O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
sábado, 9 de novembro de 2013
Começa a ser moda ficar em casa à sexta-feira e não ando a gostar nada
Ontem fiquei em casa outra vez. Sei que para quem leu o título não é novidade nenhuma, mas tinha de começar por algum lado e para não começar a dar já novidades decidi repetir a mesma ideia. Ou vocês quando têm alguma coisa para contar a alguém não preparam primeiro a pessoa e só depois é que dizem? É por isso que os restaurantes põem sempre aquelas manteigas e os queijos antes de trazerem os bifes, é para preparar a pessoa. As manteigas e os queijos são quase todos iguais de restaurante para restaurante, os pratos principais é que não. O meu tio disse-me que nas casas de moças é que haviam de fazer isso, de pôr uma pessoa a comer uma moça de entrada para depois ir ao prato principal. Acho que ele anda a ver demasiada televisão e séries daquelas em que os mortos andam para aí a comer as pessoas.
Não ando lá muito contente com a minha vida. O trabalho na fábrica está bom, mas descobri que a vida não é só trabalhar. A vida também é amar, também é apreciar o sabor de um rissol de carne ou conseguir ganhar uma ronda num jogo de sueca. Infelizmente já não como um rissol de carne há umas três semanas. O Venâncio disse-me que já não comia um rissol de carne desde que tinha terminado o namoro dele há três meses. Perguntei-lhe porque é que nunca mais tinha comido um rissol de carne e ele disse-me que pensava que eu estava a usar uma metáfora. Não sabia que as metáforas se usavam, pensei que se faziam metáforas. O Gary está sempre a dizer que o Rebelo da mercearia faz metáforas, não diz que as usa. O Júlio César disse-me que eu só não comia rissóis de carne porque eu não queria, que no bar da fábrica há rissóis todos os dias. Mas são daqueles todos gordurosos, que tenho que usar dois guardanapos para não ficar com os dedos manchados e dou uma trinca e besunta-me os lábios todos. A Xana da cantina diz que gostava que eu lhe deixasse os lábios besuntados, mas felizmente para ela eu não sou nenhum rissol de carne.
Fiquei um bocado triste com o Júlio César, que ele ontem foi sair e nem me convidou. O Sebastião, um moço que trabalha aqui na fábrica e que almoça sempre sozinho disse-me que tinha ouvido o Júlio César a falar que ia a uma noite da mulher e que era melhor não me meter em festas em que se tivesse que ir vestido de mulher. Depois disso disse-me que o que ele gostava mais ao fim-de-semana era de lanchar em casa. Tenho que ver se começo a almoçar mais vezes com o Sebastião que é um moço porreiro. Agora ao almoço a Xana da cantina dá mais atenção ao moço da Costa Rica que veio trabalhar para aqui porque diz que adora comer frutos exóticos. Uma vez a Xana disse a esse moço que ele era da Costa Rica e tinha umas ricas costas. Odeio trocadilhos. Ao menos o Sebastião diz-me tudo sem usar trocadilhos. O Gary está cada vez pior. No outro dia disse que tinha lanchado uma torta Dan Cake melhor que a de morango e quase tão boa como a de chocolate. Perguntei-lhe se era de ananás, de frutos tropicais (que estão na moda pelos vistos), de pêssego ou de baunilha. Só depois é que ele me disse que estava a falar da Paulinha.
O Venâncio partilhou comigo ontem que o patrão também anda um bocado em baixo. Perguntei-lhe porquê e ele disse-me que não sabia, que não é comum um moço contar a sua vida ao segurança da fábrica que dirige, apesar de isso poder dar um bom filme para dar aos sábados à tarde na SIC. Acho que nunca vi nenhum filme ao sábado à tarde na SIC. O Venâncio também me disse que nunca viu um patrão a desabafar com o segurança mas tudo é possível. Perguntei ao Venâncio porque é que ele era segurança e ele perguntou-me porque é que há tanta pobreza no mundo. Não lhe soube responder e ele disse-me que isso era bom, que assim estávamos em igualdade. O meu tio disse-me uma vez que a melhor forma de ver se havia pobreza num sítio era pela quantidade de prostitutas que se via na rua: se houvesse muitas, o pessoal tinha dinheiro para gastar e elas amontoavam-se, se houvesse poucas é porque havia pouca gente com dinheiro e que preferia ir aos clubes privados.
Quando ontem estava em casa, para aí à meia-noite, o meu irmão obrigou-me a ir buscar-lhe um casaco à lavandaria. A lavandaria fechava às 19:00 mas ele disse-me para eu ir na mesma, que não tinha nenhum casaco lá, só queria que eu saísse do sofá. Antes de sair fui ao meu quarto e estava lá o meu tio a ver um filme em que um moço ia entregar uma pizza a uma casa com piscina. O meu tio disse-me que um moço está bem na vida quando vai a uma casa com piscina e a moça que está lá o recebe só com um robe onde se vê tudo e ainda por cima não chama a polícia depois de ter relações sexuais com esse moço. Uma vez o Gary disse-me que nada do que os actores fazem nos filmes é real. Disse isso ao meu tio e ele perguntou-me se o Gary consumia alucinogéneos. Disse-lhe que não sabia, mas que normalmente comia torradas. Pelo menos o Venâncio disse-me que sempre que sentia necessidade de consumir heroína comia um pão com manteiga, por isso acho que era a resposta que o meu tio precisava de ouvir.
P.S.: Como vêem, ainda não convidei a Xana da cantina para ir sair. O Júlio César, quando ainda queria saber de mim, disse que me estava a acobardar. O Sebastião disse-me que nunca convidou uma moça para sair por isso percebia que eu demorasse. Mas o Venâncio disse-me que se há coisas que as moças não gostam é de carros a buzinar quando elas vão a passar, de moças que usam uma roupa igual na mesma festa e de moços que não se decidem. O Venâncio também me disse que no Código Penal que as moças recebem quando fazem 16 anos podem afastar-se de vez de um moço se ele for indeciso durante 1 mês. Para já ainda tenho 2 semanas, mas convém não demorar muito.
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