quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Factos históricos que nunca aprendi na escola


Constou-me que ando a perder qualidades. O pior é que ninguém me disse, fui eu que descobri por mim. Detesto descobrir coisas por mim. Pelo menos sempre que vejo episódios de CSI em que descubro logo quem é o assassino, mudo de canal, o episódio perde a piada toda. Porque raio hei-de ver eu um episódio inteiro em que já se sabe quem é o assassino e só se vê a forma como ele é apanhado? Para ver coisas que já sei como acabam leio a Bíblia, que aí também há mortes e sabe-se quem mandou matar e porquê, sem mistério nenhum. O problema da Bíblia é mesmo ter um porradão de páginas e usarem termos difíceis de compreender. Nisso a Bíblia é como aquelas séries de tribunais, que mal começam a falar em decretos-lei eu mudo logo de canal. 



Se há coisa que a Bíblia é forte é na sua componente histórica. Para ser um livro que tivesse tudo sobre História só faltava ter lá histórias de dinossauros e de Visigodos, mas acho que o padre daqui dizia às pessoas na missa que a Igreja não acreditava em dinossauros e que isso era tudo invenção. Eu não acredito que seja invenção porque uma vez vi um Pterodáctil a comer as pombas aqui no parque à beira de casa e não foi nenhuma alucinação porque o Nando Farras estava comigo e disse que também viu apesar de não saber o que era um Pterodáctil. E se os dinossauros fossem invenção o moço gordo que no Jurassic Park estraga tudo, não tinha acesso a ovos de dinossauro, porque eles nunca tinham existido. O Jorge Abel nas poucas coisas acertadas que disse na vida dele foi que gostava de ter vivido no tempo dos dinossauros. Eu também gostava. Devia ser um bom espectáculo de sábado à tarde vê-lo a ser comido por um Alossauro.



Mas sei que há muita gente que acredita na Bíblia, logo não acredita em dinossauros. Eu na escola nunca dei os dinossauros, o que é uma grave falha no meu percurso académico, felizmente corrigida pela presença em vários seminários, entre os quais o meu preferido, «As tendências políticas de extrema-direita dos Broncossaurus». Ao longo da vida reparei que há muitas coisas importantes sobre História que nunca aprendi na escola. Vou fazer-vos um favor e dizer os 5 mais importantes:




  • Foram os Homo Habilis que descobriram a agricultura. Para quem for mau a História, são aqueles meio curvados, que começaram a usar o fogo e a agricultura. Ao descobrirem a agricultura descobriram um cereal, que quando comiam de manhã lhes dava alta força, que até iam caçar mamutes e serrar eucaliptos, ainda antes de haver um campeonato nacional para essas modalidades. Um druida lembrou-se e chamou a esse cereal «Ferro». Muitos anos depois, na era em que o negócio de espadas era rentável (nada como hoje em dia, infelizmente), um artesão, que era o Rebelo daquela altura, chamou ao metal de que eram feitas as espadas de «ferro» porque era muito forte, tal como o cereal que os Homo Habilis descobriram um porradão de anos antes;

  • Um dos negócios que mais perdeu praticantes foi a feitiçaria, a bruxaria e as artes do oculto. Graças à Inquisição, hoje em dia, as videntes e os mestres do oculto que temos são todos farsas. Ao início, quando se anunciava que se iam queimar bruxas e feiticeiros aos domingos à tarde, as pessoas enchiam as praças e queriam ver. Com o tempo, duas coisas foram acontecendo: começou a haver escassez e as pessoas viam que alguns não eram feiticeiros de verdade, que só se dizia que eram feiticeiros para enganar as pessoas e atrair público, que queimar camponeses não atraía público nenhum, e com as transmissões televisivas, muitos desses espectáculos deixaram de ser ao domingo à tarde e passaram para os domingos à noite ou para dias da semana e começou a perder espectadores. Mas no tempo que durou, morreram todos os feiticeiros e bruxas em condições;

  • Nunca percebi bem porque é que existe a América do Norte e a América do Sul, mas depois percebi o porquê quando fui a um seminário sobre a origem das maracas na música tribal. Aparentemente, tal como hoje em dia existe o Capitão América, na altura existia o Sr. Américo, que na prática era o senhorio de todos os que quisessem alugar uma casa ou uma cabana naquele continente. Tudo parecia bem, mas quando o Sr. Américo morreu e ficou a mulher dele a tratar dos alugueres, os do Norte começaram-se a queixar que os do Sul tinham mais horas de sol e moças mais bonitas. A mulher do Sr. Américo, para resolver a situação, começou a cobrar mais aos do Sul que aos do Norte e fazia mesmo essa distinção. Como as pessoas na altura não sabiam fazer bem a concordância de género, pensavam que a mulher do Sr. Américo se chamava América, como se fosse nome de família em vez de ser nome próprio e a divisão que ela fez às terras passou a ser chamada de «Américas do Norte» e «Américas do Sul». Entretanto, como passamos a ser mais instruídos, tiramos o «s» de «Américas», mas mantivemos a divisão;

  • Se houve coisa que eu sempre li e que sempre gostei de saber mais era que os Fenícios e os Cartagineses se fartaram de fazer negócios entre eles na Península Ibérica. Mas depois, ao longo da minha vida adulta, descobri que não foi só isso. Eram pessoas de bons costumes, não era como agora, que uma pessoa vai a uma loja, está lá 20 minutos e ainda critica o empregado, que tem de estar lá 8 horas, por demorar muito. Os fenícios e os cartagineses faziam negócios mas também conversavam e conviviam. Foi desses convívios que surgiu o primeiro dicionário que traduzia de uma língua para a outra, como hoje há os de Português-Inglês, os de Português-Alemão ou os de Português-Francês (que ainda hoje não me dão jeito nenhum). O primeiro dicionário de tradução era o Fenício-Cartaginese e na prática era para eles se entenderem o suficiente para poderem falar sobre álcool, drogas e putas e saberem insultos noutras línguas. Muito como hoje em dia;


  • Para acabar, digo-vos a mais importante e tem a ver com os Visigodos. Nos documentos históricos, os Visigodos aparecem como «povo bárbaro». Inicialmente ficava indignado e não compreendia o porquê de serem considerados bárbaros, mas depois percebi o porquê. Na altura em que os Visigodos existiram, ainda existiam minotauros na Grécia. Tirando alguns ataques de fúria e falhas na comunicação, os minotauros viviam em sociedade e até tinham jeito para a construção. Os Visigodos eram um povo que viajava muito e quando o primeiro barco de Visigodos chegou à Grécia, confundiram um minotauro com um bisonte, mataram-no e comeram-no. Quando os gregos souberam disto ficaram possessos e começaram logo a chamar bárbaros, sem quererem perceber o que se tinha passado. Entretanto, a moda de chamar bárbaros aos Visigodos pegou. Certo é que a carne do minotauro era comercializada a um preço bem acessível e bem mais barata que a de vaca ou de novilho, que na altura já havia novilho apesar de eu ainda não saber que animal é esse. 






Para aqueles que dizem que eu faço textos muito longos, aborrecidos e desinteressantes este texto é muito bom, precisamente porque vos dá razão e mais um argumento para me atacarem. Por outro lado, para aqueles que acham os meus textos delirantes, sem fundamento e completamente descontextualizados da ocidentalização setentrional do mundo ecléctico e paradoxal no qual nos inserimos, não podia estar mais de acordo. Não sei o que escrevi agora, muito menos percebi, se alguém percebeu que me explique, certo é que amanhã quando ler isto nem me vou lembrar que escrevi. Se calhar estou a alucinar. Quem me dera que o meu cérebro tivesse uma daquelas cenas que tem na televisão, no canto superior direito, a dizer «Live» ou «Directo» que era para saber se estava na realidade ou se então era uma alucinação ou um sonho. Assim nos sonhos era fácil. Estava a ser esfaqueado por 3 índios que me queriam roubar o meu jaguar no meio da selva (mas jaguar animal, não era o jaguar carro, senão tinha escrito Jaguar e não jaguar), olhava para o canto superior direito, não via lá «Live» e até aproveitava melhor o sonho, porque sabia que não era real. 







P.S.: Outra crítica que me podem fazer é que raramente o meu último parágrafo serve de conclusão ao texto em si. Também não sei do que estavam à espera, que no último parágrafo vos fizesse um resumo de tudo o que tinha escrito antes? Lessem! Eu também tive que pensar, escrever, ler e reler, por isso não vos faz mal nenhum. Por acaso não pensei, mas podia ter pensado! Para apanhar um montão de informação para no fim me darem um papel onde estava tudo resumido, já me chegou o Dia da Defesa Nacional, quando lá fui há uns anos. Se quiserem tirar conclusões, leiam o texto e tirem vocês. Já agora tinha que fazer tudo eu. Lembrei-me agora que no Dia da Defesa Nacional eles tinham lá uma coisa em fatias que me parecia pão e tirei 4 ou 5 fatias de pão. Quando fui a comer era bolo e tinha os generais todos a olhar para mim com ar de reprovação. Eu devolvi o ar de reprovação, o bolo também não era grande coisa e tive que comer as 5 fatias porque se tirasse 5 e depois deitasse fora ainda me obrigavam a ficar lá. 


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fui com o Sebastião fazer uma visita guiada à Robialac e aquilo é uma porcaria


Hoje o patrão fez anos e deu um dia de férias a toda a gente. Só não deu à secretária dele, que foi obrigada a ir para a fábrica mesmo com aquilo fechado e sem ninguém lá a trabalhar. Deve ter tido um dia de seca, à espera que as horas passassem e a jogar Freecell no computador. O Venâncio na sexta-feira disse-me que queria matar o segurança que está na fábrica à noite, que pôs-se a jogar Freecell no computador da entrada e baixou a percentagem de vitórias de 73% para 66%. O Venâncio disse-me que ia mudar o nome do Freecell para «Calculadora», que ninguém usa a calculadora do computador e assim o moço da noite ia andar à procura do Freecell em todo o lado e não ia encontrar e assim já não baixava a eficácia de vitórias do Venâncio. Como tive um dia de férias e não há daquelas convenções para desempregados à segunda-feira, que é dia de ir ao centro de emprego, aceitei relutantemente o convite do meu ex-amigo Júlio César e fui com o Sebastião fazer uma visita guiada à Robialac. 



A impressão que eu tenho da Robialac é que nunca na minha vida iria trabalhar para ali. Também não iria viver, porque não vi nenhum quarto e as casas de banho não têm banheira, ia ser um bocado difícil para tomar banho. Mas trabalhar é que não ia mesmo. Para começar, não tem segurança à porta. Tem uma câmara a apontar para a entrada e um segurança que está num escritório reservado é que decide se te abre a porta ou não. Eu não conseguia ir trabalhar todos os dias e olhar para uma câmara que decidia se eu podia entrar ou não. Já fico uma pilha de nervos quando saio à noite e entro naquelas discotecas que têm ditadores à porta. Sim, ditadores. Só lhes faltava decidir quem entrava e quem ia para campos de concentração. Não vivo sem ouvir o Venâncio de manhã ou de lhe colocar dúvidas na pausa para o café. Também não vivo sem uma casa de banho que tenha papel ou toalha para limpar as mãos, que os secadores das casas de banho foram desenhados especificamente para não secarem nada e obrigarem as pessoas a limpar às calças. A Robialac por acaso tinha uma daquelas toalhas gigantes enroladas e que as pessoas vão puxando, mas mesmo assim não ia para lá. 



O trabalho deles lá não é difícil, mas reparei que enquanto lá na fábrica há um ambiente descontraído, em que as pessoas tentam sempre chegar à fila do almoço antes de só haver gelatinas, na Robialac é tudo muito competitivo e altamente organizado. Parecem robôs a trabalharem com tintas. Digo isto porque os robôs estão sempre todos bem pintados e polidos, o metal brilha, não tem um único risco. O meu tio uma vez disse-me que a melhor cor para um carro era o cinza metalizado porque além dos riscos não se notarem tanto, se bater em alguém e fugir, o que não falta aí é carros cinzentos. Perguntei ao meu tio se alguém bateu em alguém e fugiu. Disse-me que não, mas que uma vez a minha tia fugiu para casa de uma amiga 3 dias e ele quando a encontrou deu-lhe outro enxerto de porrada. O meu tio sabe sempre como apimentar a relação com a minha tia. Antigamente incomodava-me ouvi-lo contar histórias sexuais que fazia com a minha tia, mas agora que sou adulto compreendo que isso até é bom e saudável.



A pior parte foi a hora de almoço. Comi na cantina, como as pessoas normais. Na Robialac, mais de metade ou vai a casa ou vai ao tasco em frente à fábrica, que é da mulher do dono. Por isso, na cantina ficaram aí umas 20 pessoas. O Júlio César veio todo contente dizer que o almoço era do meu agrado, que eram panados com arroz de feijão. Quando fui servido, vi que era um panado todo cheio de óleo, daqueles que só de pôr o garfo já fico com o prato todo gorduroso. Eu na minha turma uma vez tinha um moço que era o Luís Gorduroso, que tinha um problema de pele, em que ficava todo gorduroso e besuntado, parecia que estava sempre a suar. O meu panado parecia o Luís Gorduroso, com a diferença que o Luís Gorduroso até era uma companhia agradável para se trocar Tazos, que a ele saíam-lhe sempre os mais difíceis. Depois disso, tirei uma maçã e ia tirar uma mousse de chocolate e o do bar chamou-me à atenção e disse que só podia tirar um dos dois. Perguntei ao Sebastião o que é que ele ia escolher, mas ele não queria nem fruta nem sobremesa. Eu a pensar que ele me ia ajudar com este dilema e ainda o agravou: devia levar a maçã ou a mousse? Ou nenhum dos dois?



Enquanto estava a comer, algo me assaltou de repente. Eu já tinha visto o do bar em algum lado! Perguntei ao Sebastião se ele já tinha visto o do bar em algum lado e ele disse-me que provavelmente tinha visto na Revigrés, que eles é que fazem azulejos em granito. Disse-lhe que não estava a falar dos azulejos mas do homem que estava no bar. O Sebastião disse que não olhava para homens desde que confundiu o Leonardo Di Caprio com uma moça e comprou um poster dele e depois teve que explicar ao pai que se tinha enganado. Ia perguntar ao Júlio César mas não quis, ele ainda pensava que tinha voltado a ser amigo dele. Decidi lá ir. Perguntei-lhe se não o conhecia de algum lado e ele disse-me que o devia estar a confundir com algum primo meu a perguntar pelas pessoas sem comprar sequer uma chiclet Gorila. Eu já tinha ouvido aquele discurso em algum lado. Ou era o Imperador da Macedónia ou era o Sr. Gonçalves, que na semana passada tinha feito o Venâncio correr até ao bar. Depois de pensar bem, era o Sr. Gonçalves, que o Imperador da Macedónia tinha morrido há 600 anos. Não sei que raio estava ele ali a fazer, mas na semana passada não gostei nada dele. Já devia ter adivinhado que trabalhava na Robialac ....








P.S.: Juro que nunca mais volto aquela fábrica. O Júlio César no fim disse que ficou muito contente de eu ter lá ido. Porque é que não ficou contente pelo Sebastião? Ele disse-me que ficou contente pelo Sebastião ter ido, mas o Sebastião só era amigo dele há uma semana. Não sabia que as amizades eram como as bebidas alcoólicas, que só são boas a partir de determinado tempo. O meu tio uma vez disse-me que as relações sexuais é como comer um bife, degusta-se tudo e depois caga-se tudo. Mas não sabia que as relações de amizade podiam ser assim também. Quando vínhamos embora o Sebastião perguntou se eu tinha reparado que as latas de tinta anti-fungo deles não pareciam as embalagens do Solero de Frutos Tropicais. Disse-lhe que podia haver tortas Dan Cake de frutos tropicais e ele concordou. O Sebastião é o meu novo melhor amigo. 


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Dizem que o tempo cura tudo e parece que é verdade


Normalmente não ligo a provérbios porque acho que foi o aproveitamento feio da sabedoria popular sem sequer lhes oferecer direitos de autor. Aposto que se fosse um cientista a inventar o «Grão a grão enche a galinha o papo» ainda hoje as pessoas lhe andavam a pagar direitos de autor por cada vez que usassem essa frase. Como foi o povo, toda a gente usa e ninguém lhes dá nada. E olhem que é bem difícil inventar provérbios! Uma vez eu inventei 4 e usei-os em todas as conversas que tinha mas ninguém prestou atenção e agora até eu me esqueci deles. Aparentemente, as pessoas estão bem servidas com o «quem te avisa teu amigo é», «quem tem boca vai a Roma» ou com o «não te rias do vizinho que o teu mal vem a caminho».



Mas há coisas que mudam. Os provérbios não, que ainda hoje se fala em telhados de vidro quando a arquitectura moderna usa telhados com outros materiais. Havia de ser bonito ter telhados de vidro. Por um lado poupava um dinheirão em luz, mas por outro, as pessoas viam tudo da rua. Adiante. Se há coisas que mudam com o tempo é a forma como avaliamos algumas figuras históricas. No outro dia ouvi um moço todo indignado num canal de televisão a insultar, enxovalhar, criticar, transpirar, respirar, pensar e a dizer mal do Hitler. Realmente, o Hitler foi uma personagem da História má. Se o meu sogro aparecesse nos livros de História era na página ao lado do Hitler. Quando vou jantar a casa dele obriga-me a usar o guardanapo no colo e a comer a sobremesa com os talheres de sobremesa. O Hitler foi mau mas os Faraós do Egipto ainda foram piores e toda a gente os trata com aceitação e admiração. Os Faraós promoveram a escravatura, mataram milhares de pessoas e iniciaram guerras só por capricho, como o Hitler e têm direitos a desenhos animados ,documentários a dizer bem deles e a falar de como veneravam os gatos, sabe-se que ao pequeno-almoço gostavam de comer pães tostados e há filmes no cinema sobre eles. E sobre o Hitler? Nada. A minha teoria é de que o tempo curou tudo. Aposto que em 2400, nas aulas de História, se fale tanto do Hitler como de Faraós e também haja um desenho animado do Hitler, como há de faraós, ou que o Hitler dê um nome a um bolo como dá o Napoleão, outro tirano e que matou um montão de gente. Por agora, que ainda é fresco, é que é proibido falar no Hitler.



Este é outro sinal de trânsito que me intriga e me inspira. Porque raio é que se pode considerar algo sem saída? Tudo vai dar a algum lado, tudo tem um destino. Uma vez, fui à mercearia comprar meio quilo de pêras, que a minha mulher me pediu, e aí, além de testemunhar um assalto à mão armada, fui também alvo de assédio sexual e de assédio telecomunicacional, porque a pessoa que me assediou sexualmente perguntou-me se eu era 91. Quem dita afinal o que é uma estrada sem saída? Somos nós que, tendo em conta a nossa acção, determinamos essa existência ou não de saída. Porque pode não haver saída para carros, mas há para pessoas. E afinal quem é mais importante? As pessoas ou os carros? Já vi notícias de jornais que se mata por amor, por dívidas, por discussões ou por partilhas. Isso é tudo entre pessoas. Nunca vi ninguém matar por causa de carros. Por isso o código devia estar ajustado a pessoas e não a carros. Mas é este o Mundo em que vivemos.





P.S.:  Como amante das Artes no geral e da poesia em particular, anseio o dia em que o Jorge Abel voltar à poesia. Até porque nunca mais vi poemas novos de outros autores portugueses e mesmo que os do Jorge Abel sejam fracos e sem sentido, sempre é alguma poesia. É como não comer francesinha há 4 anos e ir comer uma a Felgueiras onde, provavelmente, comi a pior francesinha da minha vida. Quando era solteiro comi uma moça em Felgueiras e recomendo, fez tudo e era provocadora. Mas francesinhas em Felgueiras, é uma estrada sem saída. 


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O Júlio César foi trabalhar para a Robialac e agora na fábrica sou só eu e o Sebastião


O Venâncio tinha-me avisado que Novembro era o pior mês do ano, porque era a última oportunidade das pessoas praticarem o mal antes de chegar o Natal. É que em Dezembro ninguém faz mal a ninguém. Disse-me o Venâncio que é por isso que no dia 1 de Janeiro os jornais só falam em aumentos de preços e impostos e só se fala em acidentes rodoviários, são as pessoas a descarregar tudo o que estiveram a guardar durante 31 dias. O Gary disse-me que odeia Dezembro porque parece que é obrigatório contribuir para instituições de caridade ou dar moedas aos mendigos. O Gary não gosta de mendigos desde que um lhe roubou uma torta Dan Cake de um saco de plástico enquanto ele estava a levantar dinheiro. Por falar em roubar, o Júlio César roubou 56% da minha felicidade ao ir trabalhar para a Robialac. Ia dizer que roubou muito da minha felicidade, mas depois as pessoas não sabiam exactamente quanto e assim já sabem.



Disse-me hoje que amanhã não ia trabalhar, que já ia para a Robialac. Eu não sabia como reagir. O Sebastião ficou triste mas disse que ficava mais triste se o Hollywood começasse a ser um canal codificado como os TeleCines e se tivesse de pagar. O Júlio César disse que na Robialac pagavam mais e tinham um horário mais flexível. Não sei porque raio quer ele ter um horário mais flexível e mais dinheiro, se passa os fins de semana em casa sem fazer nada. O Venâncio desejou boa sorte ao Júlio César e perguntou se podia ficar com o lugar de estacionamento dele. O Júlio César disse-lhe que ia sempre de autocarro para a fábrica. O Venâncio sabia disso, mas como não tinha mais nada para lhe dizer por não o conhecer bem decidiu perguntar na mesma, só para fazer conversa, que ao menos nos encontros com as moças essa estratégia resulta sempre. 



Não quero saber do Júlio César. Sinto-me traído. O Sebastião disse-me para não pensar muito nisso, que os amigos não se viam pelo local de trabalho, mas pelo dinheiro que nos deviam e pelo número de namoradas que nos roubavam. Tinha de ser namoradas ou podiam ser raparigas com quem quiséssemos sair mas ainda não a tivéssemos convidado por falta de oportunidade? O Sebastião disse que ambas. Lembrei-me da Xana da cantina! Será que ela também ia para a Robialac? Isso é que ia ser mau. Primeiro perdia o meu melhor amigo na fábrica, depois perdia a possibilidade de comer uma peça de fruta e um bolo ao almoço, quando o permitido é só um dos dois. Fui logo ao bar para ver se a Xana lá estava. Só estava o Sr. Gonçalves, que é o responsável do bar. Perguntei pela Xana e ele disse-me que devia estar a confundi-lo com um primo meu a perguntar pelas pessoas sem comprar sequer uma chiclet Gorila. Vim embora sem saber da Xana. Quando comentei este incidente com o Venâncio, ele foi logo a correr para o bar a dizer que não havia nenhum Sr. Gonçalves responsável pelo bar.



Pensei que mentir e atraiçoar os amigos era coisa de moças. O Venâncio disse-me para não dizer isso alto senão as feministas podiam mandar-me para a cadeia. Não sei o que é isso de feminista, mas o meu tio uma vez disse-me que adorava comer moças feministas e espancar moços feministas. O Gary disse-me que ser feminista era moda quando as mulheres não podiam votar no século XIX, mas que agora era tão actual como ir a Lisboa de coche. Ainda bem que nunca andei de coche. Devia ser mesmo difícil estacionar o coche de marcha-atrás. E naquela altura não era qualquer família que podia pagar a carta de coche, devia ser um dinheirão. Se calhar só podia andar de coche QUEM FOSSE TRABALHAR PARA A ROBIALAC. Desculpem, agora excedi-me. Já o meu tio me dizia que se devia manter sempre a postura em público e exceder-me apenas na cama ou na parte de trás dos carros. 



Hoje de tarde não encontrei a Xana da cantina mas encontrei-a à porta da fábrica quando ia embora. Ela perguntou-me se eu já sabia e eu disse-lhe que infelizmente sim e que estava muito triste. Disse-lhe que era muito duro perder uma pessoa amiga desta maneira. A Xana disse-me que foi por eu a considerar amiga que ela tinha aceite o pedido do moço da Costa Rica. Não estava a perceber nada. Eu estava a falar do Júlio César ir trabalhar para a Robialac. Ela também ia? E com o moço da Costa Rica? A Xana disse-me que não, que agora ia trabalhar para o moço da Costa Rica mas era em regime pós-laboral  e intensivo, em casa dela. Isso não me interessava, desde que ela continuasse na fábrica. Já me chegava ter perdido o Júlio César. Só faltava ir a Xana e em vez do moço da Costa Rica ir o Sebastião e o Venâncio passar a fazer os turnos dele à noite. Assim ao menos só tinha perdido uma pessoa. A Xana disse-me que à custa destas coisas e à custa das bananas da Costa Rica serem tão grandes como se apregoa é que ela tinha tido a escolha que teve. Vejo que a Xana da cantina continua a falar por charadas, como se eu tivesse o 12º ano para as perceber.








P.S.: O Sebastião já conheceu o Gary mas o Gary não conheceu o Sebastião. Quando os apresentei, o Gary disse que estava num daqueles dias em que tudo lhe parecia uma alucinação e perguntou ao Sebastião se alguma vez tinha comido um rissol de pêra. O Sebastião disse-lhe que não, mas que uma vez tinha comido um pica-pau no restaurante. O Gary disse-lhe que preferia comer aquele animal que faz «Bip-Bip» nos desenhos animados, porque se o coiote passa tanto tempo atrás dele é porque a carne deve ser espectacular e dar dinheiro se vender a talhos. Enquanto eles conversavam lembrei-me do que o Júlio César me fez. Mas foi por pouco tempo, que o meu tio apareceu-me a perguntar se lhe emprestava 50€ e se lhe dava outros 200€, que ele só me ia poder devolver 50€. O Venâncio sempre me disse que a honestidade deve ser recompensada, por isso dei 50€ ao meu tio e disse que não me precisava de mos devolver. 


domingo, 17 de novembro de 2013

Espero bem que nunca tenha de ir para o céu


Ontem descobri que há pessoas no Mundo mais chatas que o Jorge Abel. Antes que comecem para aí a dizer que eu sou severo demais com o Jorge Abel, severo era o meu professor de Ciências que uma vez me marcou falta disciplinar por eu dizer que em Ciências se devia ensinar os nomes dos principais dinossauros e que isso era muito mais interessante que perceber como funciona o aparelho digestivo. A partir desse dia, por muito bons que os meus testes fossem ele nunca me dava mais que 3. Ainda bem que no 10º ano deixei de ter Ciências. Foi uma perda de tempo. Hoje continuo sem perceber o meu sistema digestivo, só sei que ele funciona e ainda por cima não aprendi nada sobre dinossauros na escola. Só descobri que os dinossauros foram os primeiros animais a comer bifes com molho tártaro numa convenção a que fui com o Tolentino.



Mas perguntam vocês quem são essas pessoas mais chatas que o Jorge Abel. A resposta é fácil: aquelas velhas que andam a vender bíblias e a oferecer editoriais religiosos na rua. Ontem fui abordado por duas velhinhas que se dirigiram a mim com um «Jovem, quer purificar a sua alma?». Eu acedi. Já há uns tempos que ando à procura de um champô que lave consciências. Até tinha comentado com o Teófilo que o máximo que pagava por um champô desses era 5,99€. Se fosse 6€ já não pagava, esperava que estivesse em promoção. Por isso, cativou-me a ideia de purificar a minha alma. Uma vez disseram-me que fazer sauna purifica a pele porque liberta toxinas. Mas há muita gente esquisita nas saunas e ainda por cima quem me deu esse conselho foi o Rui Rotundas, um moço que nunca teve nenhuma namorada e aos sábados à noite sai de casa com pólos amarelos. Por isso, acedi.



Afinal era um embuste. Estavam a oferecer daqueles editoriais religiosos com capas enganadoras, que te obrigam a abrir a página 1 para veres que são cenas religiosas. Fixei lá uma frase: «Pratica o bem e caminharás toda a tua vida para as proximidades do Céu, que te abraçará na sua paz eterna». Grande porcaria ir para o céu. Espero nunca lá ir parar. Vou explicar-vos o porquê:




  • O céu é longe do mar. Ok, em termos de habitação e de preço por metro quadrado é muito mais barato, mas reparem bem como são desertificadas as zonas do interior e longe do mar. Além disso, estar longe do mar implicava não comer peixe fresco. Se quisesse comer peixe era só bacalhau ou atum enlatado. Grande «paz eterna», ter o desejo de comer um carapau fresquinho e ter que fazer 100 ou 200 km para isso;

  • O céu foi claramente concebido por um arquitecto incompetente. Como construir um espaço onde tanta gente vai residir (ou, pelo menos, aquelas que lerem e aceitarem os ideais que vêm naqueles editais) sem pensar no quão afectadas vão ser as vidas dessas pessoas com o constante barulho dos aviões a passar? Por alguma coisa os aeroportos são construídos fora das cidades, para não incomodar ninguém. Queria ver quem ia ter «descanso eterno» com aviões a passar debaixo de casa de 20 em 20 minutos;

  • Uma coisa que não me ia deixar nada descansado se eu fosse para o céu era o facto de em momentos sexuais ou românticos entre um casal (que, como andam as coisas, podia ser entre duas pessoas do mesmo sexo sem ninguém os perseguir e prender) estarem a olhar para a minha casa. «Já viste como são bonitas as estrelas? Parece o nosso amor, tão bonito». E estavam a olhar para a luz da minha casa de banho enquanto lá estou a ler revistas, sem o saberem. Detesto fazer parte de momentos românticos. Já por isso é que sempre que vou ao cinema entorno a bebida nos bancos todos da minha fila e nos dois lugares imediatamente atrás e à minha frente, para não ter que levar com nada disso durante o filme;

  • Outra coisa que me ia aborrecer no céu é que os vizinhos iam ser todos daqueles bem-comportados e sem histórias interessantes. Todos os dias iam ser monótonos, sem novidades daquelas que empolgam as pessoas que as sabem e envergonham as que as cometeram. Nada de nada. Por um lado, era bom que ninguém me ia dever dinheiro, mas por outro também não havia moças a traírem os namorados ou moços bêbados a perderem os cartões deles na discoteca. Que vida aborrecida;

  • Viver no céu ia ser como aqueles moços que vivem numa cidade calma onde não se passa nada mas sabem que na cidade ao lado há grandes festas, agitação e novidades a toda a hora. O problema é que uma vez entrando no céu não me deixavam sair, ficava lá para sempre. Nem sequer podia pedir um visto de turista para ir ao Inferno a uma festa da mulher ou alguma com bar aberto e voltar no dia seguinte. Estava preso no céu, obrigado a descansar para sempre, sem me poder ir divertir a outras cidades;

  • Com tanto descanso e paz eterna, e com o céu a abundar em sobremesas como as natas do céu ou o toucinho do céu, ia-me tornar obeso. Depois a roupa ia começar a ficar-me apertada e como não tenho conhecimento que haja lojas de roupa no céu ou sequer que haja dinheiro, ia tornar-me naquilo que mais desprezo: obesos que usam roupa claramente desajustada à sua estrutura corporal e a mostrar aquilo que têm a mais aos outros. Basicamente, um obeso é como um rico, mostra aquilo que tem a mais, a diferença é que ninguém admira o que os obesos têm a mais. Eu no céu ia ser assim;

  • Por último, provavelmente a pior coisa de ir para o céu: ia ter os mesmos vizinhos para sempre. Há vizinhos que, eventualmente, se mudam ou morrem e então vêm outros novos. No céu não. Iam ser os mesmos para sempre, porque não há morte da morte. Ou talvez haja e eu não sei, afinal de contas nunca morri. Em termos de morte sou virgem. Espero sair-me bem na primeira vez que morrer. Mas é melhor não pensar nisso senão toda a gente vai reparar que sou inexperiente. Imagino o que é ter um Jorge Abel como vizinho no céu, que todos os dias me vinha falar da diferença entre os fungos da tinta e os fungos da pele e perguntar-me porque é que a torta Dan Cake de morango sabe mais a framboesa que a morango. 






Uma coisa que eu também pensei no outro dia foi sobre se há céu e inferno para as células cerebrais. Vi num documentário no outro dia que, diariamente, num ser humano normal morrem milhares de células cerebrais. Para os que bebem ou consomem drogas esse número sobe ainda mais. Neste momento eu estou a matar células cerebrais. Elas simplesmente morrem e ninguém quer saber? E morrem a trabalhar ou morrem de velhice ou por doença? E imagino os funerais das células cerebrais a estarem vazios porque os amigos e familiares ou estão a trabalhar, ou estão a pensar ou então estão a morrer. Que vida triste a de uma célula cerebral, que nem pode ir beber uma cerveja no fim do dia de trabalho porque isso a mata. E as células cerebrais quando morrem ficam no cérebro a apodrecer ou desaparecem? É que se ficarem a apodrecer aqui e a amontoarem-se no cérebro, começo a perceber as minhas dores de cabeça que tenho tido ultimamente...







P.S.: Pensando bem, não queria ir para o céu mas também não queria ir para o Inferno. Vinha lá no edital religioso que o Inferno era uma prisão para as almas impuras e ímpias. Adoro a palavra ímpia. É uma daquelas palavras poderosas. Mas não gosto de prisões. Nas prisões vale usar carga de ombro e empurrar no basket, é quase todos os dias arroz de atum ao almoço e não há tortas Dan Cake ao lanche. A Paulinha na outra noite disse que eu a levava ao céu. Mas espero que a seja só mesmo levar e vir embora, ela que não se ponha com ideias de eu ficar lá também, que não quero ficar obeso e a passar os dias a ouvir os aviões a passar. 


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Hoje fui trabalhar doente e o meu patrão mandou-me vir mais cedo para casa


O meu patrão é um tipo porreiro. Não passa à frente de ninguém ao almoço só porque é o patrão, uma vez emprestei-lhe uma caneta azul para ele assinar um documento e ele ofereceu-me uma nova só porque tinha roído a tampa da minha e nunca me obrigou a ficar a vigiar a porta do escritório dele enquanto encavava lá moças, como me fazia o meu patrão do talho. Só não gosto quando ele me obriga a ir de férias e me paga para não trabalhar. Hoje, à hora de almoço, ficou atrás de mim e do Júlio César e à frente do Sebastião na fila. Eu bem disse ao Sebastião para não ir lavar as mãos antes de ir buscar o almoço, mas ele disse que era rápido e foi. Quando voltou já estava lá o patrão atrás de nós. Para falar para o Sebastião tinha que me desviar do patrão. Ele ouviu-me a falar e perguntou-me se eu estava bem. Disse-lhe que estava com um bocado de fome, mas que conseguia esperar. Ele perguntou-me se eu estava doente e eu disse-lhe que sim. 



Entretanto parei de falar porque foi a minha vez de me servir. A Xana da cantina hoje serviu-me sem falar muito comigo. Só me perguntou o que é que eu queria. O Júlio César disse-me que era por o patrão estar atrás de nós mas o Sebastião disse-me que era porque ela andava a sair com o moço da Costa Rica que agora trabalha cá na fábrica. Pelo sim, pelo não, quando acabei de almoçar fui ter com a Xana. Perguntei-lhe se estava tudo bem e ela disse-me que estava toda partida, que ainda lhe custava estar sentada mas que estava melhor que nunca. Achei a descrição um bocado contraditória, mas o Venâncio disse-me que no Livro dos Direitos das moças está lá o direito a serem contraditórias sem serem obrigadas a explicarem o porquê. Perguntei à Xana se ela tem visto o moço da Costa Rica e ela disse-me que não, que ele gosta mais de ficar atrás. Realmente, já me tinha parecido que o moço era um pouco reservado, mas tanto também não.



Como estou doente não quis ir falar com o moço. Hoje não. Aprendi em História que foram os portugueses e os espanhóis que mataram os índios todos da Amazónia porque um apanhou uma gripe ou algo do género. Falo com ele quando estiver melhor para que ele não morra na fábrica por minha causa. Nunca matei nenhuma pessoa, mas uma vez a mudar a água do aquário do meu peixe, deixei-o cair ao chão e ele morreu por minha causa. Ainda hoje não consigo comer carapaus porque penso no peixe que eu matei. O meu tio disse-me que matar uma pessoa não custa nada se nos tiver a dever dinheiro ou se nos tiver enganado. Disse-lhe que o Gary uma vez me disse que o Presidente da República da Grécia era um Minotauro e que depois eu fui ver à internet e não era nada, era uma pessoa e que nesse dia me tinha pedido 1,20€ para comprar uma torta Dan Cake e nunca mais me devolveu. O meu tio disse-me que não queria saber da minha vida para nada e perguntou-me se logo à noite ia continuar doente ou lhe podia dar uma boleia até à Lixa.



Eu, o Júlio César e o Sebastião agora andamos sempre juntos na fábrica. O Sebastião é um moço porreiro. Para os que não se lembram, é aquele moço que conheci na semana passada, que almoçava sempre sozinho na fábrica. O Júlio César diz que o Sebastião era o caranguejo que aparecia na Pequena Sereia, mas o Sebastião disse-me a mim que as sereias só existiam na Austrália e ele só saiu de Portugal uma vez, quando foi pôr gasolina a Espanha porque lhe disseram que ficava mais barato. Se calhar o Júlio César está a confundi-lo com outro Sebastião, é bem possível. Uma vez pareceu-me ver o Gary a sair de casa da Xana da cantina às 4:00 da manhã, quando fui comprar cigarros para o meu irmão, mas ele no dia a seguir jurou-me que não era ele, porque tinha estado a jogar Solitário Spider no nível mais difícil, a noite toda. Por isso, é natural que o Júlio César tenha confundido o Sebastião, por causa do nome. Eu também confundo sempre carne à jardineira com carne de porco à alentejano, nunca sei qual é a que leva amêijoas. 



O Venâncio, hoje, quando me viu a ir embora mais cedo, perguntou-me se eu tinha sido despedido. Disse-lhe que não, que o patrão só me tinha deixado vir mais cedo embora por eu estar doente. O Venâncio disse-me que a última doença que tinha tido se chamava amor e que andou assim três meses, mas mesmo assim ia trabalhar todos os dias. O Gary disse-me que da última vez que teve doente, estava com uma gripe terrível, mas depois acordou e descobriu que só tinha tido uma alucinação. O meu tio disse-me que a doença não é assim uma coisa só negativa, porque as moças que estão doentes tornam-se mais vulneráveis e mais fáceis. O Sebastião avisou-me que um tio dele uma vez esteve doente 10 anos e só voltou a aparecer numa véspera de Natal. Depois disse que não tinha dito «doente 10 anos» mas «desaparecido 10 anos» mas eu tenho a certeza que ele disse «doente». 








P.S.: Quando eu perguntei à Xana da cantina se ela fazia alguma coisa depois do trabalho, na segunda-feira, ela perguntou-me se era eu que perguntava ou se era eu, o Júlio César e o Sebastião. Não percebi a pergunta, mas a Xana disse-me que não gostava de frutos secos, que preferia os exóticos, mais sumarentos e saborosos. Às vezes acho que a Xana bebe o óleo com que frita os rissóis às escondidas e fica assim, meia tola. O Teófilo, quando ainda era vivo, chamava aos malucos de «fritos da cabeça», por isso é que acho que a Xana anda a beber óleo a mais e depois aquilo frita-lhe o cérebro como se fossem rissóis. Hoje estou doente, não me apetece muito comer um rissol. Mas mal esteja bom vou com o Júlio César e com o Sebastião comer um rissol, que para ir sozinho não vale a pena. 


sábado, 9 de novembro de 2013

Começa a ser moda ficar em casa à sexta-feira e não ando a gostar nada


Ontem fiquei em casa outra vez. Sei que para quem leu o título não é novidade nenhuma, mas tinha de começar por algum lado e para não começar a dar já novidades decidi repetir a mesma ideia. Ou vocês quando têm alguma coisa para contar a alguém não preparam primeiro a pessoa e só depois é que dizem? É por isso que os restaurantes põem sempre aquelas manteigas e os queijos antes de trazerem os bifes, é para preparar a pessoa. As manteigas e os queijos são quase todos iguais de restaurante para restaurante, os pratos principais é que não. O meu tio disse-me que nas casas de moças é que haviam de fazer isso, de pôr uma pessoa a comer uma moça de entrada para depois ir ao prato principal. Acho que ele anda a ver demasiada televisão e séries daquelas em que os mortos andam para aí a comer as pessoas.



Não ando lá muito contente com a minha vida. O trabalho na fábrica está bom, mas descobri que a vida não é só trabalhar. A vida também é amar, também é apreciar o sabor de um rissol de carne ou conseguir ganhar uma ronda num jogo de sueca. Infelizmente já não como um rissol de carne há umas três semanas. O Venâncio disse-me que já não comia um rissol de carne desde que tinha terminado o namoro dele há três meses. Perguntei-lhe porque é que nunca mais tinha comido um rissol de carne e ele disse-me que pensava que eu estava a usar uma metáfora. Não sabia que as metáforas se usavam, pensei que se faziam metáforas. O Gary está sempre a dizer que o Rebelo da mercearia faz metáforas, não diz que as usa. O Júlio César disse-me que eu só não comia rissóis de carne porque eu não queria, que no bar da fábrica há rissóis todos os dias. Mas são daqueles todos gordurosos, que tenho que usar dois guardanapos para não ficar com os dedos manchados e dou uma trinca e besunta-me os lábios todos. A Xana da cantina diz que gostava que eu lhe deixasse os lábios besuntados, mas felizmente para ela eu não sou nenhum rissol de carne.



Fiquei um bocado triste com o Júlio César, que ele ontem foi sair e nem me convidou. O Sebastião, um moço que trabalha aqui na fábrica e que almoça sempre sozinho disse-me que tinha ouvido o Júlio César a falar que ia a uma noite da mulher e que era melhor não me meter em festas em que se tivesse que ir vestido de mulher. Depois disso disse-me que o que ele gostava mais ao fim-de-semana era de lanchar em casa. Tenho que ver se começo a almoçar mais vezes com o Sebastião que é um moço porreiro. Agora ao almoço a Xana da cantina dá mais atenção ao moço da Costa Rica que veio trabalhar para aqui porque diz que adora comer frutos exóticos. Uma vez a Xana disse a esse moço que ele era da Costa Rica e tinha umas ricas costas. Odeio trocadilhos. Ao menos o Sebastião diz-me tudo sem usar trocadilhos. O Gary está cada vez pior. No outro dia disse que tinha lanchado uma torta Dan Cake melhor que a de morango e quase tão boa como a de chocolate. Perguntei-lhe se era de ananás, de frutos tropicais (que estão na moda pelos vistos), de pêssego ou de baunilha. Só depois é que ele me disse que estava a falar da Paulinha. 



O Venâncio partilhou comigo ontem que o patrão também anda um bocado em baixo. Perguntei-lhe porquê e ele disse-me que não sabia, que não é comum um moço contar a sua vida ao segurança da fábrica que dirige, apesar de isso poder dar um bom filme para dar aos sábados à tarde na SIC. Acho que nunca vi nenhum filme ao sábado à tarde na SIC. O Venâncio também me disse que nunca viu um patrão a desabafar com o segurança mas tudo é possível. Perguntei ao Venâncio porque é que ele era segurança e ele perguntou-me porque é que há tanta pobreza no mundo. Não lhe soube responder e ele disse-me que isso era bom, que assim estávamos em igualdade. O meu tio disse-me uma vez que a melhor forma de ver se havia pobreza num sítio era pela quantidade de prostitutas que se via na rua: se houvesse muitas, o pessoal tinha dinheiro para gastar e elas amontoavam-se, se houvesse poucas é porque havia pouca gente com dinheiro e que preferia ir aos clubes privados. 



Quando ontem estava em casa, para aí à meia-noite, o meu irmão obrigou-me a ir buscar-lhe um casaco à lavandaria. A lavandaria fechava às 19:00 mas ele disse-me para eu ir na mesma, que não tinha nenhum casaco lá, só queria que eu saísse do sofá. Antes de sair fui ao meu quarto e estava lá o meu tio a ver um filme em que um moço ia entregar uma pizza a uma casa com piscina. O meu tio disse-me que um moço está bem na vida quando vai a uma casa com piscina e a moça que está lá o recebe só com um robe onde se vê tudo e ainda por cima não chama a polícia depois de ter relações sexuais com esse moço. Uma vez o Gary disse-me que nada do que os actores fazem nos filmes é real. Disse isso ao meu tio e ele perguntou-me se o Gary consumia alucinogéneos. Disse-lhe que não sabia, mas que normalmente comia torradas. Pelo menos o Venâncio disse-me que sempre que sentia necessidade de consumir heroína comia um pão com manteiga, por isso acho que era a resposta que o meu tio precisava de ouvir. 








P.S.: Como vêem, ainda não convidei a Xana da cantina para ir sair. O Júlio César, quando ainda queria saber de mim, disse que me estava a acobardar. O Sebastião disse-me que nunca convidou uma moça para sair por isso percebia que eu demorasse. Mas o Venâncio disse-me que se há coisas que as moças não gostam é de carros a buzinar quando elas vão a passar, de moças que usam uma roupa igual na mesma festa e de moços que não se decidem. O Venâncio também me disse que no Código Penal que as moças recebem quando fazem 16 anos podem afastar-se de vez de um moço se ele for indeciso durante 1 mês. Para já ainda tenho 2 semanas, mas convém não demorar muito. 


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Motivos que me fazem acreditar que tenho sangue de Visigodo


Fui só eu que reparei que agora os textos do Jorge Abel é quase tudo sobre o que outras pessoas lhe disseram? Parece aqueles debates dos políticos em que eles estão ali uma hora e meia a repetir e a contrariar as ideias dos outros e no fim ainda vão discutir quem é que ganhou o debate. Eu descobri logo que não dava para a política quando em Português no 7º ano a professora decidiu fazer um debate e eu dei um soco ao Valente por ele me dizer que a minha opinião não era baseada em factos. Contrariamente ao que o nome indicava não era Valente nenhum, que começou a chorar e ainda teve que ir levar mercúrio ao posto médico. Há coisa mais homossexual que pôr mercúrio numa ferida? A verdade é que hoje o Valente namora com uma moça que é uma toura enquanto eu ando para aqui com a Paulinha que nem sabe se gosta mais de tortas Dan Cake de chocolate ou de morango. 



Se eu cedo descobri que não dava para a política também descobri que não dava para vendedor de sofás. Também não tinha futuro como profeta, jogador de basebol e dentista. Ao menos sei o que nunca vou ser, não é como certos moços que de repente pensavam que eram poetas. Os poetas e os pintores descobrem-se em crianças, quando pintam melhor que os outros, não é já em adulto. Em adulto aprende-se muita coisa, principalmente no que concerne às melhores maneiras de excitar uma moça, mas a escrever e a pintar é em criança. Claro que há quem diga que o Jorge Abel é uma criança, mas eu acho muito fácil para uma pessoa perceber que já não é uma criança: ver o que lhe acontece se invadir um campo de futebol, ver o que lhe acontece se andar nu na praia e ver o que lhe acontece se pedir um Calipo numa barraca de gelados. Aí apercebem-se logo que já não são uma criança.



Uma coisa que eu acho que sou é um Visigodo. Já falei dos Visigodos por aqui e do meu sonho recorrente em que sou o jornalista que entrevista o capitão dos Visigodos no final da batalha com os Romanos em que ele, humildemente, reconhece a superioridade do adversário e que a equipa vai continuar a trabalhar. Mas há mais motivos para achar que tenho sangue de Visigodo. Vejam lá porquê:



  • Durante muitos anos os Visigodos tiveram como vizinhos na Península Ibérica os Suevos e os Vândalos. E é aqui que me começo a sentir um verdadeiro Visigodo. O meu vizinho de cima era o Sr. Larsson, um suevo, que entretanto voltou para o país dele, porque disse que as portuguesas à beira das suevas são muito fraquinhas. Também já tive um vizinho vândalo, que era o Nando Facadas, mas esse foi morar não sei para onde que não quis dizer a ninguém. O meu vizinho vândalo de agora é um pequenito que faz riscos na porta do elevador;

  • Os Visigodos foram conhecidos por terem feito perseguições religiosas aos cristãos romanos e aos judeus. Eu ainda hoje à tarde, passei pela confeitaria daqui e também fiz uma perseguição aos bispos. Comprei quatro e acabei com a raça deles mal cheguei a casa. Podia era ter comprado um sumo, que comer bispos a seco dá sede. Mas os Visigodos também deviam ter sede depois de tanta perseguição, por isso continuamos parecidos;

  • Diz a Wikipédia, ou seja, é opinião de alguém que não eu, que os Visigodos contribuíram significativamente para muitos dos apelidos encontrados na Língua Portuguesa e na espanhola. Não dizem quais, mas dizem que foram muitos. Eu também já tive influência num nome que ficou para a história, quando comecei a chamar a um moço da minha turma no 8º ano que usava os perfumes da mãe de «Cheirácona». Ainda hoje quando o encontro na rua penso para mim «olha o cheirácona!» e ele ainda se recusa a cumprimentar-me. A isto chamo uma influência à Visigodo;

  • Os historiadores falam no «Direito Visigótico» e na forma como os Visigodos aplicaram as leis do Direito e como essa influência perdurou no tempo. Estou convicto que é por causa dos Visigodos que os defesas esquerdos são tão raros na Selecção Nacional. À custa dos Visigodos, chuta tudo com o pé direito, por influência. Eu também tenho influência visigótica no meu jogo, já que remato com o pé direito. Também no boxe sou influenciado pelos Visigodos, porque dou os socos mais fortes com a mão direita. A mão esquerda só serve para agarrar os colarinhos do outro;

  • Os Visigodos eram amigos dos Romanos, ajudaram-nos e depois entraram em guerra com eles. Por acaso também me revejo nisto porque uma vez ajudei um ex-amigo meu, o Sandro, a conseguir o número da Bárbara, que era a moça mais jeitosa do 7º ano. Depois de o ajudar, fiquei com o número da Bárbara para mim e tentei ser melhor que o Sandro. O Sandro deixou de ser meu amigo e à custa da Bárbara eu passava os intervalos das aulas a falar e a dar beijos em vez de ir fumar para trás da biblioteca ou ir roubar bebidas ao bar quando as funcionárias fossem buscar os croissants que estavam na prensa.




Como vêem, cinco bons motivos que me fazem pensar que sou descendente e a continuação do sangue Visigodo neste mundo. Ainda há o sexto motivo, que é a importância que os Visigodos davam ao lanche. Os «Lanches à Visigodo» eram tão conhecidos no mundo de antigamente como as orgias homossexuais dos gregos ou os combates de gladiadores dos romanos. Não gostava nada de ser grego. Obrigavam-me a ir para o ginásio em criança, era obrigado a saber filosofia e matemática, era obrigado a ir votar e ainda tinha de participar em orgias para ser alguém na sociedade. Por outro lado, agora não estou muito melhor: estou com uma moça que pensa que um aviário é uma fábrica de aviões, tenho um blog onde o Jorge Abel escreve poemas, não tenho trabalho e deixaram de fabricar Chipicaos de morango. Só não me suicido porque isso é para deprimidos e para quem não é Visigodo. 







P.S.: Estava a brincar naquilo do suicídio, se não fosse Visigodo também não me suicidava. Principalmente porque comecei agora a ver uma série que tem 4 temporadas e eu ainda vou a meio da segunda. Se me suicidasse agora não sabia como ia acabar e isso ia-me consumir para a eternidade, nem ia descansar em condições. Já agora, se o Walking Dead são os mortos que acordam cheios de fome e querem comer o que lhes aparecer à frente, eu sou um Walking Dead, que acordo assim todas as manhãs. A diferença é que em vez de comer pessoas, como pães com manteiga ou bolachas.