Já sei, o título é grande, até parece um do Jorge Abel. Mas queriam o quê? Que eu dissesse alguma coisa do género «Semelhanças entre musculação e moças» para depois me virem aqui dizer que era um português demasiado sintético? Ou inventar uma metáfora do género «O Peso do Sexo» para me virem dizer que não dava para perceber nada pelo título e que até parecia um livro ou um romance e por isso desistiram de ler e nem vieram aqui ver o resto? Já agora, publicava este texto sem título, depois vocês davam um título que gostassem e eu vinha aqui dia sim, dia não mudar o título, para pôr aqueles que vocês gostavam. Depois de fazer isso, começava a ir lanchar a vossa casa todos os dias e a ver filmes do Steven Seagal no vosso sofá e começava a ter uma relação de namoro com vocês. Ao menos a Paulinha não escolhe os títulos dos meus textos, só me obrigou a conhecer os pais dela e a ir buscar o irmão dela à escola porque mais ninguém pode.
Mas adiante, que isto de eu contar a minha vida em parágrafos é para o Jorge Abel. Já falei dele duas vezes neste texto, é normal, ele está de férias e já me veio chatear. Não vos recomendo a estarem com o Jorge Abel quando ele está de férias, que ele tem mais tempo livre mas fala sempre da fábrica e dos amigos da fábrica e das moças da fábrica e do patrão da fábrica e dos almoços da fábrica e do pessoal que vai jogar futebol da fábrica e das tintas novas que eles estão a lançar na fábrica ... Até chateia. Eu anteontem até lhe disse para ele aproveitar as férias e ir para o ginásio ganhar corpo e fazer um bocado de musculação. O que me levou a pensar o que seria preciso para eu ir para um ginásio fazer musculação. Primeiro, ter um trabalho que me desse dinheiro para eu ir para a musculação. Segundo, no ginásio tinha de ter uma televisão na sala de musculação sempre num canal de desporto. Podia ser na Eurosport.
Comentei com a Paulinha que tinha pensado em como seria se eu fosse para um ginásio. Ela disse que já gostava de como eu era mas que ia adorar se eu fosse para um ginásio. O interesse dela nisso fez-me pensar na semelhança entre fazer musculação e ter relações sexuais, mas na perspectiva dos moços, que isso de namorar, ao contrário do que se diz, não ajuda a compreender melhor o ponto de vista das moças. Pelo contrário, ainda se torna mais difícil. Mas ora vejam lá a semelhança:
- Em ambos os casos, começa-se sozinho mas acabamos por perceber que é muito melhor fazer-se com um parceiro e que nós próprios começamos a fazer melhor as coisas por as fazermos com um parceiro a ajudar;
- No entanto, tirando raros casos, vai-se coleccionando e experimentando diferentes parceiros até se encontrar aquele que é o ideal e que está connosco mais tempo e mais vezes. Eventualmente, essa relação só vai acabar se o nosso parceiro encontrar um parceiro mais ideal para ele, se se perder o interesse ou se fizermos cagada;
- Quando falamos com amigos sobre ambas as actividades discutimos as melhores posições, as que dão mais efeito e as melhores técnicas para se atingir o objectivo a que nos propomos;
- Contam-se sempre histórias sobre ambos os assuntos e partilhamos com os outros. Muitas delas são verdade, algumas são claramente exageradas, para impressionar os outros, e que se estivesse lá o parceiro dizia que não tinha sido nada assim. E depois ainda há aqueles que inventam histórias que nunca aconteceram ou que ouviram ou viram outros a contá-las e contam como se fossem deles;
- Normalmente, fala-se de musculação ou de relações sexuais com outros moços, na maior parte das vezes amigos, mas também familiares, mas eventualmente encontras uma moça que até perceba dos assuntos e com quem te sentes à vontade para falar e até gostas de ouvir a opinião dela;
- Os teus amigos que não fazem nem uma coisa nem outra já estão fartos de te ouvir falar sobre o assunto e às vezes dizem-te que estás sempre a falar do mesmo. Em parte têm razão, mas sabemos que só reagem assim porque não fazem essa actividade;
- Em ambas as situações, tu trabalhas por conta própria, para te agradar a ti, mas acabas por também te preocupar em agradar aos outros e descobrir o que os outros pensam do teu desempenho;
- Por falar em outro, tentas sempre ser melhor que os outros, ter melhores desempenhos que os outros e que as opiniões sobre ti sejam sempre favoráveis e, se possível, com frases como «ele faz isto melhor que o ...»;
- No final de ambas as situações, não há nada que te saiba melhor do que comer alguma coisa ou do que tomar um longo e revigorante banho. Depois disso, eventualmente vais dormir para retemperar as forças;
- Quando ficas algum tempo sem fazer ambas as situações sentes saudades de o fazer. Depois, quando voltas a fazer, já não fazes o que fazias, não fazes tão bem e demoras algum tempo até voltares ao nível que tinhas atingido antes de parares.
Pronto. É isto. Não sei mais o que dizer. Ando sem tema de conversa. Por isso é que gosto da Paulinha, que ela chega a casa do trabalho e passa-se sempre tanta coisa no trabalho dela que ela fala, fala, fala e eu finjo que ouço, finjo que ouço e ouço alguma coisinha. As relações funcionais devem ser assim. Nunca pensei que estivesse envolvido numa relação funcional mas a verdade é que estou. O segredo para uma relação funcional é fácil: deixem sempre que ela escolha o que quer lanchar, deixem-na sempre contar todos os pormenores do seu dia mesmo que não estejam a ouvir e contem alguma coisa da vossa vida pessoal para ela pensar que vos conhece bem. Depois disso é só ter um bom desempenho na parte sexual e encontrar coisas em comum que possam ver na televisão, tipo filmes ou séries. Depois não digam que nunca vos disse nada de útil.
P.S.: A relação mais funcional que eu conheço sem ser a minha é a do Lucindo e a da mulher, mas eu não queria essa relação. Primeiro, o Lucindo ficou sem apelido à custa da mulher e à custa de ter passado o casamento a comer entradas de camarão tigre que o pai da mulher dele pagou. Segundo, porque no dia em que eu tivesse que ser internado num hospital psiquiátrico não queria lá a Paulinha a ir visitar-me todos os dias, como a mulher do Lucindo fez, que nem podia fazer amigos e descobrir pessoas genuinamente capazes de virem aqui escrever no blog todos os dias. Ia passar os meus dias a ouvir a Paulinha a contar-me o dia dela mas sem poder ter relações sexuais, que os hospitais psiquiátricos não o permitem. Ia estragar-me a relação.
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