Normalmente não ligo a provérbios porque acho que foi o aproveitamento feio da sabedoria popular sem sequer lhes oferecer direitos de autor. Aposto que se fosse um cientista a inventar o «Grão a grão enche a galinha o papo» ainda hoje as pessoas lhe andavam a pagar direitos de autor por cada vez que usassem essa frase. Como foi o povo, toda a gente usa e ninguém lhes dá nada. E olhem que é bem difícil inventar provérbios! Uma vez eu inventei 4 e usei-os em todas as conversas que tinha mas ninguém prestou atenção e agora até eu me esqueci deles. Aparentemente, as pessoas estão bem servidas com o «quem te avisa teu amigo é», «quem tem boca vai a Roma» ou com o «não te rias do vizinho que o teu mal vem a caminho».
Mas há coisas que mudam. Os provérbios não, que ainda hoje se fala em telhados de vidro quando a arquitectura moderna usa telhados com outros materiais. Havia de ser bonito ter telhados de vidro. Por um lado poupava um dinheirão em luz, mas por outro, as pessoas viam tudo da rua. Adiante. Se há coisas que mudam com o tempo é a forma como avaliamos algumas figuras históricas. No outro dia ouvi um moço todo indignado num canal de televisão a insultar, enxovalhar, criticar, transpirar, respirar, pensar e a dizer mal do Hitler. Realmente, o Hitler foi uma personagem da História má. Se o meu sogro aparecesse nos livros de História era na página ao lado do Hitler. Quando vou jantar a casa dele obriga-me a usar o guardanapo no colo e a comer a sobremesa com os talheres de sobremesa. O Hitler foi mau mas os Faraós do Egipto ainda foram piores e toda a gente os trata com aceitação e admiração. Os Faraós promoveram a escravatura, mataram milhares de pessoas e iniciaram guerras só por capricho, como o Hitler e têm direitos a desenhos animados ,documentários a dizer bem deles e a falar de como veneravam os gatos, sabe-se que ao pequeno-almoço gostavam de comer pães tostados e há filmes no cinema sobre eles. E sobre o Hitler? Nada. A minha teoria é de que o tempo curou tudo. Aposto que em 2400, nas aulas de História, se fale tanto do Hitler como de Faraós e também haja um desenho animado do Hitler, como há de faraós, ou que o Hitler dê um nome a um bolo como dá o Napoleão, outro tirano e que matou um montão de gente. Por agora, que ainda é fresco, é que é proibido falar no Hitler.
Este é outro sinal de trânsito que me intriga e me inspira. Porque raio é que se pode considerar algo sem saída? Tudo vai dar a algum lado, tudo tem um destino. Uma vez, fui à mercearia comprar meio quilo de pêras, que a minha mulher me pediu, e aí, além de testemunhar um assalto à mão armada, fui também alvo de assédio sexual e de assédio telecomunicacional, porque a pessoa que me assediou sexualmente perguntou-me se eu era 91. Quem dita afinal o que é uma estrada sem saída? Somos nós que, tendo em conta a nossa acção, determinamos essa existência ou não de saída. Porque pode não haver saída para carros, mas há para pessoas. E afinal quem é mais importante? As pessoas ou os carros? Já vi notícias de jornais que se mata por amor, por dívidas, por discussões ou por partilhas. Isso é tudo entre pessoas. Nunca vi ninguém matar por causa de carros. Por isso o código devia estar ajustado a pessoas e não a carros. Mas é este o Mundo em que vivemos.
P.S.: Como amante das Artes no geral e da poesia em particular, anseio o dia em que o Jorge Abel voltar à poesia. Até porque nunca mais vi poemas novos de outros autores portugueses e mesmo que os do Jorge Abel sejam fracos e sem sentido, sempre é alguma poesia. É como não comer francesinha há 4 anos e ir comer uma a Felgueiras onde, provavelmente, comi a pior francesinha da minha vida. Quando era solteiro comi uma moça em Felgueiras e recomendo, fez tudo e era provocadora. Mas francesinhas em Felgueiras, é uma estrada sem saída.
Caríssimo Lucindo,
ResponderEliminarO tempo ja curou alguma coisa pelo Hitler, olhe veja:
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