O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Fui com o Sebastião fazer uma visita guiada à Robialac e aquilo é uma porcaria
Hoje o patrão fez anos e deu um dia de férias a toda a gente. Só não deu à secretária dele, que foi obrigada a ir para a fábrica mesmo com aquilo fechado e sem ninguém lá a trabalhar. Deve ter tido um dia de seca, à espera que as horas passassem e a jogar Freecell no computador. O Venâncio na sexta-feira disse-me que queria matar o segurança que está na fábrica à noite, que pôs-se a jogar Freecell no computador da entrada e baixou a percentagem de vitórias de 73% para 66%. O Venâncio disse-me que ia mudar o nome do Freecell para «Calculadora», que ninguém usa a calculadora do computador e assim o moço da noite ia andar à procura do Freecell em todo o lado e não ia encontrar e assim já não baixava a eficácia de vitórias do Venâncio. Como tive um dia de férias e não há daquelas convenções para desempregados à segunda-feira, que é dia de ir ao centro de emprego, aceitei relutantemente o convite do meu ex-amigo Júlio César e fui com o Sebastião fazer uma visita guiada à Robialac.
A impressão que eu tenho da Robialac é que nunca na minha vida iria trabalhar para ali. Também não iria viver, porque não vi nenhum quarto e as casas de banho não têm banheira, ia ser um bocado difícil para tomar banho. Mas trabalhar é que não ia mesmo. Para começar, não tem segurança à porta. Tem uma câmara a apontar para a entrada e um segurança que está num escritório reservado é que decide se te abre a porta ou não. Eu não conseguia ir trabalhar todos os dias e olhar para uma câmara que decidia se eu podia entrar ou não. Já fico uma pilha de nervos quando saio à noite e entro naquelas discotecas que têm ditadores à porta. Sim, ditadores. Só lhes faltava decidir quem entrava e quem ia para campos de concentração. Não vivo sem ouvir o Venâncio de manhã ou de lhe colocar dúvidas na pausa para o café. Também não vivo sem uma casa de banho que tenha papel ou toalha para limpar as mãos, que os secadores das casas de banho foram desenhados especificamente para não secarem nada e obrigarem as pessoas a limpar às calças. A Robialac por acaso tinha uma daquelas toalhas gigantes enroladas e que as pessoas vão puxando, mas mesmo assim não ia para lá.
O trabalho deles lá não é difícil, mas reparei que enquanto lá na fábrica há um ambiente descontraído, em que as pessoas tentam sempre chegar à fila do almoço antes de só haver gelatinas, na Robialac é tudo muito competitivo e altamente organizado. Parecem robôs a trabalharem com tintas. Digo isto porque os robôs estão sempre todos bem pintados e polidos, o metal brilha, não tem um único risco. O meu tio uma vez disse-me que a melhor cor para um carro era o cinza metalizado porque além dos riscos não se notarem tanto, se bater em alguém e fugir, o que não falta aí é carros cinzentos. Perguntei ao meu tio se alguém bateu em alguém e fugiu. Disse-me que não, mas que uma vez a minha tia fugiu para casa de uma amiga 3 dias e ele quando a encontrou deu-lhe outro enxerto de porrada. O meu tio sabe sempre como apimentar a relação com a minha tia. Antigamente incomodava-me ouvi-lo contar histórias sexuais que fazia com a minha tia, mas agora que sou adulto compreendo que isso até é bom e saudável.
A pior parte foi a hora de almoço. Comi na cantina, como as pessoas normais. Na Robialac, mais de metade ou vai a casa ou vai ao tasco em frente à fábrica, que é da mulher do dono. Por isso, na cantina ficaram aí umas 20 pessoas. O Júlio César veio todo contente dizer que o almoço era do meu agrado, que eram panados com arroz de feijão. Quando fui servido, vi que era um panado todo cheio de óleo, daqueles que só de pôr o garfo já fico com o prato todo gorduroso. Eu na minha turma uma vez tinha um moço que era o Luís Gorduroso, que tinha um problema de pele, em que ficava todo gorduroso e besuntado, parecia que estava sempre a suar. O meu panado parecia o Luís Gorduroso, com a diferença que o Luís Gorduroso até era uma companhia agradável para se trocar Tazos, que a ele saíam-lhe sempre os mais difíceis. Depois disso, tirei uma maçã e ia tirar uma mousse de chocolate e o do bar chamou-me à atenção e disse que só podia tirar um dos dois. Perguntei ao Sebastião o que é que ele ia escolher, mas ele não queria nem fruta nem sobremesa. Eu a pensar que ele me ia ajudar com este dilema e ainda o agravou: devia levar a maçã ou a mousse? Ou nenhum dos dois?
Enquanto estava a comer, algo me assaltou de repente. Eu já tinha visto o do bar em algum lado! Perguntei ao Sebastião se ele já tinha visto o do bar em algum lado e ele disse-me que provavelmente tinha visto na Revigrés, que eles é que fazem azulejos em granito. Disse-lhe que não estava a falar dos azulejos mas do homem que estava no bar. O Sebastião disse que não olhava para homens desde que confundiu o Leonardo Di Caprio com uma moça e comprou um poster dele e depois teve que explicar ao pai que se tinha enganado. Ia perguntar ao Júlio César mas não quis, ele ainda pensava que tinha voltado a ser amigo dele. Decidi lá ir. Perguntei-lhe se não o conhecia de algum lado e ele disse-me que o devia estar a confundir com algum primo meu a perguntar pelas pessoas sem comprar sequer uma chiclet Gorila. Eu já tinha ouvido aquele discurso em algum lado. Ou era o Imperador da Macedónia ou era o Sr. Gonçalves, que na semana passada tinha feito o Venâncio correr até ao bar. Depois de pensar bem, era o Sr. Gonçalves, que o Imperador da Macedónia tinha morrido há 600 anos. Não sei que raio estava ele ali a fazer, mas na semana passada não gostei nada dele. Já devia ter adivinhado que trabalhava na Robialac ....
P.S.: Juro que nunca mais volto aquela fábrica. O Júlio César no fim disse que ficou muito contente de eu ter lá ido. Porque é que não ficou contente pelo Sebastião? Ele disse-me que ficou contente pelo Sebastião ter ido, mas o Sebastião só era amigo dele há uma semana. Não sabia que as amizades eram como as bebidas alcoólicas, que só são boas a partir de determinado tempo. O meu tio uma vez disse-me que as relações sexuais é como comer um bife, degusta-se tudo e depois caga-se tudo. Mas não sabia que as relações de amizade podiam ser assim também. Quando vínhamos embora o Sebastião perguntou se eu tinha reparado que as latas de tinta anti-fungo deles não pareciam as embalagens do Solero de Frutos Tropicais. Disse-lhe que podia haver tortas Dan Cake de frutos tropicais e ele concordou. O Sebastião é o meu novo melhor amigo.
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