domingo, 23 de junho de 2013

Porque é que ser camionista não é ser o maior


Estava eu sossegado a ver moças a fazerem coisas que não deixariam os seus pais nada satisfeitos com elas quando recebi um e-mail. Detesto ser interrompido quando estou a ver a previsão do tempo. Mas perguntam-se vocês qual o motivo deste e-mail, porque não ia começar a receber um texto assim se tivesse recebido daqueles e-mails que têm um Powerpoint e que eu nunca abro ou se fosse alguma publicidade. E têm vocês razão. Este e-mail que recebi era de uma proposta de emprego para mim. Sugeriam-me ser camionista.


Numa primeira análise, nem era uma proposta má. Estava longe do Jorge Abel, ia visitar outras localidades e países e até existia uma música, que podia passar o meu toque de telemóvel. Aquela que o moço que canta diz «sou camionista, sou o maior». Digam-me que mais profissões no Mundo têm músicas assim. Há aquela dos toureiros, mas está em espanhol. Em português não há mais nenhuma assim. Tirando aquela do Quim Barreiros de ser chefe de culinária. Nunca vi nenhuma música sobre serralheiros, caçadores, calceteiros ou bombeiros. Mas já vi uma vez um filme que era «As Bombeiras das Virilhas». Digo-vos já que não correspondeu às minhas expectativas.


Mas depois pensei bem e achei melhor rejeitar a proposta. Afinal de contas ser camionista não é ser o maior, pelo contrário. Olha vejam lá porquê:



  • Experimentem dizer a uma moça num encontro ou numa disco que se é camionista e a noite vai ser a seco. Dizer que se é astronauta, neurocirurgião ou psiquiatra cola, mesmo que as moças saibam que se está a mentir, mas mal se diz camionista afastam-se logo e «vão ter com uma amiga»;

  • Vi uma vez num documentário que havia descontos especiais para camionistas em espetadas ou entrecosto, nas churrasqueiras à beira da estrada ou nas estações de serviço. Mas pesquisei melhor e descobri que isso é um mito urbano. Paga-se como os outros, como se fosse um desempregado, um mecânico ou um violador (que também acaba por ser uma profissão, ainda que só reconhecida no código penal);

  • Também ouvi uma vez que os camionistas tinham descontos na saúde mas depois disseram-me que isso era para os pensionistas. Portanto, os cabrões dos pensionistas têm mais regalias que os camionistas? Peço desculpa, não queria dizer cabrões. Até porque alguns pensionistas podem já ter sido camionistas e esses merecem todas as regalias;

  • Os camionistas conduzem durante 8 ou 10 horas seguidas. Uma vez joguei Call of Duty durante 8 horas seguidas e depois nunca mais peguei na porcaria do jogo. Já estava farto, nem o podia ver à frente. Imagino eu a conduzir 10 horas até França ou até à Islândia e depois não querer conduzir nunca mais. Tinha que vir de avião para casa e ficava muito mais caro;

  • Enquanto camionista, uma de duas coisas me ia acontecer: ou ia ter um parceiro de viagem chato ou ia sentir-me na obrigação de dar boleia a moços duvidosos que iam para sítios ainda mais duvidosos com intenções que até o próprio Jorge Abel ia achar questionáveis. O Jorge Abel que, quando uma vez lhe perguntaram se já tinha ouvido falar do Armagedão disse que não mas que tinha visto todos os Armas Mortíferas;

  • Enquanto bom camionista ia ter que andar sempre de camisa e um boné verde. Este boné, possivelmente, com o passar do tempo, ia ser daqueles que se fizeram para a selecção portuguesa no Euro 96, que vieram em excesso e então ainda hoje há caixas empacotadas desses bonés para se dar aos imigrantes, aos camionistas e aos moços que vão aquelas festas populares organizadas pela TVI;


  • Os camiões só têm rádio, não têm leitor de CD. E ainda por cima têm que ir sempre na Rádio Popular ou na Renascença. Se mudar para uma rádio como a Comercial ou a Nova Era e for apanhado por outros camionistas posso ser espancado sem critério e sem ninguém ir preso.



Sendo assim, preferi manter-me desempregado. Não por causa deste último ponto, já não me lembro da última vez que ouvi rádio. Mas sei que uma vez trabalhei num sítio que estava sempre na Rádio Popular e aquilo tinha música popular, fados, brasileiros a rezar e publicidade a talhos. Nem era uma rádio má menos quando dava músicas da Romana. Sempre me intrigou uma moça que se juntava com um moço que já tinha sido casado e ainda reclamava por causa da influência que a ex-mulher tinha nele. Tanto quanto sei a Romana pode ter sido a amante do moço e ter acabado com o casamento deles e ainda está ali a reclamar? Mania destas moças de violarem aquele princípio social do «não faças aos outros o que não gostas que façam a ti». 





P.S.: Até gostava de saber como é que vocês reagiram aquele desabafo infantil do Jorge Abel estar apaixonado pela Paulinha. Com pena dele? Com alegria por ele estar a viver o amor? Ou penitenciaram-se por o terem encorajado a escrever e agora terem que levar com estes desabafos? Eu reagi com pena. É que a Paulinha é daquelas moças que se a convidares para tomar café e no fim tomares a iniciativa de pagar, no carro já tens acção garantida. É muito fácil. Nem sei porque é que o Nando Farras se deu ao trabalho de lhe levar um chourição a casa.

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