O Mundo é um lugar cheio de coincidências. Eu já sabia disto e de certeza que vocês todos também já sabiam, não tinha como intuito ensinar isto a ninguém. Aliás, se não se soubesse isto não havia tantas religiões, tantos leitores de cartas de tarot nem tantas videntes nesse mundo. E de pensar que há 400 anos queimavam-se videntes e bruxas nas fogueiras à frente de toda a gente e hoje em dia até têm direito a pôr artigos nos jornais ou a terem uma barraquinha nas feiras populares. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, não é só um provérbio daqueles para enganar as pessoas como a do grão a grão enche a galinha o papo ou aquele de em terra de cegos quem tem olho é rei. Até gostava de ir comer a um restaurante numa terra de cegos, eles nem sabiam o que é que me estavam a cozinhar, eu pedia pargo assado e vinha para a minha mesa uma dose de lombo assado. Desde que fosse bem servido não me queixava, quem comesse o pargo em vez do lombo é que podia ficar um bocado desconsolado.
Mas adiante, que o título não tem nada a ver com provérbios nem com doses de lombo assado. Eu comecei pelas coincidências com um propósito e não por ser uma coincidência. Agora que leio esta última frase parece-me brilhante e confusa ao mesmo tempo, digna de um escritor ou de um poeta, por isso vou deixar estar. Sim, vou deixar estar, já não sou obrigado a deixar que já tenho uma forma de apagar as coisas que escrevo mesmo tendo o 'Delete' estragado. No outro dia ia na rua e veio um moço ter comigo perguntar-me se eu já tinha sido defesa direito do Valladolid. Disse-lhe que não e o moço disse-me que se eu não tinha sido defesa direito do Valladolid só podia ser o barbeiro dele. Disse-lhe que me estava a confundir, que eu quando jogo futebol jogo sempre a médio centro e de barbeiro só sei cortar a barba e mal, que me corto sempre. Ele foi insistente, por momentos até me fez duvidar se eu alguma vez tinha jogado no Valladolid. Mas não, nunca joguei. Nem nunca fui barbeiro, mas disso nunca duvidei.
Por isso, vinha a pensar nessa conversa do barbeiro quando cheguei a casa da Paulinha para lanchar e ela me disse que tinha encontrado a antiga psicóloga dela no supermercado. Eu ao início não liguei, porque ainda estava muito centrado no tema do barbeiro e de eu ter jogado ou não no Valladolid, mas depois lá prestei atenção aquilo do psicólogo e descobri que os psicólogos e os barbeiros têm muito em comum. Ora vejam lá o quê:
- Saímos da barbearia e do consultório sempre cheios de confiança e a sentir-nos mais bonitos (um pelo interior, outro pelo exterior) mas passado uns tempos já estamos outra vez como éramos e a precisar de voltar lá;
- Somos nós que conversamos mais tempo e temos a sensação que somos nós que estamos a conduzir a conversa, apesar de não ser bem assim. Por vezes, também se invertem os planos e é o barbeiro ou o psicólogo que fala mais que nós, mas são sempre situações pontuais;
- Em ambos os casos, nós somos «os clientes», apesar de por vezes confundirmos a relação que temos com o nosso barbeiro e/ou psicólogo como se fosse uma relação de amizade;
- Falamos bem aos nossos amigos e familiares do nosso psicólogo e barbeiro e aconselhamos essas pessoas a irem experimentar, que lhes faria bem. Eventualmente, alguns desses vão experimentar o nosso barbeiro e/ou o psicólogo por causa da sugestão que demos;
- Conhecemos sempre alguém que vai ao mesmo sítio que nós apesar de nunca o termos encontrado lá;
- Há uns mais caros que outros mas não significa necessariamente que tenham mais qualidade. Por falar em preços, o facto de envolver dinheiro faz com que algumas pessoas digam que ir ao barbeiro/psicólogo é um luxo e um gasto desnecessário. No entanto, para nós não deixa de ser algo essencial;
- O trabalho dos psicólogos é confundido com o dos psiquiatras tal como o trabalho dos barbeiros é confundido com o dos cabeleireiros;
- As pessoas têm estereótipos e ideias pré-concebidas sobre ambos os profissionais;
- Não há filmes pornográficos que envolva nenhuma das profissões. Nesse aspecto, os produtores desses filmes focam-se muito nos professores, médicos, polícias e enfermeiras;
- A maioria dos clientes são adultos, ainda que também se atendam crianças. No entanto, enquanto os adultos vão por livre e espontânea vontade, as crianças que vão é por imposição dos pais;
- Algum tempo depois de seres um cliente habitual e regular, o teu barbeiro e/ou psicólogo conhece-te melhor que muita gente e até fala de ti e faz análises sobre ti em conversa com outras pessoas.
Depois das semelhanças, decidi acabar o texto com as diferenças que me lembrei. Podia também ter terminado com mais uma reflexão sobre o facto de me terem confundido com um barbeiro e podia partilhar convosco que uma vez confundiram o Tolentino com um presidente da Câmara que estava em campanha e foram-lhe dizer que iam votar nele. Obviamente que ele não ficou nada contente, porque ele detesta que as pessoas violem o secretismo do voto. Mas adiante com as diferenças entre os psicólogos e os barbeiros: 1) a profissão de barbeiro não está mais associado a moças e a homossexuais, pelo contrário, ser barbeiro ou ir ao barbeiro é uma afirmação inquestionável da heterossexualidade e da virilidade de um moço; 2) não tens vergonha se os teus amigos te virem a sair do barbeiro, mas demoras um tempo até estares à vontade com o facto de ires a um psicólogo; 3) ninguém pensa que está alguma coisa mal contigo se te vir a entrar ou a sair de uma barbearia ou se te ouvir dizer que vais ao barbeiro; 4) a Paulinha nunca foi a um barbeiro mas já foi ao psicólogo, aparentemente.
P.S.: Por falar em confundirem-me com outra pessoa, tenho saudades daquela ex-namorada (????) do Jorge Abel que lhe perguntou se escrevia aqui num blog um pinguim e depois disse que era um nome todo esquisito tipo Mike Albatroz. Se um dia não soubessem o meu nome e eu desse três tentativas para o adivinharem, adorava que dissessem Vítor Pargo em primeiro lugar, Mike Albatroz em segundo e Artur Albarran em terceiro lugar. Adoro a sonoridade do nome Artur Albarran. Pena que nunca mais tenha feito programas de televisão e que tenha ficado conhecido por bater na mulher, quando era muito mais meritório ter ficado conhecido por bater num primo ou num tio.
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