Para quem, como eu, está farto dos banhos de realidade que tem havido por aqui nos últimos tempos, este vai ser o meu regresso aos textos de comido do cérebro. Já não chegava os textos do Jorge Abel serem maus e repetitivos, agora lembrou-se de escrever poemas. Uma vez uma moça pediu-me para lhe escrever um poema romântico, mas eu preferi dar-lhe um estalo bem dado. De qualquer das formas ela ia acabar comigo, preferi que o tivesse feito por uma coisa sobre a qual, no futuro, não me pudesse gozar. Já por isso é que quando a Noémia me pediu para copiar por mim nos testes de Matemática eu fazia tudo mal de propósito. Podia ter negativa, mas tínhamos os dois. Assim não me podia gozar.
Mas voltando aos poemas. Sinceramente, poderia criticar mas não li nada. O Tolentino é que me disse que o Jorge Abel andava para aqui a fazer poemas como se fosse o Picasso das letras. Saber que o Jorge Abel faz poemas e vir lê-los é como saber que o Capitão Iglo mete a pila em todas as caixas de douradinhos e as pessoas continuarem a comprar. Acredito que algumas o façam por gosto, mesmo sabendo disto, mas a maioria ou não sabe ou finge que não sabe. A última vez que comi um douradinho foi em 1998 e era daqueles de ketchup, em que mesmo quando se mete ao microondas o ketchup vem frio. Por isso, desde 1998 que não sou molestado pelo Capitão Iglo.
Como douradinhos não é uma coisa que se coma ao lanche, adoro lanchar. As minhas primeiras recordações de criança, sem ser andar nu na praia e toda a gente achar piada, ao contrário do que me aconteceu na semana passada quando estava bêbado, é de lanchar. O lanche é uma das coisas mais importantes da vida e um dos pilares da sociedade moderna. Vejam lá porquê:
- Quando uma pessoa está de ressaca nunca toma o pequeno-almoço, raramente almoça mas lancha sempre. O lanche é aquela refeição que os ressacados de uma noite de álcool nunca saltam. Está provado cientificamente pela minha convicção que lanchar cura mais ressacas do que estar deitado no sofá a ver Canal História o dia todo;
- As pessoas atarefadas e com trabalhos stressantes, muitas vezes saem de casa a correr, sem tomar pequeno-almoço. Mas sabem o que fazem sempre? Lancham. Todas as fábricas permitem aos seus funcionários que lanchem, mas experimentem chegar de manhã a pedir para tomarem o pequeno-almoço, passam logo por irresponsáveis e mandriões;
- O lanche é aquela refeição que podes convidar uma moça sem o carácter sério de um jantar ou de um pequeno-almoço. Naquelas pieguices de gaja, as moças vêm no pequeno-almoço o começar o dia contigo. Do mesmo modo, vêm no jantar, o terminar o dia contigo. Como se interessasse para alguma coisa! Mas para evitar esse tipo de coisas é que convido as moças para lanchar. Elas não vêm com grandes expectativas, por ser só um lanche, e tudo o que acontece daí para a frente é uma surpresa total;
- Uma vez comi uma torta Dan Cake de manhã e fiquei cheio até ao almoço. Se beber um Capri-Sone à noite fico com aquilo a balançar-me no estômago e até me cai mal. Mas uma torta Dan Cake e um Capri-Sone à hora do lanche é a melhor coisa que o Mundo fez desde que inventou os patês de atum. Infelizmente, o patê de atum é uma coisa que não me cai muito bem ao lanche, mas sabe especialmente bem depois de encavar uma moça. A Paulinha, sempre que vem a minha casa, sai daqui a cheirar a patê de atum;
- Quando te convidam para almoçaradas, para saíres de lá satisfeito e com a sensação de ter comido bem, tens de pagar sempre, no mínimo, 10€. Quando te convidam para jantares, são no mínimo 10€ para a refeição mais uma quantia entre os 15€ e os 800€ para passares a noite bem, nos copos ou com moças que te dizem que têm uma vida muito mais regrada do que aquilo que realmente têm só para te entusiasmar a pagar-lhes bebidas. Mas, se te convidarem para lanchar, lanchas bem e à fartazana e pagas aí uns 4€. E depois, daí a nada, já estás a jantar;
- À hora do pequeno-almoço, na televisão ou está a dar notícias ou algumas estão sem emissão. À hora de almoço, mais notícias e os filmes que estão a dar são sempre uma porcaria. À hora de jantar, outra vez notícias e, a não ser que esteja a dar algum jogo de futebol, não há nada de jeito para ver. Mas à hora do lanche, se ligares a televisão, está a dar bons filmes, boas séries, bons documentários sobre Visigodos e até bons jogos de futebol. Tudo por ser a hora do lanche.
Neste último ponto o lanche rivaliza com a ceia. Aquele quadro famoso lá dos 12 discípulos chama-se «A última ceia». Mas a minha teoria é a de que, nos tempos modernos, o quadro se chamaria «O último lanche». As pessoas naqueles tempos eram pouco evoluídas, só faziam 3 refeições por dia e não lanchavam. Por isso é que esquartejavam pessoas nas praças públicas, pregavam pessoas em cruzes e faziam negócios com indianos. Não tinham maneiras nenhumas. Se esse quadro fosse «O último lanche» em vez de «A última ceia» se calhar o outro nunca tinha traído o do quadro e o tinha vendido por 50 moedas de ouro. É que 50 moedas de ouro, na altura, dava para lanchar durante uns 2 anos. E naquela altura os lanches dos romanos eram com pretos a abanarem folhas de palmeira enquanto se comia uvas e outras iguarias e se assistiam a orgias. Bons tempos.
P.S.: Um dos motivos que me fazem sonhar com o meu passado de Visigodo é os chamados «Lanches à Visigodo». Os Visigodos eram um povo que pilhava aldeias, violava mulheres, conquistava territórios à força e lanchava. Portanto, para serem uma civilização perfeita, só lhes faltava terem minotauros como animais domésticos e terem uma equipa de futebol que conseguisse ir à Liga dos Campeões e uma selecção que não fosse aos Europeus e aos Mundiais apanhar cabazadas. Nesse campeonato, os mais difíceis de jogar eram os Vândalos, que abusavam da carga de ombro e faziam entradas de carrinho por trás quando o avançado ia isolado. Gente rude esses Vândalos, que nem sequer lanchavam.
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