terça-feira, 16 de outubro de 2012

A relação entre comida e Geografia


Há coisas no mundo que não consigo perceber. Porque é que algo que dá para os dois sexos se chama «unissexo»? Sempre que alguém me diz que o cabeleireiro onde vai é «unissexo» eu penso que todos somos unissexo. Tirando a Lady Gaga, que uns dizem que é homem, outros dizem que é «bissexo», outros não conhecem e outros, mas poucos, dizem que é uma mulher. De resto, acho que toda a gente é unissexo, ainda que andem por aí uns moços que se vestem de mulher e dizem que são mulheres.

Mas não é dessas coisas que vamos falar. Pelo menos hoje. Noutro dia qualquer podemos perder o nosso precioso tempo a falar sobre moços que se vestem de mulher ou sobre mulheres canalizadoras cujo sonho é ir ver um concerto de Marilyn Manson. Aquilo sobre que vamos falar de hoje é, tal como tudo isto, esquisito, mas não tanto. Se falasse disto hoje ressuscitava outra vez o Tolentino, que vinha para aqui reclamar e dizer porque é que detesta moços e moças esquisitos.

A cena esquisita de que vamos falar hoje é de alimentos e comidas cujo nome engloba um país ou uma cidade. Se pensarem bem, muitas das coisas que comemos têm nomes distintos (pargo, polvo, alheira, Chipicao), outras coisas têm um nome estrangeiro (croissant, pizza, hamburger, tortilha) e outros, já que a originalidade não dava para mais, têm nome de país ou cidade. Vejam a lista com alguns exemplos e comentários que só eu acho engraçados:


  • Bola de Berlim: se o Hitler soubesse que, em Portugal, o nome Berlim era utilizado para designar este bolo, mas também era usado como um insulto fácil para chamar aos obesos, invadia-nos logo e acabava com a nossa raça. Felizmente, os alemães nunca quiseram saber de nós para nada e então andamos nós por cá a chamar 'Bola de Berlim' a um bolo que deve ter sido inventado por um pasteleiro de Fafe;

  • Alho Francês: nunca percebi bem este nome. Este vegetal vem de França? Ou encontraram-no depois de terem descoberto o alho e como não sabiam o que fazer com ele inventaram o nome 'francês'? Ou o agricultor que vendeu isto pela primeira vez numa feira tinha um bigode farfalhudo e ninguém percebia o que ele dizia e chamaram-lhe «o alho do Francês» que, com o tempo, para facilitar, ficou só 'alho francês'? É que não acredito que seja 'Alho Francês' porque só existe em França e todos os dias, camiões atrás de camiões vêm de França para todo o Mundo entregar alhos franceses ...

  • Água de Colónia: este nome faz pensar uma de duas coisas: ou os alemães cheiram todos tão mal que, em Colónia, até a água lhes cheira a perfume ou então, os portugueses são tão burros que o primeiro alemão que cá veio vender perfume, era um moço de Colónia, que disse que na sua terra, iam ao rio, enchiam frascos e vendiam como perfume. E nós, como burros que somos, acreditamos e chamamos «água de Colónia» desde então. Adorava que houvesse outra explicação mas esta parece-me totalmente credível;

  • Bolacha Húngara: a bandeira da Hungria é verde, branca e vermelha. A bolacha húngara é metade amarela e metade chocolate. Não percebo porque se chama «húngara». Quem deu o nome a esta bolacha deve ser como aqueles moços que vendem farinha a adolescentes dizendo-lhes que é da melhor cocaína afegã. Se se dissesse que a bolacha húngara era bolacha de Peniche ninguém comia;

  • Couve Galega: tudo o que disse em relação ao alho francês repito para a couve galega. A couve galega é uma couve, que não é uma tronchuda, mas é mais especial por ser galega. Ainda dizem que os comerciantes não percebem nada de marketing? Eis a prova que todos estamos enganados quanto a isso;

  • Camarões: neste caso, o processo foi ao contrário, ou seja, primeiro surgiu a comida e só depois o nome do país. Já aqui debatemos no blog que o nome 'Camarões' reflecte bem a complexidade de pensamento do português, que ao ver o nome 'Cameroon' ou 'Camerún' decidiu chamar o país de 'Camarões'. A única semelhança que consigo ver entre os camarões comida e os Camarões país, é que nenhum dos dois parece ter grande coisa na cabeça;

  • Conguitos: já que estamos numa onda de piadas raciais, quem inventou a sobremesa 'Conguitos' também estava nessa onda. Uma sobremesa chamada 'Conguitos', em que a mascote era um preto e a própria sobremesa era preta. Porque não chamar à sobremesa 'Italianitos' ou 'Inglesitos'? Não! Vamos chamar-lhes 'Conguitos' para estereotipar os pretos;

  • Sande Americana: que os americanos são quase todos obesos (menos os que aparecem na televisão, fora isso são todos obesos, disse-me um tio meu que foi viver para o Kentucky quando chegou aos 150 kg) todos sabemos, agora que nós por cá tínhamos que ter um estereótipo quanto a isso, revolta-me. Em 1946, após o fim da II Guerra Mundial, o Sr. Abílio tinha um tasco em que servia refeições a trabalhadores. Com o preço da carne a aumentar, o Sr. Abílio fez uma sande guarnecida, para fugir às refeições caras, com carne. Durante anos foi conhecida como «Sande à Abílio». Quando o país ficou a conhecer essa sande, chamou-lhe «Sande Americana»;

  • Filipinos: Quem inventou uma das melhores bolachas do mundo e lhe deu o pior nome possível devia arder em algum Inferno, se tal existir e não for apenas um delírio alucinatório geral. Uma bolacha como os Filipinos devia ter um nome estrondoso tipo «Maravilhosos». Assim, a frase «vou comprar um pacote de 'Maravilhosos'» seria muito mais aceitável que «vou comprar um pacote de 'Filipinos'». Isso parece tráfico humano. Além disso, se as bolachas se chamassem 'Maravilhosos' escusávamos de ter visitas aqui no blog, como já tivemos, de pessoas das Filipinas; 

  • Napoleão: o Imperador de França, que um dia sonhou ser Imperador do Mundo e, por isso mesmo, imortal, arrepender-se-ia de tudo isso se soubesse que ficou imortal por dois motivos. Primeiro, por causa daquela adivinha estúpida «de que cor é o cavalo branco de Napoleão?» e segundo por causa do bolo que tem o seu nome. Pior do que isso, é que uma vez em Leiria pedi um Napoleão e ninguém sabia o que era. Depois vim a descobrir que lá chamam a um napoleão, um «mil folhas»;

  • Letão: o que eu gosto na Letónia, são os letões. O problema foi nunca ter ido à Letónia para comer um letão, mas aqui em Portugal já comi letão na Bairrada e é bem bom, aconselho vivamente. O segredo de um bom letão está no molho, mas também se a pele está crocante. Outra coisa que recomendo, ao comer letão, é acompanhar com aquelas batatas fritas redondas, ainda sabe melhor;

  • Peru: entre todas as carnes, o peru é aquela mais fraquinha, que uma pessoa só come em último caso, só se estiver de dieta ou se não houver mais nada. Eles deram o nome de Peru ao animal porque também com o país é assim: só vive no Peru quem não consegue viver em nenhum outro país da América do Sul (e do Mundo) ou então quem tem lá um negócio de família que não pode abandonar e então tem mesmo que viver lá. O Peru também é conhecido por ser fraquinho no futebol, tal como é na carne e na qualidade de vida;

Como vêem, a ilação a retirar deste texto é bastante fácil e explícita: tudo na nossa vida é comida e vai dar à comida. Por muito que aqueles moços queiram enganar as moças e convencê-las de que não são daqueles que é só comer e não se importam com mais nada, eu digo-vos que, na vida, tudo é comer. Por exemplo, agora mesmo, estou a escrever no blog e a pensar no que é que vou comer quando acabar. Talvez vá até à mercearia do Rebelo comprar um pacote de Chipmix, que isso sim, é nome de bolacha, não é como os Filipinos. Chipicao não vou comprar, no outro dia comprei um lá e não me saiu nada de brinde, assim não vale a pena comprar um croissant seco com um bocadinho de chocolate, só valia a pena o sacrifício se viesse um cromo ou uma tatuagem. Assim vai ser um pacote de Chipmix e um Bongo. E agora ia fazer uma conclusão mas não consigo, já estou a pensar no que vou comer ...



P.S.: Suíça não é comida mas é um nome de país que é utilizado para outro propósito completamente diferente. Porque raio é que deram um nome de um país a uma porção de cabelo que só os barbeiros sabem aparar? Juro, de cada vez que vou ao barbeiro e ele me faz uma suíça da moda, quando chego a casa, passados 3 dias vou fazer a barba e estrago a suíça toda. Basicamente, vou ao barbeiro e tenho suíças da moda durante 3 dias. Depois, só passado um mês e tal é que volto a ter suíças em condições.

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