Hoje estou revoltado. Apanhei na rua o Mário do talho que me disse que o talho ia fechar. Carago, já não bastava ter que o encontrar com a família toda num passeio de domingo, ainda por cima uma notícia destas! É que a família do Mário do talho é daquelas que almoça toda junta ao domingo e depois vai passear. É daquelas famílias que a mulher é muito gorda, nunca recuperou depois das gravidezes, e da maneira que vão todos juntos ocupam o passeio todo. Agora imaginem-me ali, no meio do passeio, a falar com o Mário, a família dele toda atrás e as outras pessoas a terem que atravessar a rua para poderem passar. Agora onde vou eu buscar a minha carne? A um desses talhos que vendem rissóis de pescada? A um supermercado? Ao menos se tivesse aquela aplicação no telemóvel dos talhos que não vendiam rissóis de pescada num raio de 30km já sabia onde ir ...
Mas o problema não é só qual o talho. A relação que um homem estabelece com o seu talhante é das mais importantes. Para se ser feliz temos que ter um mecânico de confiança, um barbeiro do mesmo clube, um moço que nos arranje o computador sem inventar problemas para lá e um conhecimento no talho. Agora vou ficar sem isto! O Jorge Abel disse-me que ao menos conhecia uma pessoa numa fábrica de tintas, mas isso era a mesma coisa que ficar sem um braço mas continuar feliz porque ao menos tinha o pâncreas. A sério, não sei como é que vocês ainda dão credibilidade ao que diz o Jorge Abel, um moço que pensa que Magenta é uma marca branca de gelado a copiar o Magnum.
Revoltei-me tanto com o que o Mário do talho me disse que me estragou logo o dia. Até tinha pensado em escrever um texto a ter piada onde mostrava as vantagens e desvantagens se os seres humanos fossem seres invertebrados mas sendo assim vou só enxovalhar algumas séries de televisão, apenas para descarregar a minha fúria:
- CSI: não percebo como é que isto tem tanto sucesso. Basicamente, toda a gente sabe que no fim o culpado vai ser apanhado e vai confessar o crime de alguma maneira. Ao início os crimes ainda eram decentes mas agora é sempre o mesmo: ou tiros ou empurrados de prédios de 20 andares. Em Miami os corpos aparecem sempre na praia ou em piscinas e no de Las Vegas aparecem sempre em casinos. Quando era mais novo não fui ver o Titanic ao cinema porque o Vicente da minha turma disse-me como é que acabava, mas toda a gente que vê o CSI faz precisamente o contrário: sabe o fim e vê na mesma;
- Nikita: para quem não conhece a série eu descrevo-a assim: é uma moça chinesa que bate em toda a gente e safa-se sempre. Digam-me como é que consegue trabalhar infiltrada. Os mauzões não comunicam entre eles? Não passam a mensagem que uma moça chinesa, alta e esguia, os anda a abarbatar a todos? Depois estas séries fazem as pessoas passar por burras, que uma moça destas passa despercebida desde que use um rabo de cavalo e uns óculos de sol;
- Anatomia de Grey: vi estas série duas vezes. Uma vez estavam duas moças aos beijos e eu deixei ficar. Outra vez estava a fazer zapping e o comando ficou sem pilhas no canal em que estava a dar isto. A conclusão a que eu chego ao ver esta série é que espero bem que no meu hospital, aqui perto de casa, não existam médicos assim, que estão a fazer uma operação e ao mesmo tempo estão a falar um com o outro sobre o que significou terem dormido juntos na noite passada. Ao menos o Dr. Borges aqui do hospital faz as operações sempre de manhã, que ele ao almoço abusa sempre um bocado no vinho;
- Dr. House: médicos arrogantes há em todo o lado. Por exemplo, o Dr. Borges uma vez deu dois estalos ao Chaves, do tasco, por ele lhe dizer que beber tanto lhe fazia mal à saúde. Levou a mal o Chaves estar-se a armar em médico quando ele é que tinha estudado durante 5 anos para isso. Mas nisso o Dr. Borges tem razão, o Chaves está sempre a armar-se em coisas que não é. Uma vez fomos todos jogar futebol e fiquei na equipa do Chaves e ele disse-me que eu ia jogar no meio. Estava ali armado em treinador e aposto que nunca ganhou nenhuma Liga dos Campeões no FM, como eu já ganhei;
- Mentes Criminosas: a primeira vez que vi esta série até me entusiasmei. Um moço todo alterado que pegava em sem-abrigos e os assassinava de maneiras horríveis. Isso sim é um programa para uma pessoa aliviar um bocado a cabeça e não pensar nos problemas do dia-a-dia. Mas depois os criminosos começaram a ser todos apanhados, quase como no CSI mas aqui não era por causa de provas ridículas. Basicamente, uma moça gorda, daquelas que passa o dia sentada em frente ao computador, descobria tudo só a navegar na Internet e depois dizia aos outros e eles é que ficavam com o mérito todo. Aposto que cada agente ganhava aí uns mil contos por mês e a moça nem chegava aos 600 euros;
- Sobrenatural: quer dizer, o Luís Tolo foi internado em 1999 porque andava aí a dizer às pessoas que via os soldados do mal a matar cristãos para a Jihad triunfar. Mas se andarem aí dois moços, com uma caçadeira, a matarem fantasmas e lobisomens faz-se uma série disso. E não eram só os dois moços! O pai deles também andava nessa vida. Ao menos o pai do Luís Tolo era professor de Geografia. Os testes dele eram bem lixados. Quando o pessoal se portava mal, ele nas aulas dava as capitais de países da União Europeia e nos testes perguntava capitais de países africanos;
- Casos Arquivados: esta é a pior. Não sei o que comi ontem ao almoço. Quer dizer, por acaso até sei. Mas não sei o que almocei anteontem. Nem sequer faço a mínima ideia do que vesti quando fui aos anos do Tolentino. E muito menos sei como se chamava a minha última namorada. Sei é que era uma picuinhas da merda, onde é que já se viu acabar um namoro só por eu não saber o nome dela. Mas nesta série não. Vão desenterrar casos de há 20 anos atrás e quando vão interrogar as pessoas elas lembram-se de tudo. Não há nem uma que se tenha esquecido de nada, amnésia ali não há. E depois também resolvem sempre tudo, armados em CSI's.
Não pensem que só as séries estrangeiras são más. Um dia vou reflectir sobre séries portuguesas que têm mil motivos para serem enxovalhadas. Para já vou falar só de uma que é o auge do pobrezinhos que somos. Alguém se lembra do Major Alvega? Basicamente, era o Ricardo Carriço armado em herói a matar nazis, que eram portugueses a falar com sotaque alemão para as pessoas pensarem que eles eram mesmo nazis e os cenários eram desenhos animados. A União Europeia começou a parar de mandar dinheiro para Portugal e a perder a esperança em nós quando uma vez um responsável deles veio cá de férias e viu um episódio do Major Alvega a dar na RTP. E o pior é que passados 15 anos, o Ricardo Carriço continua a entrar nas novelas todas, talvez para as pessoas se esquecerem que ele era o Major Alvega.
P.S.: Lembrei-me agora de outra do Ricardo Carriço que nunca mais vou esquecer. Uma vez vinha de viagem e vi o Ricardo Carriço numa estação de serviço, acho que era em Santarém, a comprar uma revista. Se não me engano era a «Visão» ou outra dessas que traz notícias e reportagens normais que não interessam a ninguém. Mas quando a moça da caixa se virou para fazer-lhe o troco, ele pegou num chupa e pôs ao bolso. O que me revoltou foi que ele teve tempo suficiente para escolher o sabor e pegou num de cereja, logo os piores, quando tinha ali à mão de semear um de cola ou um de limão.
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