terça-feira, 4 de junho de 2013

Não consegui dormir nada porque o meu vizinho está a fazer obras em casa


Normalmente não me queixava disto, primeiro porque nunca consigo dormir uma noite inteira. Às vezes tenho fome a meio da noite e levanto-me para ir comer uma pêra, outras vezes é o meu irmão que me acorda porque quando tem insónias gosta de acordar as pessoas, outras ainda acordo a pensar se fechei o frigorífico quando fui buscar uma pêra e, pelo sim pelo não, levanto-me e vou verificar. Mesmo que não tenha comido uma pêra. Muitos de vocês devem-se estar a perguntar porque guardo as pêras no frigorífico quando toda a gente costuma tê-las em cestos de fruta, na cozinha. A mim sempre me disseram que a fruta fresca era a melhor e eu também gosto mais da fruta fresca, por isso ponho no frigorífico. Mas só as pêras! Que as maças, se forem ao frigorífico, ficam castanhas e moles e sabem mal.


Também não ia dizer mal do meu vizinho, até porque sempre me dei bem com ele. É daquelas pessoas que sempre que me vê fala comigo de alguma coisa e depois manda sempre cumprimentos para os pais, mesmo que tenha falado com eles nessa manhã. Já levei muitas coças do meu pai por lhe ter dito que o Sr. Fagundes tinha mandado cumprimentos. O meu pai achava que eu lhe estava a chamar amnésico e que não se lembrava das coisas porque tinha estado com o Sr. Fagundes uma hora antes. Também já levei coças do meu tio por o Sr. Fagundes não lhe mandar cumprimentos. A culpa não é minha. Também não é do Sr. Fagundes. A culpa é da nossa cultura que só inventou o «cumprimentos aos pais» e não o «cumprimentos aos pais e tios». Já disse ao meu tio que a cultura relega o papel de tio um bocado para segundo plano. E já levei coças do meu tio por fazer parte de uma cultura que deixa os tios em segundo plano.


Por esta altura devem estar vocês a perguntar porque é que então estou a reclamar com o meu vizinho quando até me dou bem com ele. Que as pessoas façam obras em casa tudo bem, é natural que as casas precisem de algumas obras, mas isto já dura há 3 dias inteiros, dia e noite. A minha mãe diz que suspeita que o Sr. Fagundes seja o próximo a aparecer no «Querido, mudei a casa» porque esses moços é que trabalham dia e noite para a casa estar pronta a tempo do episódio dessa semana. Eu disse que não gostava desse programa porque eles só usam tintas da Robialac. O meu pai deu-me uma coça porque disse que eu não devia gostar desse programa por dar na SIC Mulher e por ter a palavra «Querido» no nome. Ao menos o meu patrão disse-me que eu fiz bem em não ver esse programa por causa disso. Ele é que era obrigado a ver porque a mulher gostava muito.


Quando contei ao Gary que o Sr. Fagundes, às vezes, eram 2h da manhã e estava a dar marteladas, ele pensou que eu estava a tentar copiar o Rebelo nas metáforas sexuais. Só percebeu que eu estava a falar de obras quando lhe disse que logo às 7h da manhã já estava o Sr. Fagundes a usar o berbequim. Segundo o Gary, pode-se gozar com tudo no mundo menos com ursos pardos e berbequins. E o que o Sr. Fagundes andava a fazer era a gozar com a minha cara. O Gary disse-me que conhecia uns moços que se punham a fazer barulhos de obras a altas horas da noite e mesmo cedo de manhã só para ver quanto tempo demorava para os vizinhos irem lá tirar satisfações. Pelos vistos até havia um site desses, em que as pessoas faziam apostas no tempo que os vizinhos demoravam a ir lá e os prémios para quem acertasse eram enormes, uns 40 contos à vontade. Não sei como o Gary sabe estas coisas, mas ele pediu-me para lhe mandar uma mensagem quando o meu pai perdesse a paciência e fosse a casa do Sr. Fagundes.


Isto de estar acordado toda a noite é uma merda. Uma porcaria, queria dizer uma porcaria. Agora não posso apagar que o meu Delete está estragado. Mas é mesmo uma porcaria. Como não adormeço, não acordo com fome a meio da noite e não tenho comido pêras. Ainda ontem pus 3 pêras ao lixo que de tanto tempo no frigorífico já sabiam a Compal de Pêra. Não gosto nada de Compal de Pêra. O Compal está para os sumos como a Robialac está para as tintas, é só publicidade, mas aquilo é mesmo espesso e há coisas de muito melhor qualidade. Depois, e pior que a parte das pêras, é que o meu rendimento na fábrica anda a ser afectado com esta situação. O meu patrão ainda acredita em mim porque lhe contei tudo, mas as pessoas que trabalham comigo olham para mim de lado, a julgar-me porque faço directas. Até podia explicar-lhes o que se passa mas desde que cheguei mais atrasado que o Nando Farras ninguém ia acreditar em mim.








P.S.: Começo a achar que ninguém é despedido naquela fábrica, o que é bom para mim porque assim escuso de levar coças do meu irmão por estar desempregado. Nunca percebi bem a panca do meu irmão de bater nos desempregados, porque a minha mãe é desempregada há 37 anos e ele nunca sequer lhe deu um empurrão. Já nem digo carga de ombro, que isso não é falta, mas um empurrão mesmo. Uma vez, o Nando Farras, veio de trabalhar de directa depois de ir a uma festa de techno e ainda vinha tão excitado com aquilo que deu um empurrão ao Alcino dos Recursos Humanos, que só não o processou porque achava que aquilo não tinha sido assédio sexual e essa é que é a especialidade dele.


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