sábado, 6 de julho de 2013

Conselhos com 400 anos de atraso


Ando numa de ter alucinações daquelas mesmo maradas. No outro dia comprei um iogurte de melão, que nunca tinha visto à venda e aquela merda soube-me a limão. O Tolentino disse-me que se calhar li mal o rótulo mas eu acho é que há gente demoníaca a trabalhar nas empresas de iogurtes, que dizem que os iogurtes são de melão, enganam as pessoas e depois metem para lá iogurtes de limão e as pessoas nem dão pela diferença. Ainda bem que os moços que trabalham na fábrica do «Bongo» não fazem isso, imagino comprar «Um Bongo» de 7 frutos e aquilo saber-me a frutos do bosque. Se bem que não sei bem a que é que sabem os frutos do bosque, isto se eles existirem mesmo e não forem outro produto da minha mente.


Normalmente, um período fértil em alucinações era também um bom indício de escrever mais textos. Mas não é bem assim que isto funciona. Parece aqueles livros que nos ensinam a levar moças para a cama mas que se esquecem de pôr na primeira página que a moça também precisa de estar interessada em nós, caso contrário nada daquilo faz sentido. Ou tudo aquilo faz sentido se conseguirmos determinadas drogas. COISA QUE EU NUNCA FIZ, ATENÇÃO. Tive que pôr a letras maiúsculas para ninguém usar isto contra mim em tribunal. Sabiam que o Jorge Abel dizia que os moços que andam no ginásio vão lá para treinar os «maiúsculos»? E se lhe perguntarem o que é «minúsculo» diz que é um «maiúsculo» pequenito. E lêem vocês os textos dele.


Mas volvidos dois parágrafos perguntam-me vocês que conselhos são estes com 400 anos de atraso. Simples: apenas simples ideias alucinatórias da minha parte sobre o que se devia ter feito há 400 anos para que o tráfico de escravos em barcos de carga não fosse tão estigmatizado. Vejam lá:



  • À chegada dos barcos, os jornalistas iam entrevistar os que tinham chegado, recolher as primeiras impressões dos reforços. Tal como se vê hoje em dia, as principais frases seriam «é um sonho chegar à Europa», «vou trabalhar muito», «quero dar muitas alegrias» ou «não venho para substituir ninguém, só para segurar o meu lugar»;

  • Os proprietários pequenos, em África, eram aconselhados a pôr cláusulas de rescisão nos seus activos. Assim, os europeus não podiam simplesmente chegar lá e trazer as pessoas a custo zero. Pagavam uma cláusula ou negociavam com os proprietários e faziam os negócios em condições, sem ser tudo à balda como era antigamente; 

  • Se um contratado não rendesse bem na Europa logo à primeira vez era escusado matá-lo. O melhor era que o emprestassem um ano ou dois a África (podia ser com ou sem opção de compra, dependia da vontade do proprietário) outra vez e depois voltava, mais experiente e com vontade de triunfar na Europa. A adaptação nem sempre é fácil, às vezes é preciso dar espaço para a pessoa não ser um investimento perdido. 

  • Como queriam estes proprietários e dirigentes que as pessoas rendessem ao seu melhor nível se a preparação física era descurada? Para se render bem, as pessoas tinham que estar bem preparadas fisicamente, não era chegarem no dia depois de uma viagem de dias seguidos e começarem logo a trabalhar. Nem se faziam treinos de pré-época nem nada, era chegar e começar logo a trabalhar. Além disso, os barcos em que eles vinham nem tinham uma sala de ginásio nem nada, como chegavam era como começavam a trabalhar, assim era difícil;

  • Alguma vez alguém se preocupou com as dificuldades com o idioma que os contratados pudessem ter e como isso influenciaria o seu rendimento? É que na altura, os africanos tinham uma língua toda esquisita, não podiam simplesmente chegar à Europa e aprender tudo numa hora. Eram pessoas de origens humildes, sem escolaridade e sem frequentarem cursos profissionais. O meu conselho passava por uma semana de adaptação com alguém que já estivesse há mais tempo na Europa e lhes ensinasse o idioma ou então o recrutador em África inscrevia-os num curso antes de oficializar a contratação;

  • Não havia uma política de contratações definida na altura. Tudo o que fosse agente livre era contratado, sem se saber quais as suas aptidões, a sua posição preferida ou as suas limitações. Claro que a rentabilidade era baixa se se contratava assim à toa, só para encher. Umas pessoas podiam trabalhar mais em equipa e outras assumir mais a responsabilidade. Por isso, havia de haver captações, os observadores europeus estarem espalhados pelo continente africano para saberem o que e quem contratar especificamente, em vez de ser à sorte;

  • A ideia que eu tenho, desde que estudo o tráfico de escravos é que os europeus só queriam contratar jovens promessas. Pela minha experiência, muita juventude dá sempre mau resultado. Olhem para os bandos de delinquentes: os que andam aí a monte têm sempre dois ou três membros com mais experiência. Os que são apanhados são aqueles que só têm miúdos. Também aqui, por vezes, era necessário contratar alguém com mais experiência, que já tivesse muitos anos de Europa para poder integrar bem os jovens, orientá-los e  ajudá-los na adaptação;

  • Outra ideia que tenho, prometo que é a última, é que eram todos contratados com promessa de serem titulares. Não havia suplentes. Se alguém se lesionava ou estava a render menos, não havia maneira de o substituir sem ser através da morte. Claro que assim toda a gente queria abolir a escravatura! A minha sugestão é que houvesse titulares e suplentes. Se algum titular estivesse a render menos podia sempre ser substituído e assim motivava-se os suplentes. Se todos rendessem bem, os suplentes que quisessem jogar mais podiam pedir para ser emprestados ou transferidos para outro proprietário europeu, emigrar para o continente americano ou voltar a África, emprestado ou a custo zero.




Como vêem, caso isto fosse posto em prática, todos lucravam. Havia menos mortes no ramo e, portanto, era mais atractivo e visto como um bom futuro para os filhos dos africanos que ficavam no continente; havia maior rentabilidade para os europeus, que em vez de contratarem tudo o que mexesse e tivesse os 2 braços e as 2 pernas podiam fazer um recrutamento específico; liberalizava o mercado de transferências, com empréstimos, trocas e compras e vendas; potencializava-se a classe jornalística, com entrevistas aos novos recrutas, comentários de ex-escravos sobre quem ia ser uma estrela e quem ia decepcionar e cobertura em directo da chegada dos novos recrutas; dava-se às pessoas um tema de conversa por exemplo adivinhar se o Sr. Dantas do algodão ia contratar alguém no mercado de Junho ou se ia aguentar o plantel até Dezembro para depois retocá-lo com uma ou outra contratação. É que há 400 anos as pessoas só falavam de impostos, de guerras e de doenças, como se vivessem num lar de idosos todos os dias. Com estes meus conselhos, podiam ser um pouco mais felizes.






P.S.: Não quero com este texto dizer que sou amante da escravatura. Quer dizer, por acaso até sou, mas vou reformular: não sou amante da escravatura exclusivamente dos pretos. Por exemplo, se há 400 anos atrás houvesse algum proprietário africano com possibilidade de recrutar europeus, os mecanismos mantinham-se e até ia ser interessante verificar as manchetes dos jornais africanos à chegada de europeus para trabalharem no campeonato deles. E, por outro lado, sempre que vejo aqueles anúncios nos jornais a dizerem que se lhes ligares vão ser as tuas escravas do prazer, são moças brasileiras, ucranianas ou espanholas. Assim está bem, viva a escravatura, agora se for só para os pretos, não vale a pena.



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