sexta-feira, 12 de outubro de 2012

As relações amorosas são como as refeições


Dizem que a maneira como nos relacionamos com a comida mostra como nos relacionamos com as pessoas. Bem, sinceramente, ninguém diz isto, acho eu, fui eu que disse agora mesmo. Mas tendo em conta a quantidade de vezes que já ouvi histórias a começar por «quando eu comi aquela moça» ou «aquela caixa de Haggen-Daz é o meu grande amor», acredito que seja mesmo verdade.

Aposto que o Tolentino detesta gelados, já que detesta tudo. O que ele mais detesta, no entanto, são as boas maneiras, já que não se apresentou a ninguém. Mas em vez de falar no Tolentino, vamos falar de refeições. As refeições, tal como as relações amorosas, nunca são totalmente a nosso gosto, muitas vezes comemos coisas que também não gostamos, tal como engolir sapos. Também tal como com as relações, há gente que tem uma relação problemática com a comida e pensa que está tudo bem, embora tudo o resto diga o contrário.

Assim, para aqueles que ainda não acreditam que as relações amorosas são como as refeições só pelos argumentos que dei em cima, vou mostrar como a postura em ambas as coisas são semelhantes:


  • Pequeno-Almoço: é a primeira refeição do dia e diz muito do que a pessoa é. Tal como a primeira relação que se tem, há os que investem muito no pequeno-almoço, os que ignoram a sua importância, os que a fazem mas não da melhor maneira, os que saltam esta refeição e não a fazem, os que acham que não precisam de pequeno-almoço e os que mesmo investindo fortemente no pequeno-almoço, passado um bocado já estão a comer outra vez;

  • Refeição a meio da manhã: muitos dos que tomam pequeno-almoço vêem nesta refeição um reforço do pequeno-almoço, ajuda a manter a primeira refeição sustentável, sem a substituir. Outros que viram que o pequeno-almoço não valeu a pena, investem um bocadinho mais nesta, até para corrigir os seus próprios erros que cometeram na primeira vez. Aqueles que exageraram na primeira refeição saltam esta por não terem estômago suficiente. Por último, existem os que não tiveram pequeno-almoço e então continuam em jejum (seja por opção do próprio ou por não terem acesso a comida);

  • Almoço: esta é a «refeição-forte», em que mais se investe, mesmo os moços que não tomam pequeno-almoço, acabam eventualmente por almoçar. Depois há aqueles moços que exageram na dose do almoço, pensam que estão a fazer bem e a investir mas no fundo estão a cometer um erro típico de principiante, para quem o almoço é a primeira refeição, quando devia ser o pequeno-almoço. Assim, aqueles que têm uma refeição saudável desde o princípio fazem do almoço uma espécie de continuidade, em que se se está bem não vale a pena mudar. Por último, ainda há aqueles negligentes que não valorizam o almoço e almoçam sempre a correr, dando prioridade ao trabalho ou a outras coisas, até ao dia em que o almoço lhes falha e vão sentir a sua falta;

  • Lanche: o importante do lanche é que nem toda a gente lancha, outros fazem 2 e 3 lanches no mesmo dia, outros ainda investem no lanche o que não investiram no almoço e fazem do lanche a sua grande refeição, apesar de esse investimento estar, à partida, condenado ao insucesso. Apostar tudo ao lanche começa a ser um pouco tarde para se ter uma dieta equilibrada. Por outro lado, quem tem um equilíbrio desde o pequeno-almoço utiliza o lanche como uma lógica da continuidade, sendo um reforço do que se tem desde o início;

  • Jantar: Muitas vezes, quem se alimenta mal ou pouco durante o dia e depois compensa ao jantar sente-se muito cheio e arrependido, quer de o ter feito, quer de não ter investido em algo equilibrado desde mais cedo. Assim, quem se pauta pelo equilíbrio desde o pequeno-almoço alimenta-se de forma equilibrada e sustentável, não sendo ao jantar que vai estragar tudo (embora aconteça em alguns casos). Por outro lado, quem sempre teve míngua e se pautou pelo jejum, não é ao jantar que vai ter fartura (embora também possa acontecer em alguns casos);

  • Ceia: os peritos dizem que faz mal, mas muita gente faz ceia. Quem fez todas as refeições equilibradas, faz da ceia uma pequena adição a algo que já está bem, ao contrário daqueles moços que como nunca tiveram uma refeição em condições investem tudo na ceia, procurando, em desespero, ter aquilo que já deviam ter antes e contentando-se com o que houver.

Muitas outras coisas poderiam servir para equiparar as relações amorosas com as refeições. Por exemplo, comer entre refeições, tal como nas relações, são aquelas tentações a que não se resiste e, após se fazer isso, há sempre uma dose de arrependimento. De igual modo, beber água entre as refeições controla essa fome e impede de se cair em tentação, ajudando ao equilíbrio entre refeições. E, por último, para vos convencer definitivamente que esta é uma boa comparação, quem come muito não significa que seja mais feliz, assim como quem come muito pouco também não o é.



P.S.: Tudo isto me deu um bocado de fome. Vou ali à mercearia do Rebelo comprar um Chipicao e um Capri-Sone. Pode ser que venha uma tatuagem ou um cromo no Chipicao. Se sair uma tatuagem espero que não seja uma flor ou uma borboleta, para isso mais vale sair um cromo. O Rebelo não tem Chipicaos de morango, por isso vai ter que ser dos tradicionais. Espero que saia uma caveira na tatuagem para colar no braço. E espero que o Chipicao também não esteja seco. 


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