Não, não é nenhum texto do Jorge Abel a fazer-se de coitadinho. Muito menos é um texto do Tolentino a dizer como detesta pessoas e como o provérbio «antes só que mal acompanhado» é totalmente verdade, já que 99% das pessoas do mundo são má companhia. Também não é um texto do Teófilo, que esse já não sabe escrever nem sequer SMS's. É uma reflexão minha, novamente fruto de me sentar na porcelana fria e desprotegida da casa de banho dos deficientes que tenho frequentado de forma diária. Não sei se é alguma perversão que estou a desenvolver, mas tem-me sabido bem.
Outra coisa que o frio da porcelana me tem provocado é uma corrente de reflexões que tem-me dado temas sobre os quais escrever no blog, impedindo que, de repente, o Tolentino faça 10 textos seguidos. O tema de hoje foi sobre a solidão. Não sobre aquela solidão lamechas em que vou para a beira-mar andar devagar e ter vontade de chorar quando vejo um casal de namorados na brincadeira que, eventualmente, vai acabar com alguém a ser encavado. Mas sim a solidão de estar sozinho e aproveitá-lo.
Claro que esta solidão parece sempre negativa, principalmente quando se acaba uma relação ou quando se consegue fazer alguma coisa espectacular mas ninguém está ali para testemunhar. Agora sei como se sentia o Spider Man antes de se lembrar de tirar fotografias a ele mesmo. Mas, por outro lado, reparo que quando estou sozinho sou muito melhor. Vejam lá porquê e pensem se não vos acontece o mesmo:
- Quando estou sozinho reflicto muito mais nas coisas e de forma mais profunda, chego a conclusões brilhantes, algo que não acontece quando estou com outras pessoas;
- Quando estou sozinho, consigo considerar outras perspectivas sem ninguém as impor, chego lá sozinho através da minha capacidade de raciocínio e não através de ter ouvido dizer uma coisa parecida num filme e esperar que ninguém tenha visto o mesmo filme para dizer que fui eu que cheguei a essa conclusão;
- A minha relação comigo mesmo justifica-se a si própria, ou seja, é uma relação pura porque se mantém mesmo não havendo possibilidade de sexo;
- Mesmo não havendo a possibilidade de relações sexuais, não fujo e consigo manter uma verdadeira relação de intimidade. Toma lá Bárbara Abília, agora diz que eu fujo da intimidade como o Ramalho Drogas foge dos polícias à paisana;
- Quando estou sozinho tenho piada, sou mesmo engraçado, consigo pensar em coisas incrivelmente engraçadas. Quando estou com outras pessoas, essas coisas engraçadas têm que se sujeitar ao critério dos outros e, muitas vezes, um momento sublime é transformado em momento embaraçoso por causa dos outros;
- Quando estou sozinho tenho uma maturidade acima da média e muito acima daquela que revelo quando estou com outras pessoas. Além disso, nunca ninguém me chama criança (toma lá, Carla Alexandra!!!);
- Quando estou sozinho expresso-me com mais facilidade e não digo porcarias (algo que sucede com imensa frequência quando estou, por exemplo, em encontros). No entanto, se disser alguma porcaria não me julgo e dou oportunidade para me redimir, algo que não acontece quando estou com outras pessoas;
- Quando estou sozinho não consigo mentir a mim mesmo. É uma relação baseada na verdade e na honestidade. Quero ver quantas pessoas podem dizer isso da relação delas;
- Quando estou sozinho não me consigo separar de mim mesmo, não é como naqueles encontros em que passado 20 minutos já estou a imaginar o que vou dizer para me ir embora;
- Quando estou sozinho não me perco nos meus pensamentos, deixando escapar alguma coisa importante que não ouvi por estar a pensar (embora não me arrependa de ter feito isto em alguns dos encontros que tive na minha vida);
- Quando estou sozinho não preciso de esconder coisas embaraçosas e vergonhosas do meu passado, nem rezar a todos os deuses que existem ou não existem para que a pessoa não descubra essas coisas;
- Quando estou sozinho, ao contrário do que dizem de mim quando estou com outras pessoas, sou compreensivo e tolerante.
Perante tudo isto, começo a acreditar que quando a Bárbara Abília, filha da Justina do peixe, me disse que eu ia ficar sozinho para sempre, me estava realmente a desejar o bem e não o mal. Se não for muito tarde, ainda lhe vou ligar a agradecer. Ou então talvez lhe dedique este texto. Entre ficar eu e ela a saber, mais a mãe que ela conta tudo à mãe ou ficar a saber eu e vocês os três, não sei o que é melhor. É que ela conta mesmo tudo à mãe. Uma vez disse-lhe que não gostava do sabor dos douradinhos porque achava que o Capitão Iglo metia a pila em todas as embalagens antes de as enviar para os super-mercados e para os talhos (sim, vendem douradinhos e rissóis de pescada em talhos, já não é novidade para vocês) e ela contou à mãe. Depois disso fui jantar a casa dela e a Justina do peixe fez lombinhos de pescada e disse-me «Gaivota, sabe a douradinhos mas não te preocupes que não são douradinhos».
P.S.: O Capitão Iglo é só um de muitos personagens questionáveis que aparecem na televisão. Outro que me mete impressão e um bocado de medo (além do Avô Cantigas, mas esse é explícito demais) é aquela moça que dizia 'Olá, eu sou a tua menstruação'. Essa moça era tipo Deus, tinha que estar em todo o lado, a olhar por todas as moças do Mundo. A única diferença entre ela e Deus é que essa aparece em frente às pessoas e apresenta-se, a dizer o que é e toda a gente sabe o que vai acontecer quando ela aparece.
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