava de ter era «Piloto». Imagino-me a dizer às pessoas «chamo-me Jorge Abel Remoinhos Piloto» e as pessoas dizerem «aaaaah! é piloto!» e eu ter que dizer «não sou nada, quer dizer sou só de nome» e ver a desilusão estampada na cara das pessoas. É que eu também nunca conheci um piloto e até me sentia entusiasmado se aparecesse alguém que poderia ser um piloto e depois desiludia-me se ele não fosse. 



Falei um bocado com o Venâncio, cumprimentei o Sebastião e decidi ir comer um bolo à cantina. Estava a pensar numa nata, que a nata é o único bolo que podemos comer de manhã sem sermos considerados gordos ou que temos uma alimentação descuidada. A Xana não estava na cantina, quem me serviu foi o Sr. André, que por acaso também veio jogar connosco ontem porque faltava um e então o Lino convidou-o. O Sr. André parecia uma pessoa simpática mas detestei jogar contra ele. Fez-me para aí 30 faltas durante o jogo todo mas só uma é que foi marcada. Sempre que ia disputar a bola com alguém dava chutos nas canelas e joelhadas na coxa. E ainda por cima no fim pediu-me um bocado de champô emprestado e usou duas vezes porque disse que o meu champô era fixe. E o pior é que falou comigo de manhã como se fosse um cliente normal e desconhecido e não como alguém que tinha ido jogar futebol com ele no dia anterior e que lhe tinha emprestado champô! O meu tio sempre me disse que melhor que ter um amigo é ter um inimigo e que é mais difícil fazer um inimigo a sério que um amigo a sério. Hoje vi como ele tinha razão: foi fácil ser amigo do Gary, do Sebastião ou do Tolentino mas só depois desses todos é que arranjei um inimigo: o Sr. André do bar. 



À custa desta rivalidade e inimizade que fiz logo de manhã até me soube mal a nata. Mais valia ter pedido um jesuíta, que é bolo sem creme e era impossível o folhado saber-me mal. Só se fosse a parte de cima a saber-me mal. O Venâncio sempre me disse que um livro não se julga pela capa, que nem tudo o que reluz é ouro e que as aparências iludem. Do mesmo modo, um bolo também não se deve julgar pela cobertura e por isso é que as pessoas que gostam de jesuítas a sério gostam é do folhado por baixo da cobertura, enquanto eu que não gosto de jesuítas, quando como, só vale a pena pela cobertura. Não sei porque estou agora a falar de jesuítas quando devia era estar a falar do meu inimigo mortal. Quando vinha embora, passei pelo Venâncio e perguntei-lhe o que é que ele achava do Sr. André do bar. O Venâncio disse-me que não tinha opinião concreta porque por um lado achava-o bom moço, mas por outro, uma vez deu-lhe boleia até à fábrica e ele deixou o vidro do passageiro aberto até baixo. Ao saírem, o Venâncio perguntou-lhe se ele tinha fechado o vidro e ele disse que sim. Depois o Venâncio foi lá ver, passado uma hora e tal, e estava o vidro todo aberto. 



A viagem de volta não teve nada a ver com a viagem de ida. Estava a pensar em como derrotar o meu inimigo mortal. Mandei mensagem ao Gary a dizer que tinha feito um inimigo e a dizer que era o Sr. André do bar. O Gary respondeu-me a dizer que ninguém chama «Sr.» a um inimigo e que «André» não é nome de inimigo. Nome de inimigo era «Mário» ou «Navalhas». Depois disse-lhe que hoje estava de folga e perguntei-lhe o que é que ele ia fazer de tarde mas ele não me respondeu mais. Desta vez, no autocarro, não veio ninguém com um toque no telemóvel de jeito. Pelo contrário, até veio uma senhora que o toque dela era um bebé a chorar e ela não atendeu porque estava a fazer palavras cruzadas. Se há coisa que eu não conseguia fazer num autocarro era palavras cruzadas. Também não conseguia falar com o Sr. André do bar num autocarro. Mas isso é porque ele é o meu inimigo. Podia esquecer isso, mas aproveitei a manhã em casa para pôr gelo na perna por causa das cacetadas que ele me deu ontem durante o jogo todo, antes de me roubar o champô. 







P.S.: Enquanto estava a pôr gelo nas pernas por causa do meu inimigo mortal, mandei mensagem à Xana a perguntar-lhe se estava tudo bem. Ela respondeu-me «Tá» por isso fiquei mais descansado. O Sr. André do bar podia ter tentado fazer-lhe mal em nome da nossa rivalidade e inimizade. Depois lembrei-me e mandei mensagem à Vera da Contabilidade. Já que ela é desse departamento e faz contas e percebe de números perguntei-lhe se me podia explicar o que era um banco de horas. A Vera da Contabilidade respondeu passados 2 minutos a dizer que me podia explicar isso e mais coisas que eu não percebesse no café, logo à noite. Por mim tudo bem, mas vou ter que esperar ainda mais horas para perceber uma coisa que me impediu de ir trabalhar hoje.


quinta-feira, 22 de maio de 2014

As moças deviam ter um empresário


A Paulinha leu o meu último texto aqui, aquele dos psicólogos e barbeiros e ficou dividida. Por um lado, disse que eu tinha mesmo razão, por outro disse que eu não tinha nada que dizer às pessoas que ela já tinha ido a uma psicóloga. Eu ainda a tentei chamar à razão e dizer-lhe que ninguém vem aqui ao blog ou que nem sequer tinha dito o que ela tinha ido lá fazer, até podia só ter ido fazer aqueles testes que dizem que profissão é que devemos seguir. Mas ela continuou chateada, o que prova bem que tinha razão quando dizia que as pessoas tinham vergonha de dizer que tinham ido ao psicólogo, mas diziam com orgulho que tinham ido ao barbeiro. Ficou tão chateada, que passadas para aí 3 semanas voltei a lanchar em casa. Descobri que ainda tinha lá um pacote de bolachas que comprei para o meu lanche há 3 semanas atrás mas que nunca cheguei a comer porque fui com o Tolentino a uma convenção no COJDIV sobre o impacto que os rituais de acasalamento dos arenques tem nas correntes marítimas e lanchei numa confeitaria lá perto.



Por falar no Tolentino ele vai fazer a festa de anos dele no sábado e convidou-me. Também convidou o Lucindo, o que é bom, e o Jorge Abel, o que não é assim muito bom. E antes que me julguem e digam que eu estou sempre a criticá-lo, eu vou dizer o porquê da minha afirmação: o Tolentino convidou-me a mim (que tenho a Paulinha) e ao Lucindo (que é casado) e nenhum de nós perguntou se podíamos levar as nossas parceiras mas o Jorge Abel perguntou logo se podia convidar o Sebastião e o Venâncio. O Venâncio tudo bem que é um moço fixe apesar de ser segurança, mas o Sebastião é estranho. Na última vez que estive com ele disse-me que uma das músicas que mais gostava era uma do «Ricky». Perguntei-lhe se não era esquisito um moço heterossexual gostar do Ricky Martin e ele disse-me que não estava a falar desse panasca, mas do Enrique Iglesias, só que o tratava por «Ricky» carinhosamente......



Por tudo isto, que pouco ou nada tem a ver com o título, e porque já estou no terceiro parágrafo, vou explicar o que me levou a pensar neste tema. A Paulinha ainda está chateada por ter dito que ela já tinha ido a uma psicóloga (embora não tenha especificado o problema, que nem eu sei ao certo o que é) e, por isso, lembrei-me como ia ser muito melhor para nós, moços heterossexuais e que não chamem «Ricky» ao Enrique Iglesias, se as moças tivessem um empresário, como os jogadores de futebol. Ora vejam lá:



  • Em casos de dúvida ou se fosse só preciso confirmar, o empresário comunicava a disponibilidade da moça em causa e ainda anunciava o perfil desejado para um potencial candidato caso houvesse disponibilidade por parte da agenciada;

  • No caso de haver interesse e disponibilidade mútua, negociava-se directamente com o empresário, sem mais intermediários e sem se estar sujeito às flutuações de humor e ao aparecimento súbito de outros interessados;

  • No caso de insucesso numa relação ou falhanços consecutivos, o empresário procurava as melhores soluções para as moças, explorava novas possibilidades e entrava em conversações no sentido de estabelecer parcerias com outros empresários com o intuito de procurar ex-companheiros de outras moças que poderiam ser boas possibilidades para as suas agenciadas;

  • No mundo dos relacionamentos entrava na moda os períodos experimentais. Assim, obtinha-se o regime de exclusividade por um determinado período de tempo previamente acordado entre as partes, mas sem o carácter de comprometimento a longo prazo sem antes haver uma reunião nesse sentido;

  • Se moços com mais posses nos roubassem a namorada tinham de pagar uma cláusula de rescisão previamente acordada. Além disso, essas negociações iam ser conduzidas pelo empresário, logo seria uma situação de ganho duplo: 1) não tínhamos de estar cara a cara com a moça que nos tinha oferecido um par de cornos e 2) ainda íamos ser recompensados;

  • De igual modo, rescisões unilaterais da relação sem causa justa e sem haver acordo entre as partes ou sem se informar de forma atempada dava direito a reembolso ou a outra solução proposta pelo empresário e que fosse do agrado da outra parte;

  • Passava a haver a possibilidade de experimentar com mais facilidade mercados estrangeiros devido a jogadas de empresário, que queriam colocar os seus activos em Portugal ou a protocolos estabelecidos entre empresários nacionais e internacionais;

  • Discutiam-se os termos da relação directamente com o empresário, numa conversa informal e sem dramas onde se podiam apontar as falhas da outra parte sem que esta se sentisse ofendida e tentada a terminar a relação. Até podia ser ao jantar, num restaurante em condições, que era o empresário que pagava;

  • Se moças anteriormente inacessíveis trocassem de empresário podíamos ter mais hipóteses de sucesso ou por termos uma hipótese de convencer o novo empresário, ou por nos darmos bem com o novo empresário ou então por essa moça já não ter um empresário que nos tivesse riscado definitivamente da lista de hipóteses;

  • Para terminar, eventuais negociações em curso, mudanças de estados civis ou notícias relevantes (por exemplo, gravidezes) eram comunicados a uma entidade reguladora de forma a não haver surpresas e a estar tudo devidamente informado. 




Claro que este último ponto é o mais polémico de todos, tendo em conta que ia retirar muita margem de manobra ao Facebook e aquilo que se partilha. Se bem que, um empresário em condições não ia descartar o papel activo que as redes sociais poderiam ter para uma moça. Assim, os perfis pessoais iam ser substituídos por páginas de 'Gosto' onde o empresário das moças, que geria a página como se fosse a própria moça a responder, publicava informações, fotografias e vídeos, respondia aos comentários dos fãs (mas só a alguns, não se pode ser igual para todos senão ninguém se queixava e as viagens nos transportes públicos deixavam de ter 95% da piada) e ainda dava esperanças aqueles que pensam que é através de comentários nas fotos ou a mensagens privadas pelo Facebook que conseguem alguma coisa. 








P.S.: Eventualmente sei que a Paulinha vai ler isto e vai continuar chateada comigo, não só pelo tema do texto em si mas por eu dizer para aí 4 vezes que ela foi a uma psicóloga. Quem não leu o outro e não soubesse já soube por este. Mas não tenho culpa, tenho que explicar estas coisas às pessoas, não podia simplesmente chegar ao outro texto e apagar aquilo, como se nunca tivesse dito tal coisa. Realmente, agora que penso nisso podia ter feito isso. Mas adiante, a Paulinha não vai gostar, uma ou outra moça que venha aqui ler isto também me vai acusar de ter escrito um texto sexista e discriminatório. Porém, se alguma moça, menos emocional e que já tenha tido a menstruação há pelo menos 10 dias e que, por isso, pense com clareza, estiver interessada em ser pioneira e em tornar-me o seu empresário, que deixe o número ali nos comentários e eu entro em contacto. Tenho disponibilidade imediata e tenho chamadas grátis para 91. 


segunda-feira, 19 de maio de 2014

A semelhança entre psicólogos e barbeiros


O Mundo é um lugar cheio de coincidências. Eu já sabia disto e de certeza que vocês todos também já sabiam, não tinha como intuito ensinar isto a ninguém. Aliás, se não se soubesse isto não havia tantas religiões, tantos leitores de cartas de tarot nem tantas videntes nesse mundo. E de pensar que há 400 anos queimavam-se videntes e bruxas nas fogueiras à frente de toda a gente e hoje em dia até têm direito a pôr artigos nos jornais ou a terem uma barraquinha nas feiras populares. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, não é só um provérbio daqueles para enganar as pessoas como a do grão a grão enche a galinha o papo ou aquele de em terra de cegos quem tem olho é rei. Até gostava de ir comer a um restaurante numa terra de cegos, eles nem sabiam o que é que me estavam a cozinhar, eu pedia pargo assado e vinha para a minha mesa uma dose de lombo assado. Desde que fosse bem servido não me queixava, quem comesse o pargo em vez do lombo é que podia ficar um bocado desconsolado.



Mas adiante, que o título não tem nada a ver com provérbios nem com doses de lombo assado. Eu comecei pelas coincidências com um propósito e não por ser uma coincidência. Agora que leio esta última frase parece-me brilhante e confusa ao mesmo tempo, digna de um escritor ou de um poeta, por isso vou deixar estar. Sim, vou deixar estar, já não sou obrigado a deixar que já tenho uma forma de apagar as coisas que escrevo mesmo tendo o 'Delete' estragado. No outro dia ia na rua e veio um moço ter comigo perguntar-me se eu já tinha sido defesa direito do Valladolid. Disse-lhe que não e o moço disse-me que se eu não tinha sido defesa direito do Valladolid só podia ser o barbeiro dele. Disse-lhe que me estava a confundir, que eu quando jogo futebol jogo sempre a médio centro e de barbeiro só sei cortar a barba e mal, que me corto sempre. Ele foi insistente, por momentos até me fez duvidar se eu alguma vez tinha jogado no Valladolid. Mas não, nunca joguei. Nem nunca fui barbeiro, mas disso nunca duvidei.



Por isso, vinha a pensar nessa conversa do barbeiro quando cheguei a casa da Paulinha para lanchar e ela me disse que tinha encontrado a antiga psicóloga dela no supermercado. Eu ao início não liguei, porque ainda estava muito centrado no tema do barbeiro e de eu ter jogado ou não no Valladolid, mas depois lá prestei atenção aquilo do psicólogo e descobri que os psicólogos e os barbeiros têm muito em comum. Ora vejam lá o quê:



  • Saímos da barbearia e do consultório sempre cheios de confiança e a sentir-nos mais bonitos (um pelo interior, outro pelo exterior) mas passado uns tempos já estamos outra vez como éramos e a precisar de voltar lá;

  • Somos nós que conversamos mais tempo e temos a sensação que somos nós que estamos a conduzir a conversa, apesar de não ser bem assim. Por vezes, também se invertem os planos e é o barbeiro ou o psicólogo que fala mais que nós, mas são sempre situações pontuais;

  • Em ambos os casos, nós somos «os clientes», apesar de por vezes confundirmos a relação que temos com o nosso barbeiro e/ou psicólogo como se fosse uma relação de amizade;

  • Falamos bem aos nossos amigos e familiares do nosso psicólogo e barbeiro e aconselhamos essas pessoas a irem experimentar, que lhes faria bem. Eventualmente, alguns desses vão experimentar o nosso barbeiro e/ou o psicólogo por causa da sugestão que demos;

  • Conhecemos sempre alguém que vai ao mesmo sítio que nós apesar de nunca o termos encontrado lá;

  • Há uns mais caros que outros mas não significa necessariamente que tenham mais qualidade. Por falar em preços, o facto de envolver dinheiro faz com que algumas pessoas digam que ir ao barbeiro/psicólogo é um luxo e um gasto desnecessário. No entanto, para nós não deixa de ser algo essencial;

  • O trabalho dos psicólogos é confundido com o dos psiquiatras tal como o trabalho dos barbeiros é confundido com o dos cabeleireiros;

  • As pessoas têm estereótipos e ideias pré-concebidas sobre ambos os profissionais;

  • Não há filmes pornográficos que envolva nenhuma das profissões. Nesse aspecto, os produtores desses filmes focam-se muito nos professores, médicos, polícias e enfermeiras;

  • A maioria dos clientes são adultos, ainda que também se atendam crianças. No entanto, enquanto os adultos vão por livre e espontânea vontade, as crianças que vão é por imposição dos pais;

  • Algum tempo depois de seres um cliente habitual e regular, o teu barbeiro e/ou psicólogo conhece-te melhor que muita gente e até fala de ti e faz análises sobre ti em conversa com outras pessoas.




Depois das semelhanças, decidi acabar o texto com as diferenças que me lembrei. Podia também ter terminado com mais uma reflexão sobre o facto de me terem confundido com um barbeiro e podia partilhar convosco que uma vez confundiram o Tolentino com um presidente da Câmara que estava em campanha e foram-lhe dizer que iam votar nele. Obviamente que ele não ficou nada contente, porque ele detesta que as pessoas violem o secretismo do voto. Mas adiante com as diferenças entre os psicólogos e os barbeiros: 1) a profissão de barbeiro não está mais associado a moças e a homossexuais, pelo contrário, ser barbeiro ou ir ao barbeiro é uma afirmação inquestionável da heterossexualidade e da virilidade de um moço; 2) não tens vergonha se os teus amigos te virem a sair do barbeiro, mas demoras um tempo até estares à vontade com o facto de ires a um psicólogo; 3) ninguém pensa que está alguma coisa mal contigo se te vir a entrar ou a sair de uma barbearia ou se te ouvir dizer que vais ao barbeiro; 4) a Paulinha nunca foi a um barbeiro mas já foi ao psicólogo, aparentemente.






P.S.: Por falar em confundirem-me com outra pessoa, tenho saudades daquela ex-namorada (????) do Jorge Abel que lhe perguntou se escrevia aqui num blog um pinguim e depois disse que era um nome todo esquisito tipo Mike Albatroz. Se um dia não soubessem o meu nome e eu desse três tentativas para o adivinharem, adorava que dissessem Vítor Pargo em primeiro lugar, Mike Albatroz em segundo e Artur Albarran em terceiro lugar. Adoro a sonoridade do nome Artur Albarran. Pena que nunca mais tenha feito programas de televisão e que tenha ficado conhecido por bater na mulher, quando era muito mais meritório ter ficado conhecido por bater num primo ou num tio. 


terça-feira, 13 de maio de 2014

Ontem voltei a ir trabalhar e foi dos dias mais felizes da minha vida


Nem dormi bem de domingo para segunda a pensar em como seria voltar a ir trabalhar. Tinha saudades da rotina de acordar de manhã, tomar o pequeno-almoço, apanhar o autocarro, falar com o Venâncio logo de manhã, almoçar com o Sebastião e ir jogar com o Lino e o outro pessoal todo depois de um dia de trabalho. Escolhi logo o melhor dia para voltar a ir trabalhar depois das férias, que se tivesse voltado de férias a uma terça-feira não ia jogar à noite e não era a mesma coisa. Eu sentia-me como se tivesse no dia mais feliz da minha vida, mas depois o Venâncio aconselhou-me a nunca dizer que um dia é «o melhor da minha vida» porque depois eventualmente outro dia passa a ser o melhor e tenho de substituir. Assim, se disser sempre que é «um dos dias mais felizes da minha vida» não preciso de substituir e ninguém pergunta qual é a posição desse dia no top dos dias mais felizes. Só o Gary me faria uma pergunta dessas mas ele não quer saber da minha vida a esse ponto.



Quando perguntei ao Venâncio se tinha havido novidades na fábrica enquanto eu estive de férias ele disse-me que estava tudo igual e que a única coisa que tinha mudado é que ele tinha conseguido subir a percentagem de vitórias dele no Freecell de 73% para 76%. Perguntei-lhe se mais alguém tinha ido de férias ou só eu é que tinha ido mas o Venâncio disse-me que toda a gente está a guardar as férias para Julho e para Agosto quando estiver calor. Para mim, isso foi uma grande notícia. Significa que vai tudo de férias em Julho e em Agosto, que é quando vai estar mais calor e assim além de eu estar protegido do calor na fábrica, que tem um ar condicionado fresco, estou mais à vontade porque vai estar menos gente a almoçar e, por isso, menos confusão e menos calor. O Venâncio disse-me que ia tirar as férias dele em Setembro, que também está calor, está menos gente na praia, as crianças já voltaram às aulas e os turistas já voltaram para os países deles e o Venâncio diz sempre que quem tira férias por último, faz melhor.  



Nem o facto de saber que violei o provérbio do Venâncio me estragou o meu primeiro dia na fábrica depois das férias. Enquanto estava a trabalhar, o Sebastião veio ao meu departamento para me cumprimentar. Eu tinha estado com ele no sábado, mas ele disse-me que era diferente estar comigo enquanto amigo e enquanto colega de trabalho e que um dia podíamos deixar de ser amigos mas nunca poderíamos negar que tínhamos sido colegas de trabalho. Eu tive saudades de trabalhar e de falar com o Sebastião na fábrica mas não lhe disse isso, que o meu tio sempre me disse para desconfiar sempre de moços que diziam a outros moços que tinham saudades deles. Uma vez perguntei ao meu tio se ele tinha saudades de alguma coisa e ele disse-me que só tinha saudades do dinheiro que tinha gasto e de comer marisco, que já não comia para aí há 3 meses. Perguntei-lhe porque não ia comer marisco já que tínhamos uma marisqueira perto de casa. O meu tio disse-me que entre ter saudades de comer marisco e entre ter saudades do dinheiro que ia gastar para comer marisco, preferia ter saudades de comer marisco. 



Outra coisa que sentia falta era dos almoços da Xana da cantina. A minha mãe cozinha bem mas só cozinha para o meu irmão e para o meu pai. Diz sempre que se esquece de fazer para mim e então eu acabava por comer sempre cereais ou massa com atum que só podia fazer depois da minha mãe sair da cozinha, para aí às 14:30. Por isso, foi com bastante agrado que voltei a comer ao meio-dia e meia (ou 12h30, como preferirem) e comida feita por outra pessoa sem ser por mim. Além disso, era comida cozinhada pela Xana da cantina, que sabe cozinhar bem. Quando estava a ser servido pela Xana disse-lhe que já tinha saudades da comida dele e ela disse-me que já tinha saudades de ser a comida de alguém. Acho que as férias me fizeram mal neste aspecto, voltei a não perceber o que a Xana me dizia. Tudo bem que durante as férias fui falando com ela por mensagem e às vezes por chamada, mas acho que ainda vou demorar uns dias até voltar a percebê-la. 



O único aspecto menos positivo do meu dia de regresso ao trabalho foi o que aconteceu com a Vera da Contabilidade. Ela na semana passada mandou-me mensagem a pedir desculpa por ter falado mal para mim. O meu tio sempre me disse que preferia estar com as moças frente a frente do que as ver na Internet. O Venâncio também me disse que o que as moças valorizam mais num moço é o contacto ocular, o sorriso e a memorização de datas importantes. Por isso, decidi não responder à mensagem da Vera da Contabilidade por telemóvel e responder-lhe pessoalmente. Quando a vi na fábrica, à hora de almoço, aproveitei que estava a almoçar sozinha para ir lá falar com ela. Agradeci-lhe a preocupação e disse-lhe que não havia problema, que todos tínhamos dias maus. Ela chamou-me «estúpido» e disse que os homens eram todos iguais. Eu não sei se isto pode ser considerado racismo ou discriminação mas acho que sim. Até porque uma vez o Lucindo disse que os pretos e os chineses lhe pareciam todos iguais uns aos outros e o Gary disse-lhe que isso era um misto de miopia e racismo. E eu concordo com o Gary porque o Denzel Washington e o Eddie Murphy são pretos e não têm nada a ver um com o outro. 






P.S.: Para terminar bem o dia fui jogar futebol com o pessoal da fábrica. Fiquei na equipa do Lino (logo não levei nenhuma carga de ombro), do Venâncio, do Sebastião, do Acácio e do Peixe-Espada. Ganhamos 5-3 e foi um bom jogo. Não sei se foi de ter estado de férias mas acabei mesmo cansado. No balneário, descobri que o Nando Farras, na sexta-feira, entornou sem querer a bebida dele toda por cima da ex-mulher do patrão e acabou na cama com ela e que quando o patrão descobrisse ainda despedia o Nando. Por isso, é melhor guardar segredo. Aliás, é melhor guardar segredos, que o Venâncio disse-me que o nome verdadeiro do «Peixe-Espada» é Mário, mas toda a gente lhe chama isso porque a mulher dele o traiu. Ele é que pensa que lhe chamam isso por ter um nariz grande.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

O moço que trabalha na CapriSonne enviou-me outra carta


Ultimamente tenho tido bastante trabalho. Por um lado é bom sinal, porque me ocupa o tempo e me ocupa espaço na carteira o dinheiro que eu recebo. Por outro lado é mau sinal, significa que as canalizações deste país estão em péssimo estado ou então que os picheleiros que para aí andam espalham má fama pela classe. Nos últimos 10 dias tive 12 trabalhos em casas de clientes e só 1 é que já era meu cliente. Os outros eram todos novos. Eu adoro trabalhar, adoro pôr gasolina, adoro a minha mulher e adoro ter relações sexuais com ela, mas também adoro expor as minhas preocupações mais prementes de cidadão comum e não tenho tido tempo para isso. Como não tenho nada escrito por mim, decidi partilhar com vocês uma carta que recebi ontem daquele moço da CapriSonne que me respondeu e que agora me voltou a escrever:




«Bom dia amigo Lucindo,

Começo esta carta dizendo-te «bom dia» porque sei que a vais ler de manhã. Se houver justiça e competência neste país a carta vai chegar a ti de manhã. Escrevo esta carta após sair de uma despedida de solteiro de um primo meu que se vai casar com uma moça chamada Marília. Que raio de nome não achas? Espero que a tua mulher não se chame Marília. Se se chamar, podes rasgar imediatamente esta carta e ainda te dou permissão para gravares a morada do remetente para me enviares cobras para o correio em forma de vingança. Cheguei a casa eram 5:20 e pensei «vou escrever ao meu amigo Lucindo que há certas questões que me inquietam». Demorei para aí 50 minutos a escrever e nem eram 6:30 quando fui pôr a carta no marco do correio. E pus em correio azul para ser mais rápido. Por isso, logo de manhã já deves receber esta carta. 





Se quiseres saber como foi a despedida de solteiro não teve muito de diferente das outras. Bebemos todos álcool de forma irresponsável e mostrando que o livre-arbítrio existe mesmo apesar do meu professor de Moral no 7º ano o ter negado mesmo quando eu fui falar com ele e lhe fui mostrar o que dizia no meu livro de Filosofia do 11º ano. Sabes que quando lhe mostrei o meu livro de Filosofia ele queimou o livro a dizer que era blasfémia e depois os meus pais é que tiveram que dar mais 5 contos por um livro novo? Para veres como o livro me saiu caro, ainda ontem eles levaram para lá uma stripper e eu pus-lhe 20€ no fio dental para ela me fazer uma lap-dance. Enquanto ela dançava em cima de mim pensei no que disseste sobre discutir a condição humana. Ali estava aquela miúda a dançar em cima de mim, sem me conhecer de lado nenhum, só porque eu lhe dei 20€. Ganhou 20€ em 5 minutos e eu que demoro a ganhar mais ou menos isso num dia em que trabalho 8 horas. Eis o que pensei sobre a condição humana: eu ganhei aquele dinheiro merecida e moralmente mas gastei-o de forma irresponsável e degradante, enquanto a gaja ganhou o dinheiro de forma irresponsável e degradante mas de certeza que o gastou em algo merecido e necessário. O mundo, de certa forma, acaba por atingir um equilíbrio, ainda que por caminhos que nós não percebemos se não pensarmos a fundo no assunto.



Por ter pensado tanto nisso nem aproveitei a lap-dance. Paguei 20€ para reflectir sobre a condição humana, o que me fez sentir melhor se tivesse estourado 20€ com uma gaja a dançar no meu colo. Depois houve mais do pessoal a fazer o mesmo, mas não sei se também pensaram na condição humana como eu ou se aproveitaram a dança. Por falar nisso, quem lá estava na despedida de solteiro era o primo do Ilídio, que é um amigo meu. O primo do Ilídio trabalha lá na fábrica e uma vez deu-me boleia depois de um jantar da empresa. O primo do Ilídio está na secção dos CapriSonnes de laranja, o que é bom sinal. A Marta foi trabalhar para a TMN por ser 96 desde 1999, o Gustavo, aquele moço que não comia carne, está de baixa e a Danielle foi para o Brasil no Carnaval e nunca mais voltou. Agora está lá o primo do Ilídio e dois brasileiros que estão sempre a falar de futebol e de gajas, por isso, são boas pessoas. Com este novo departamento de certeza que os CapriSonnes de laranja estão melhores e menos amargos. Compra um para experimentar. Se ainda forem amargos ou ainda apanhaste o stock anterior ou então eu enganei-me e podes mandar-me cobras para a caixa do correio como vingança. 




Por falar na CapriSonne, fui aumentado recentemente. O patrão disse que queria conversar comigo. Como ele já tinha assediado uma vez a Andreia, que era recepcionista, sabia que ele não me ia assediar sexualmente porque gostava de mulheres. O pior que me podia acontecer era que ele me fosse propor eu ir trabalhar para a CapriSonne de França só porque eu pus no currículo que uma vez tirei 5 a Francês no 9º ano. Eu não queria ir para França, comer croissants todos os dias e ter que dizer todos os dias que o Zidane era o meu ídolo. Mas o meu patrão só me queria dizer que como eu era produtivo e como nunca tinha metido baixa nem utilizado os serviços de saúde da empresa ia ser ligeiramente aumentado. Que merda, Lucindo, soube isto 5 dias depois de ter estourado 80€ num oftalmologista. Como agora ganho bem, até vou ver se lá a fábrica tem algum protocolo com um dermatologista só para poder dizer às pessoas que já fui a um dermatologista, que nunca fui. 



Bem, como eu não te quero chatear muito, já vou acabar. Só te quero dizer mais duas coisas. Primeiro, descobri que o fornecedor da Santal é português e o nosso é espanhol, por isso não há maneira de nos estarem a passar a perna e a beneficiar a Santal com isso. Agora, não digas é a ninguém que quem nos fornece laranjas é um agricultor espanhol e que a Santal compra laranjas portuguesas senão com isto da crise e da troika e de comprarmos o que é nosso ainda se põem a comprar Santal só porque tem laranjas portuguesas. Por outro lado, o ananás com que fazemos o «Safari Fruits» é de uma quinta portuguesa. E todos sabemos que mais nenhum sumo tem um sabor «Safari Fruits». Por falar em nomes de sumos, a segunda coisa que te queria dizer é que eles andam a experimentar outro sabor novo. Querem juntar banana, pêssego, morango e cereja e fazer um «PiñaCherry». Eu não sei como é o sabor, que ainda não me deram a provar, mas já votei contra esse nome. «PiñaCherry» parece o nome de um bar gay ou de um dançarino homossexual ou de um gelado duvidoso como o Calipo, mas com um nome pior. Eu sugeri o nome «Frutos Latinos» porque ninguém conhece e quando vissem iam comprar só para ver como era e se gostassem compravam mais e os outros sumos começavam a copiar a CapriSonne, mas ninguém me quis ouvir. 



Bem, é tudo por hoje. Depois disto tudo começo a alimentar a dúvida se esta carta vai ter o mesmo impacto para ti do que teve para mim, ao escrevê-la. Já somos amigos ou tenho de te convidar para jantar e para irmos comer um bife? É que esse é o meu critério para definir uma amizade. Um amigo para mim é aquele com quem alguma vez estive no mesmo carro, de quem tenho o número de telemóvel sem ser só para ter e com quem já comi um bife. Por isso, quando quiseres comer um bife, diz qualquer coisa e assim já podemos ser amigos. Por outro lado, se levaste a mal aquela brincadeira que eu fiz com chamares-me Guilherme ou Vanessa, eu peço desculpa. Percebo que não gostes do nome Guilherme quando toda a gente os trata por «Gui» ou, pior ainda, por «Guilhas». Por isso, se quiseres, podes-me tratar por Vanessa, que assim sei logo quem és tu, ou então por Hugo, que é um nome sem diminutivos. 




Do teu futuro e potencial amigo mas confesso admirador, e esperando que me respondas a esta carta, mesmo que seja sob a forma de vingança e a mandar-me cobras numa embalagem para a minha caixa do correio devido à morada que está no remetente,



Hugo, ex-Guilherme, ou então Vanessa, já que até que me digas o contrário vou manter o meu nome em segredo para não sofrer represálias na CapriSonne, ainda por cima agora que fui aumentado. »


terça-feira, 6 de maio de 2014

Estou de férias mas mesmo assim fui jogar com o pessoal da fábrica ontem à noite


O Gary tem razão, os meus títulos são grandes. A mim sempre me quiseram convencer que o tamanho não importa, principalmente para as moças, mas o meu tio disse-me que isso era mentira e que era conversa só para agradar aos que não conseguem atingir um tamanho satisfatório e que se querem convencer que o tamanho não importa. Eu por acaso, nessa questão do tamanho, sempre segui o critério do Sebastião: uma coisa só é grande quando chegamos ao fim e estamos cheios e só é pequena se chegamos ao fim e não estamos satisfeitos. Uso esse critério para as sandes, para as doses de panados, para a duração dos filmes e para o tamanho das mamas das moças. Nesta última parte nunca tinha pensado até o Venâncio me ter dito que depois de uma cara bonita, o que mais gostava nas moças era de um bom par de mamas.



As minhas férias não estão a ser más. Também não estão a ser boas, estão só a ser mais ou menos. Quando vejo gente que tenho adicionada no Facebook de férias têm sempre fotografias na praia, a beber bebidas exóticas, deitados numa espreguiçadeira, a visitar museus ou a fazer jantares com amigos. Ainda não fiz nada disso e por isso até apareci ontem na fábrica para ir falar com o Lino a ver se mesmo de férias podia ir jogar futebol com eles à noite. Quando o Venâncio me viu a entrar na fábrica disse-me que gostava de me deixar entrar mas sabia que eu ainda estava de férias e não estava autorizado a fazer isso. Eu disse-lhe que não ia lá para trabalhar, embora gostasse muito, mas que queria falar com o Lino para ver se podia ir jogar futebol com eles à noite. O Venâncio perguntou-me se eu não tinha o número do Lino. Eu por acaso até tenho mas é 96 e eu não queria gastar o dinheiro de uma chamada quando tenho o passe de autocarro e podia ir até à fábrica perguntar-lhe. O Venâncio disse-me que se mandarmos um toque ao Lino ele liga logo de volta mas eu não queria fazer isso, senão no jogo ainda calhava de ser da outra equipa e ele dava-me cargas de ombro nas costas para me mandar ao chão só por o ter feito perder dinheiro.



O meu tio sempre me disse que devia ser permitido no Código Penal uma pessoa poder vingar-se de outra pessoa que a fez perder dinheiro ou que lhe roubou dinheiro, por isso, o Lino, se eu fizesse isso, podia-se vingar de mim. O Venâncio deixou-me passar para ir falar com o Lino e disse-me para eu levar uma camisola escura para o jogo que assim ficava na equipa dele, que o Lino tinha dito que iam jogar brancos contra escuros. Se o Venâncio não me tivesse dito que a distinção entre brancos e escuros ia ser pela cor da camisola eu até ia pensar que o Lino era racista e gostava de jogar contra os escuros para lhes dar cacetadas e cargas de ombro. Enquanto ia a pensar nisso cruzei-me com o Sebastião que me perguntou se eu conhecia alguém bom com computadores que ele precisava de um anti-vírus novo. Eu sabia que o Lucindo era bom com canalizações e que o pai do Tolentino tinha uma papelaria mas computadores não sabia. Também não conhecia nenhum anti-vírus bom. Para os computadores, que para as pessoas conheço bons anti-vírus. Pelo menos comigo o Ben-u-ron resulta sempre.



Entretanto encontrei o Lino e ele disse-me que eu podia ir, que tenho ido sempre e que nem precisava de ir até à fábrica perguntar. Fiquei logo a pensar que devia ter confiado no Venâncio e ter mandado um toque ao Lino, ele próprio me disse que eu não precisava de ter ido lá. Agradeci e já estava a preparar para me vir embora quando passei pela Xana da cantina. Perguntou-me se eu já tinha vindo de férias e eu disse-lhe que não, que só tinha ido à fábrica falar com o Lino. Depois a Xana disse-me que já tinha saudades de me ver e que pensava em mim sempre que estava a tomar banho. Depois perguntou-me se eu gostava de fazer dela uma costeleta e comer tudo até ao osso. Olhei para o telemóvel e eram 11:20. Entre chegar e não chegar a casa a minha mãe já tinha o almoço pronto, não podia comer nada naquela altura. Disse-lhe que tinha de ficar para outro dia, que à noite só ia comer um pão com queijo e uma banana para depois ir jogar futebol com o pessoal da fábrica.



Quando me vinha embora fui sem querer contra a Vera da Contabilidade. O Venâncio sempre me disse que num encontro casual com uma moça devíamos sempre usar o humor para causar boa impressão e aligeirar o ambiente. Disse à Vera que era bom vê-la sem estar a jogar Candy Crush no telemóvel mas ela levou a mal e perguntou-me se tinha sido eu a pôr uma câmara na casa de banho das mulheres na fábrica. Eu disse-lhe que não e ela perguntou-me como é que eu sabia que ela jogava Candy Crush no telemóvel. Disse-lhe que uma vez ela se sentou à minha beira no auditório para ouvir o patrão e ela chamou-me tarado. Razão tem o Gary que me disse que usar humor com moças só resulta se for um moço bonitão ou com muito dinheiro, que aos outros todos elas nunca acham piada nenhuma. Até vim embora sem apetite, imaginem se tivesse comido a costeleta que a Xana da cantina me ofereceu, tinha logo ali uma paragem de digestão. 








P.S.: O jogo à noite correu bem. Ganhamos 6-5 e o Venâncio marcou o golo da vitória mesmo no fim. O Sebastião não foi jogar porque ia ajudar o primo dele a vender bilhetes na Queima das Fitas, que o primo dele comprou 36 bilhetes e ia tentar vendê-los todos e fazer lucro suficiente para atestar o depósito do carro. O Lino também foi da minha equipa que foi com uma t-shirt dos Slipknot, que é a banda preferida do Lino e como tocam músicas todas agressivas também só têm t-shirts pretas. No fim do jogo tomei banho mas não pensei em ninguém, ao contrário da Xana da cantina que diz que pensa em mim. Depois do banho fui ao telemóvel e tinha uma mensagem de um número 91 que eu não conhecia a dizer assim: «Desculpa ter sido agressiva contigo hoje na fábrica. Ando sob muito stress e descarreguei em ti, desculpa. Ass: Vera». O Venâncio disse-me que para ter pedido desculpa duas vezes na mesma mensagem era porque estava cheia de sentimento de culpa. E o meu tio que sempre disse que nunca desaproveitava as moças com sentimento de culpa. 


segunda-feira, 5 de maio de 2014

A semelhança entre fazer musculação e ter relações sexuais


Já sei, o título é grande, até parece um do Jorge Abel. Mas queriam o quê? Que eu dissesse alguma coisa do género «Semelhanças entre musculação e moças» para depois me virem aqui dizer que era um português demasiado sintético? Ou inventar uma metáfora do género «O Peso do Sexo» para me virem dizer que não dava para perceber nada pelo título e que até parecia um livro ou um romance e por isso desistiram de ler e nem vieram aqui ver o resto? Já agora, publicava este texto sem título, depois vocês davam um título que gostassem e eu vinha aqui dia sim, dia não mudar o título, para pôr aqueles que vocês gostavam. Depois de fazer isso, começava a ir lanchar a vossa casa todos os dias e a ver filmes do Steven Seagal no vosso sofá e começava a ter uma relação de namoro com vocês. Ao menos a Paulinha não escolhe os títulos dos meus textos, só me obrigou a conhecer os pais dela e a ir buscar o irmão dela à escola porque mais ninguém pode.



Mas adiante, que isto de eu contar a minha vida em parágrafos é para o Jorge Abel. Já falei dele duas vezes neste texto, é normal, ele está de férias e já me veio chatear. Não vos recomendo a estarem com o Jorge Abel quando ele está de férias, que ele tem mais tempo livre mas fala sempre da fábrica e dos amigos da fábrica e das moças da fábrica e do patrão da fábrica e dos almoços da fábrica e do pessoal que vai jogar futebol da fábrica e das tintas novas que eles estão a lançar na fábrica ... Até chateia. Eu anteontem até lhe disse para ele aproveitar as férias e ir para o ginásio ganhar corpo e fazer um bocado de musculação. O que me levou a pensar o que seria preciso para eu ir para um ginásio fazer musculação. Primeiro, ter um trabalho que me desse dinheiro para eu ir para a musculação. Segundo, no ginásio tinha de ter uma televisão na sala de musculação sempre num canal de desporto. Podia ser na Eurosport.



Comentei com a Paulinha que tinha pensado em como seria se eu fosse para um ginásio. Ela disse que já gostava de como eu era mas que ia adorar se eu fosse para um ginásio. O interesse dela nisso fez-me pensar na semelhança entre fazer musculação e ter relações sexuais, mas na perspectiva dos moços, que isso de namorar, ao contrário do que se diz, não ajuda a compreender melhor o ponto de vista das moças. Pelo contrário, ainda se torna mais difícil. Mas ora vejam lá a semelhança:



  • Em ambos os casos, começa-se sozinho mas acabamos por perceber que é muito melhor fazer-se com um parceiro e que nós próprios começamos a fazer melhor as coisas por as fazermos com um parceiro a ajudar;

  • No entanto, tirando raros casos, vai-se coleccionando e experimentando diferentes parceiros até se encontrar aquele que é o ideal e que está connosco mais tempo e mais vezes. Eventualmente, essa relação só vai acabar se o nosso parceiro encontrar um parceiro mais ideal para ele, se se perder o interesse ou se fizermos cagada;

  • Quando falamos com amigos sobre ambas as actividades discutimos as melhores posições, as que dão mais efeito e as melhores técnicas para se atingir o objectivo a que nos propomos;

  • Contam-se sempre histórias sobre ambos os assuntos e partilhamos com os outros. Muitas delas são verdade, algumas são claramente exageradas, para impressionar os outros, e que se estivesse lá o parceiro dizia que não tinha sido nada assim. E depois ainda há aqueles que inventam histórias que nunca aconteceram ou que ouviram ou viram outros a contá-las e contam como se fossem deles;

  • Normalmente, fala-se de musculação ou de relações sexuais com outros moços, na maior parte das vezes amigos, mas também familiares, mas eventualmente encontras uma moça que até perceba dos assuntos e com quem te sentes à vontade para falar e até gostas de ouvir a opinião dela;

  • Os teus amigos que não fazem nem uma coisa nem outra já estão fartos de te ouvir falar sobre o assunto e às vezes dizem-te que estás sempre a falar do mesmo. Em parte têm razão, mas sabemos que só reagem assim porque não fazem essa actividade;

  • Em ambas as situações, tu trabalhas por conta própria, para te agradar a ti, mas acabas por também te preocupar em agradar aos outros e descobrir o que os outros pensam do teu desempenho;

  • Por falar em outro, tentas sempre ser melhor que os outros, ter melhores desempenhos que os outros e que as opiniões sobre ti sejam sempre favoráveis e, se possível, com frases como «ele faz isto melhor que o ...»;

  • No final de ambas as situações, não há nada que te saiba melhor do que comer alguma coisa ou do que tomar um longo e revigorante banho. Depois disso, eventualmente vais dormir para retemperar as forças;

  • Quando ficas algum tempo sem fazer ambas as situações sentes saudades de o fazer. Depois, quando voltas a fazer, já não fazes o que fazias, não fazes tão bem e demoras algum tempo até voltares ao nível que tinhas atingido antes de parares. 




Pronto. É isto. Não sei mais o que dizer. Ando sem tema de conversa. Por isso é que gosto da Paulinha, que ela chega a casa do trabalho e passa-se sempre tanta coisa no trabalho dela que ela fala, fala, fala e eu finjo que ouço, finjo que ouço e ouço alguma coisinha. As relações funcionais devem ser assim. Nunca pensei que estivesse envolvido numa relação funcional mas a verdade é que estou. O segredo para uma relação funcional é fácil: deixem sempre que ela escolha o que quer lanchar, deixem-na sempre contar todos os pormenores do seu dia mesmo que não estejam a ouvir e contem alguma coisa da vossa vida pessoal para ela pensar que vos conhece bem. Depois disso é só ter um bom desempenho na parte sexual e encontrar coisas em comum que possam ver na televisão, tipo filmes ou séries. Depois não digam que nunca vos disse nada de útil.









P.S.: A relação mais funcional que eu conheço sem ser a minha é a do Lucindo e a da mulher, mas eu não queria essa relação. Primeiro, o Lucindo ficou sem apelido à custa da mulher e à custa de ter passado o casamento a comer entradas de camarão tigre que o pai da mulher dele pagou. Segundo, porque no dia em que eu tivesse que ser internado num hospital psiquiátrico não queria lá a Paulinha a ir visitar-me todos os dias, como a mulher do Lucindo fez, que nem podia fazer amigos e descobrir pessoas genuinamente capazes de virem aqui escrever no blog todos os dias. Ia passar os meus dias a ouvir a Paulinha a contar-me o dia dela mas sem poder ter relações sexuais, que os hospitais psiquiátricos não o permitem. Ia estragar-me a relação. 


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Porque é que detesto a minha família


Antes que comecem para aí a pensar que eu estou deprimido e que me vou suicidar mal acabe de escrever este texto/esta carta de despedida, quero deixar três coisas bem claras: 1) eu detesto algumas coisas e pessoas na minha família que vou explorar neste texto; 2) não detesto a minha família toda, não é isso que está no título. Se detestasse a minha família toda punha isso no título e começava a pensar em sair de casa; 3) o Gary tem razão, as pessoas gostam de títulos bombásticos e foi isso que eu fiz, para chamar a atenção. Julguem-me, que julgamentos civis são perigosos é no Afeganistão e no Irão que eles atiram pedras às moças que cometem adultério. Agora, vejam lá os meus motivos para detestar parte da minha família:




  • Detesto ter dois tios-avôs. Quando as pessoas começam a ganhar consciência desejam ter um irmão ou uma irmã, gostavam de um dia serem pais e até avôs. Mas ninguém deseja ser tio-avô, ninguém faz disso objectivo de vida. Mas esse título simplesmente existe. Confesso que se um dia for tio-avô de alguém não sei como vou agir, porque também não sei como tratar os meus tios-avôs. Ser tio-avô é um híbrido entre ser um tio e ser um avô. O pior é que há títulos para tudo nas relações familiares: mãe, pai, avô, avó, tio, tia, primo, prima, sogra, nora, genro, enteado, TUDO COM UMA SÍLABA. Menos «tio-avô»;

  • Para mim, os primos acabam naqueles a que se convencionou chamar de «primeiro grau». Que merda é essa agora de se darem graus aos primos? Parecem adjectivos, com graus. Mas nos adjectivos ainda faz sentido, que se usam os graus para comparar, para superiorizar ou só na forma normal. Agora, um primo em segundo grau é igual a um em primeiro grau, só muda a relação familiar. Para isso não era primo! Era a mesma coisa que nunca mais se dizer «sogra» e passar a ser «mãe em segundo grau». É que à custa disso dos graus às vezes é cada complicação que passados 10 anos ainda descubro que namorei com uma prima minha em 27º grau e não sabia;

  • Os grunhos vieram minar as relações entre os irmãos. O meu irmão tem 13 anos, está naquela fase em que acha que a virilidade de um moço se mede por quem mija mais longe e começa agora a perceber que as moças não são nojentas apesar de não saberem jogar bem futebol. O problema é que o meu irmão chama «manos» aos amigos dele e a mim também me chama isso. Ou seja, sou constantemente colocado no mesmo plano que os amigos dele de 13 anos. Tudo bem, a minha ex-namorada dizia que eu era imaturo, mas não sou assim tanto. Por isso, detesto que o meu irmão me chame o mesmo que chama aos amigos, como se eu fosse um deles;

  • Tenho uma tia chamada Evelina que é daquelas tias que toda a gente tem. E eu detesto-a por isso. Como raio vou poder falar bem da minha tia e dizer às pessoas o que ela faz por mim e me dá se toda a gente tem uma tia assim? Recebe-se algum livro quando se chega a uma certa idade e não se pode ser mais mãe e se fica para sempre tia? Eu adorava a minha tia Evelina, até ter falado com mais gente que tinha uma tia que fazia exactamente as mesmas coisas e agia de uma forma igualzinha à da minha tia Evelina comigo, a dar-me prendas fixes, dinheiro, a fazer-me sobremesas sempre que eu ia lá lanchar e a emprestar-me o carro. Que merda de família que nem uma tia original tenho;

  • Outra coisa que detesto na minha família é o facto dos meus pais não me pressionarem nem me encostarem à parede em determinados assuntos. O Túlio, que era da minha turma no secundário, uma vez apanhou uma coça do pai e passou 2 semanas de castigo porque os pais apanharam um maço de tabaco no quarto dele. Mas quando fui eu não. A minha mãe contou ao meu pai e ele veio falar comigo a dizer-me que o Português Suave era um tabaco muito forte e que se eu gostasse de fumar devia experimentar Marlboro ou Lucky Strike. Para verem como os meus pais são, eu não fui para a faculdade por causa deles. Na altura em que acabei o 12º ano, eles disseram-me para eu escolher com calma o que quisesse, quando eu estava à espera que eles me impusessem um curso. E agora, por causa disso, ando para aqui desempregado;

  • Uma das coisas que eu mais detesto na minha família é o facto dos meus avós não me ensinarem expressões populares nem insultos fixes que se utilizassem no tempo deles nem de darem calinadas que eu me possa rir quando estou sozinho. A minha avó nunca fala dela, só me pergunta o que quero comer e faz-me perguntas sobre a minha vida. O meu avô só me dá conselhos úteis e profundos, que fazem reflectir. Pior que isso, é que o meu avô tem um Mercedes e está sempre a dizer-me para eu ficar com ele, já que ele praticamente não pega no carro. Quer dizer, toda a gente aí com carros dos avós que são latas-velhas que se passarem dos 70 km/h é um milagre e eu com um Mercedes; 

  • Para terminar, detesto o meu primo. Se algum de vocês, a este ponto, estiver a perguntar «que grau?» então eu recomendo-vos a lerem o meu segundo ponto com mais atenção e só depois a voltarem aqui. Se estão para aí a ler textos sem lhes tomar atenção não sei o que vieram cá fazer. A mim não me vieram fazer favor nenhum, que eu não ganho à comissão por cada visualização do meu texto. Mas pronto, detesto o meu primo que ele já teve uma namorada que era modelo e depois de acabar com ela, pouco tempo depois, começou a namorar com uma moça que estudava com ele e agora são os dois médicos. Tanta gente a comprar e a consumir drogas com os primos e eu com um primo médico.





Como vêem, apesar de não detestar a minha família toda nem ser tão mau como o título bombástico anunciava, não me faltam motivos para detestar a minha família. Diz-se que se escolhem os amigos, que se escolhe o clube de futebol, escolhe-se o partido político, escolhe-se o emprego que se tem, escolhe-se o barbeiro e o mecânico, mas não se escolhe a família. Isso não é bem verdade. Se eu escolhesse o emprego que queria neste momento estava a trabalhar numa papelaria, das 8h da manhã às 16h da tarde, lia os jornais todos os dias, andava sempre a par das notícias e ainda falava com moças que lá iam carregar o telemóvel na pay-shop. Se elas fossem simpáticas, escrevia o número delas num papel e depois mandava uma mensagem. Se elas fossem antipáticas, ligava-lhes todos os dias, durante uma semana, às 8h da manhã em privado a ver se elas aprendiam.






P.S.: Não quis dizer no texto senão destoava, mas o único bom motivo do meu primo ser médico é que uma vez faltei à escola durante 3 dias porque fiz uma maratona de 72 horas com o Gary a jogar todos os Crash Bandicoots e ele passou-me um atestado médico a dizer que tive uma gastroentrite. Nunca tive uma gastroentrite, mas no dia em que tiver uma vou acusar o meu primo de me ter amaldiçoado com isso no dia em que mentiu à minha Directora de Turma por mim.