O local onde tudo o que é produzido é fruto de delírios alucinatórios. De quem escreve e de quem lê.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Pensava que o amor nos fazia felizes mas a mim deixa-me triste
Ontem, a falar com o Venâncio, na pausa para café, perguntei-lhe porque é que o amor era um sentimento que mexia tanto com uma pessoa. Ele não me respondeu directamente à pergunta que lhe fiz, mas disse-me que o amor era como a heroína, gerava dependência, obrigava-nos a gastar um dinheirão e a fazer coisas estúpidas e ainda por cima podia-se morrer por amor. O Venâncio também disse que, como a heroína, amor em excesso ainda faz pior que nunca ter amado na vida. Depois perguntou-me se eu tinha heroína. Disse-lhe que não e ele agradeceu-me do fundo do coração e aconselhou-me a evitar ao máximo comer carnes vermelhas. Foi nesta resposta do Venâncio que vi como a escola pode ser tão diferente da vida real. Bem me lembro nos testes de História quando tinha negativa porque o professor dizia que não tinha respondido ao que era pedido. O Venâncio também não me respondeu directamente à pergunta mas não deixou de me ajudar.
Também perguntei ao meu tio o que ele fazia quando se sentia apaixonado. Disse-me que puxava os cabelos à moça e lhe perguntava se ela queria mais de força. O Gary disse-me que se sentiu apaixonado uma vez na vida dele, que foi quando encontrou um pack de DVD's na Fnac com todos os filmes do Rambo e que mal viu não hesitou em comprar. A Xana da cantina disse-me que quando se sentia apaixonada olhava fixamente para os olhos da outra pessoa. Percebi o que a Xana quis dizer porque estava a olhar para mim mesmo intensamente. Era isso que eu tinha que fazer à Rosa! Agradeci à Xana por me ter aberto os olhos e ela disse-me que tinha uma coisa bem aberta para mim. Espero que seja a janela da cantina, que às vezes aquilo lá faz um calor que estou a comer a sopa e a transpirar por todos os lados. Mas como sempre sopa na mesma, já que tenho direito a sopa, como. O meu tio disse-me que toda a gente tem direitos e deve usufruir deles e que, se os chineses têm o direito de emigrarem para Portugal, ele tem todo o direito de roubar na loja deles, como rouba na dos portugueses, pela igualdade.
Ainda este fim-de-semana, fui sair com o Júlio César e enquanto ele estava envolvido com duas moças e depois a fugir dos namorados delas, eu estava sempre a pensar na Rosa. Só por um momento parei de pensar na Rosa, que foi quando chegou a minha vez e tive de pensar no que queria beber. Também parei de pensar na Rosa quando fui à casa de banho e tive de pensar se o moço que estava ao meu lado estava a olhar para a minha pila ou a olhar em frente, como qualquer moço normal numa casa de banho pública. Ia dizer que não pensei na Rosa duas vezes numa noite inteira, mas foram três, que depois tive de pensar onde estava o Júlio César. Felizmente estava tudo bem, só lhe tinham roubado 20€ e o casaco. Podia ter sido bem pior, podiam ter-lhe roubado um rim ou o carácter. O Venâncio diz que o pior que anda no mundo é gente sem carácter, o meu tio diz que o pior que anda no mundo são aqueles moços que se vestem de mulheres.
Ontem, depois de almoço, estava um casal à entrada da fábrica e eu fugi para a casa de banho. Olhei-me ao espelho e apetecia-me chorar, porque o sol reflectiu no espelho e provocou-me uma reacção qualquer no olho. Mas não chorei. Se não choro quando me entra Head and Shoulders para os olhos, não choro com nada. Não percebo muito de oftalmologia, mas sei que ao menos nunca vou ter caspa nos olhos. Os oftalmologistas são os médicos mais incongruentes do mundo. Quase todos deles usam óculos. Um médico dos olhos que usa óculos. É como uma daquelas enfermeiras que vai à escola pôr preservativos em bananas fazer sempre sexo desprotegida e com qualquer um. Uma vez em casa do Gary vi um filme em que uma moça vestida de enfermeira estava a fazer sexo para aí com 7 ou 8. O Gary disse-me que ela não era mesmo enfermeira, era só para o filme. Só me faltava descobrir que os oftalmologistas também só usam óculos para os pacientes que vão lá não se sentirem sozinhos. Depois chegando a casa tiram os óculos e param de fingir.
Por falar em fingir, a Xana da cantina ainda me deixou com mais dúvidas no outro dia, quando me disse que a Rosa era uma fingida. Eu já vi a Rosa bêbada e não me pareceu nada fingida. Mas a Xana disse-me que se eu quisesse ver uma mulher a sério a fazer-me sentir um homem a sério, podia ir a casa dela à noite. Eu disse-lhe que era um homem a sério e ela perguntou-me se lhe podia mostrar isso na casa de banho. Acho que na fábrica não há casas de banho unissexo e portanto ia violar as regras. O Venâncio disse-me que na prisão os violadores são espancados e mal-tratados pelos outros presos, mas o meu tio disse-me que isso era mito urbano e que os violadores até têm direito a televisão com SportTV na cela. Eu é que já estou numa prisão, a prisão do amor, e está difícil de lá sair. O Gary disse-me que a maior prisão na vida é a de comer um rissol num restaurante a pensar que é de carne e vai-se a ver e é de pescada.
P.S.: Pode não parecer mas tenho saído com a Rosa. No outro dia disse-lhe que gostava dela e ela disse-me que também gostava de mim. Depois perguntei-lhe de que filmes gostava e ela perguntou-me se eu tinha filtros. Por acaso tenho alguns, não gosto de moças que andem na droga, de moças que pertençam a seitas religiosas, nem de moças que não gostem de panados. A Rosa disse-me que eu às vezes parecia estúpido e que ela detestava gente estúpida. A boa notícia é que se só me detesta às vezes, nas outras vezes até pode gostar de mim. Afinal, o amor é mesmo esperança.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário