Por esta altura já expliquei a mim mesmo porque é que convidei o Tolentino a vir para aqui escrever: vocês já devem estar tão fartos dele, que anseiam pelos meus textos como nunca o tinham feito. Ou então não, a chegada dele e vir logo com dois textos seguidos fez com que perdesse os meus 4 seguidores de sempre. Se assim foi, convivo bem com isso. Falar sozinho já é um bom começo para poder ir buscar os anti-psicóticos à farmácia, que agora ninguém me vende.
O único que me tenta vender comprimidos, que diz que podem fazer o mesmo que esses anti-psicóticos é o Ramalho Drogas. Chama-lhe 'Drogas' porque o pai dele tinha uma drogaria e o Ramalho, como bom filho, continuou o negócio do pai, mas expandiu-o e além de vender vassouras, cadeiras de plástico e pilhas também vende LSD, Ecstasy e Heroína. Infelizmente só vende mesmo isso e não tem nenhum anti-psicótico.
Mas chega de falar no Ramalho Drogas e voltar-me para o tema de hoje. Apesar da minha doença psiquiátrica em estado avançado (e sem medicação), considero-me um moço normal, principalmente quando comparo com aquilo que eu vejo em alguns sítios. Como sei que não acreditam em mim, vou fazer com que acreditem depois de alguns exemplos que vejo no dia-a-dia:
- Discotecas: começo pelo sítio em que me consigo sentir mais normal. Entre moços a fazerem a dança do robot, outros a usarem deixas de engate que em 1965 já eram antigas, outros a vomitarem em tudo o que é sítio e outros a fazerem o cerco a 40 moças por noite, sem conseguirem nada, eu sinto-me muito normal e agradeço a essas pessoas por existirem e, principalmente, por fazerem essas coisas (ainda que alguns deles tenham mais sorte com as moças do que eu);
- Estádios Futebol: quando vou a um estádio de futebol sinto-me perfeitamente normal. Quem é normal, num estádio, insulta, sofre, vibra. O anormal acontece quando se grita um insulto e se olha para trás e para o lado para ver se alguém achou piada; o anormal acontece quando alguém está a olhar para a mensagem de telemóvel que o da frente está a mandar; o anormal acontece quando vês moços e moças vestidos num estádio como se fossem à ópera; o anormal acontece quando estão a fazer tudo no estádio menos ver o jogo;
- Transportes Públicos: se algum dia, algum de vocês estiver numa crise existencial e não souberem bem o que são, desafio-vos a andarem de transportes públicos durante uma semana. Aí, certamente, vão descobrir aquilo que não são, que já é meio caminho andado para descobrir o que é que são. Também vão descobrir que roupas nunca vão usar (pelo menos em público), que toque de telemóvel mais detestam e, principalmente, que nem todas as moças que usam leggins têm corpo para isso;
- Casas de banho de deficientes: no outro dia, num hospital, quis satisfazer as minhas necessidades básicas e primárias. Por isso, fui à máquina de lá e tirei um Bongo e umas bolachas. Quão bom é «Um Bongo»? O raio do sumo tem anos e continua a ser maravilhoso. Se há coisa que os putos de hoje em dia podem usufruir do mesmo modo que nós, na nossa altura, é do sabor maravilhoso deste sumo. De qualquer maneira, depois de comer e beber quis ir à casa de banho, mas no piso em que me encontrava só havia uma casa de banho de deficientes. Como bom cidadão português, entrei e tranquei a porta por dentro para ninguém me incomodar. O que vi fez-me sentir mesmo normal. A casa de banho deles é enorme, quase maior que o meu quarto mas não tem tampo na sanita, é logo na porcelana. Jurei que nunca mais ia a uma casa de banho para deficientes;
- Restaurantes: já muito falamos de restauração por aqui no blog, mas nunca nesta perspectiva. Aquilo que eu vejo em alguns restaurantes faz-me sentir perfeitamente normal. Quando vou a um restaurante, normalmente, é para comer aquilo que conheço e sei que vou gostar, não é como aqueles moços que vão para restaurantes para comer pratos que nunca comeram na vida e pagar 100 euros por uma coisa que, se calhar, não vão gostar. Além disso, a história dos bifes é sempre a mesma: «quero mal passado», «quero o meu bem passado», «quero o meu a meio termo». Eu quando vou ao restaurante como da forma que o cozinheiro fizer, porque a diferença entre comer em casa e comer no restaurante é que comemos o que um desconhecido faz para outro desconhecido, mas com possibilidade de escolher entre uma variedade de pratos;
- Supermercados: pouco mais posso acrescentar nesta altura que não tenha dito senão que há secções dos supermercados que são propícios a uma pessoa sentir-se normal. Por exemplo, eu nunca entrei naquelas zonas de comida macrobiótica ou biológica ou lá como essas merdas se chamam, mas sempre que olho para lá só lá andam pessoas estranhas. E na única vez que entrei naquela zona que agora está na moda nos supermercados, que é vender roupa, como se fossem uma loja de roupa, vi um puto com uns 100 quilos a experimentar uma camisola de lã vermelha com quadrados verdes, que devia ser o tamanho M, mas ao puto parecia um XS. O pior é que a mãe insistia que lhe ficava bem e ia mesmo comprar-lhe aquilo ...
- Aqui no blog: Desde que o Tolentino entrou para aqui, fez-me sentir muito normal. O Matthew Praias sempre me fez sentir, mas começava a sentir a falta de alguém que me fizesse mesmo ver o extremo daquilo que eu sou. Esse extremo é o Tolentino. O Jorge Abel também, mas como ninguém lhe passa cartão, importa é o Tolentino.
Estar em cafés também me faz sentir normal, principalmente quando estou perto de uma mesa em que se nota claramente que estão duas pessoas a ter um encontro que não está a correr nada bem. Ver o moço nervoso, sem saber o que dizer e a dispersar o olhar e a moça a ir para aí 10 vezes à casa de banho e, sempre que vai, ver o moço a ir ao telemóvel e a abanar a cabeça é impagável. Principalmente quando assisto a estas situações do lado de fora e quando não sou eu. Imagino o impagável que foi para aquelas pessoas que me viram a desembolsar 6€ pela merda do Bailleys ...
P.S.: Claro que é preciso muita coisa para que me sinta uma pessoa minimamente normal. Não basta alguém sair à rua com um pólo amarelo para eu me sentir normal. Mas se além de sair com um pólo amarelo, for a um restaurante pedir um «bife bem passado», pedir uma «Mini» a acompanhar, tiver um toque de telemóvel que é um bebé a rir e for fazer a dança do robot para a discoteca ... Esse é provavelmente o Jorge Abel.
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