quinta-feira, 1 de maio de 2014

Porque é que detesto a minha família


Antes que comecem para aí a pensar que eu estou deprimido e que me vou suicidar mal acabe de escrever este texto/esta carta de despedida, quero deixar três coisas bem claras: 1) eu detesto algumas coisas e pessoas na minha família que vou explorar neste texto; 2) não detesto a minha família toda, não é isso que está no título. Se detestasse a minha família toda punha isso no título e começava a pensar em sair de casa; 3) o Gary tem razão, as pessoas gostam de títulos bombásticos e foi isso que eu fiz, para chamar a atenção. Julguem-me, que julgamentos civis são perigosos é no Afeganistão e no Irão que eles atiram pedras às moças que cometem adultério. Agora, vejam lá os meus motivos para detestar parte da minha família:




  • Detesto ter dois tios-avôs. Quando as pessoas começam a ganhar consciência desejam ter um irmão ou uma irmã, gostavam de um dia serem pais e até avôs. Mas ninguém deseja ser tio-avô, ninguém faz disso objectivo de vida. Mas esse título simplesmente existe. Confesso que se um dia for tio-avô de alguém não sei como vou agir, porque também não sei como tratar os meus tios-avôs. Ser tio-avô é um híbrido entre ser um tio e ser um avô. O pior é que há títulos para tudo nas relações familiares: mãe, pai, avô, avó, tio, tia, primo, prima, sogra, nora, genro, enteado, TUDO COM UMA SÍLABA. Menos «tio-avô»;

  • Para mim, os primos acabam naqueles a que se convencionou chamar de «primeiro grau». Que merda é essa agora de se darem graus aos primos? Parecem adjectivos, com graus. Mas nos adjectivos ainda faz sentido, que se usam os graus para comparar, para superiorizar ou só na forma normal. Agora, um primo em segundo grau é igual a um em primeiro grau, só muda a relação familiar. Para isso não era primo! Era a mesma coisa que nunca mais se dizer «sogra» e passar a ser «mãe em segundo grau». É que à custa disso dos graus às vezes é cada complicação que passados 10 anos ainda descubro que namorei com uma prima minha em 27º grau e não sabia;

  • Os grunhos vieram minar as relações entre os irmãos. O meu irmão tem 13 anos, está naquela fase em que acha que a virilidade de um moço se mede por quem mija mais longe e começa agora a perceber que as moças não são nojentas apesar de não saberem jogar bem futebol. O problema é que o meu irmão chama «manos» aos amigos dele e a mim também me chama isso. Ou seja, sou constantemente colocado no mesmo plano que os amigos dele de 13 anos. Tudo bem, a minha ex-namorada dizia que eu era imaturo, mas não sou assim tanto. Por isso, detesto que o meu irmão me chame o mesmo que chama aos amigos, como se eu fosse um deles;

  • Tenho uma tia chamada Evelina que é daquelas tias que toda a gente tem. E eu detesto-a por isso. Como raio vou poder falar bem da minha tia e dizer às pessoas o que ela faz por mim e me dá se toda a gente tem uma tia assim? Recebe-se algum livro quando se chega a uma certa idade e não se pode ser mais mãe e se fica para sempre tia? Eu adorava a minha tia Evelina, até ter falado com mais gente que tinha uma tia que fazia exactamente as mesmas coisas e agia de uma forma igualzinha à da minha tia Evelina comigo, a dar-me prendas fixes, dinheiro, a fazer-me sobremesas sempre que eu ia lá lanchar e a emprestar-me o carro. Que merda de família que nem uma tia original tenho;

  • Outra coisa que detesto na minha família é o facto dos meus pais não me pressionarem nem me encostarem à parede em determinados assuntos. O Túlio, que era da minha turma no secundário, uma vez apanhou uma coça do pai e passou 2 semanas de castigo porque os pais apanharam um maço de tabaco no quarto dele. Mas quando fui eu não. A minha mãe contou ao meu pai e ele veio falar comigo a dizer-me que o Português Suave era um tabaco muito forte e que se eu gostasse de fumar devia experimentar Marlboro ou Lucky Strike. Para verem como os meus pais são, eu não fui para a faculdade por causa deles. Na altura em que acabei o 12º ano, eles disseram-me para eu escolher com calma o que quisesse, quando eu estava à espera que eles me impusessem um curso. E agora, por causa disso, ando para aqui desempregado;

  • Uma das coisas que eu mais detesto na minha família é o facto dos meus avós não me ensinarem expressões populares nem insultos fixes que se utilizassem no tempo deles nem de darem calinadas que eu me possa rir quando estou sozinho. A minha avó nunca fala dela, só me pergunta o que quero comer e faz-me perguntas sobre a minha vida. O meu avô só me dá conselhos úteis e profundos, que fazem reflectir. Pior que isso, é que o meu avô tem um Mercedes e está sempre a dizer-me para eu ficar com ele, já que ele praticamente não pega no carro. Quer dizer, toda a gente aí com carros dos avós que são latas-velhas que se passarem dos 70 km/h é um milagre e eu com um Mercedes; 

  • Para terminar, detesto o meu primo. Se algum de vocês, a este ponto, estiver a perguntar «que grau?» então eu recomendo-vos a lerem o meu segundo ponto com mais atenção e só depois a voltarem aqui. Se estão para aí a ler textos sem lhes tomar atenção não sei o que vieram cá fazer. A mim não me vieram fazer favor nenhum, que eu não ganho à comissão por cada visualização do meu texto. Mas pronto, detesto o meu primo que ele já teve uma namorada que era modelo e depois de acabar com ela, pouco tempo depois, começou a namorar com uma moça que estudava com ele e agora são os dois médicos. Tanta gente a comprar e a consumir drogas com os primos e eu com um primo médico.





Como vêem, apesar de não detestar a minha família toda nem ser tão mau como o título bombástico anunciava, não me faltam motivos para detestar a minha família. Diz-se que se escolhem os amigos, que se escolhe o clube de futebol, escolhe-se o partido político, escolhe-se o emprego que se tem, escolhe-se o barbeiro e o mecânico, mas não se escolhe a família. Isso não é bem verdade. Se eu escolhesse o emprego que queria neste momento estava a trabalhar numa papelaria, das 8h da manhã às 16h da tarde, lia os jornais todos os dias, andava sempre a par das notícias e ainda falava com moças que lá iam carregar o telemóvel na pay-shop. Se elas fossem simpáticas, escrevia o número delas num papel e depois mandava uma mensagem. Se elas fossem antipáticas, ligava-lhes todos os dias, durante uma semana, às 8h da manhã em privado a ver se elas aprendiam.






P.S.: Não quis dizer no texto senão destoava, mas o único bom motivo do meu primo ser médico é que uma vez faltei à escola durante 3 dias porque fiz uma maratona de 72 horas com o Gary a jogar todos os Crash Bandicoots e ele passou-me um atestado médico a dizer que tive uma gastroentrite. Nunca tive uma gastroentrite, mas no dia em que tiver uma vou acusar o meu primo de me ter amaldiçoado com isso no dia em que mentiu à minha Directora de Turma por mim. 

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