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quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Ainda não convidei a Xana da cantina para sair. Talvez no fim-de-semana.
Hoje decidi começar pelo título. O Tolentino no outro disse-me que eu estava a ficar parecido com o Gary e isso assustou-me. Perguntei-lhe com o quê e ele disse que em nada, que só me estava a arreliar porque gostava de ver a preocupação na cara das pessoas. O Tolentino disse que prefere ver moças preocupadas que maquilhadas. Depois foi embora, mas eu não acreditei muito que ele estivesse a dizer aquilo só para me arreliar. Realmente, ando a ficar um bocado parecido com o Gary: gosto de lanchar, escrevo sempre dois ou três parágrafos antes de falar no título e não uso pólos amarelos. Perguntei ao Júlio César se me achava parecido com o Gary mas ele disse-me que não, que me achava parecido ao Bruce Willis se eu rapasse o cabelo. O Rebelo da mercearia disse-me, quando fui lá hoje de manhã, que eu e o Gary não tínhamos nada a ver, porque ele conseguia falar com o Gary durante 3 horas sobre qualquer assunto e comigo nem me conseguia apertar a mão sem pensar em enganar-me nos trocos.
Mas voltando ao título, fiquei a pensar naquilo que o Venâncio me perguntou sobre nunca ter convidado a Xana da cantina para sair. Devia convidá-la? O Júlio César disse-me que sim, que a vida é como um jogo de PlayStation em que só é Game Over de vez quando temos de ir jantar. O meu tio disse-me que tempo com moças nunca é tempo perdido a não ser que fiquemos a conversar com elas. O Venâncio disse-me que a melhor forma de convidar uma moça para sair era mostrar auto-confiança, determinação e garantir que íamos pagar tudo. O Gary disse-me que convidar uma moça para sair era fácil, difícil era aguentar uma semana sem comer panados. Ainda ontem comi panados na cantina, foi a Xana que os fez. A Xana faz bem panados, gosta de lanchar e está solteira. A isto o Venâncio chama um bom partido. O meu tio chama «uma porca» porque diz que as moças fazem sexo muito melhor quando estão revoltadas.
Pensei em levar a Xana ao «Aquecimento Global» agora que aquilo abriu outra vez. Ontem ao almoço perguntei-lhe se já tinha ouvido falar no «Aquecimento Global» e ela disse-me que sim, que era o que lhe acontecia se lhe tocassem no sítio certo. Não sabia que afinal havia dois «Aquecimentos Globais», posso dizer que foi um bocado uma desilusão. Agora sei o que sentiu o moço que inventou o Chipicao e de repente chega a um super-mercado e vê Bolycaos, Bimbocaos e mais um montão desses, tudo a copiar. Disse à Xana que o «Aquecimento Global» era um bar onde eu costumava ir e a Xana disse-me que também podia ser um bem que eu começasse a usufruir. Não percebo a Xana às vezes. Faz-me lembrar aqueles moços que dei na escola que diziam que o sorriso de uma moça era de ouro e que o mar era feito de lágrimas. Só gente que não sabe o que é a realidade. Ao Gary chamam-lhe comido do cérebro por dizer que tem sangue de Visigodo, mas a estes chamam-lhes poetas e artistas.
Não que eu esteja a defender o Gary. O meu tio disse-me para ter muito cuidado com os advogados de defesa, porque o que hoje é advogado de defesa amanhã é advogado de acusação. O Gary diz que depois dos actores, que fingem tudo o que sentem, os advogados são os piores, que tanto defendem como acusam. O Venâncio disse-me que as moças também funcionam um bocado na lógica do advogado: uns dias defendem-nos com unhas e dentes e noutros atacam-nos ferozmente. O meu tio disse-me que isso não era verdade, porque ele já atacou ferozmente várias moças e algumas delas não se defenderam. O Júlio César disse-me que as moças são um poço de insegurança à procura de compreensão, mas o Venâncio disse-me que era mais ao contrário, ou seja, um poço de incompreensão à procura de segurança. E eu cada vez a perceber menos disto.
Ontem, antes de sair da fábrica, fui até à cantina para me despedir da Xana. Na prática ia lá para a convidar para sair mas pensei que era melhor fazer isso para o fim-de-semana. Ela ofereceu-me um rissol e depois disse-me que podia comer outras coisas que já há muito tempo que andam com vontade de ser comidas. Achei isso excelente! Perguntei à Xana se ela falava com a comida. Ela disse-me que não, mas que estava a falar com alguém que não se importava que a comesse. Odeio trocadilhos e charadas, são os Sudokus das palavras. E eu não sei jogar Sudoku, volto a concordar com o Gary quando ele diz que o Sudoku é a forma dos chineses gozarem connosco e nos manterem ocupados. Depois de comer o rissol vim embora. Posso dizer-vos que não sabe nada bem acompanhar um rissol com uma charada. Até senti que o rissol em vez de ir para o estômago foi directamente para o cérebro. Se a Xana me voltar a fazer uma charada quando estiver a comer um rissol não a convido para sair.
P.S.: No outro dia vi um episódio de uma série de zombies. Eles andam atrás dos humanos mesmo esfomeados. E se para um zombie a carne humana souber a rissol? Assim também eu era um zombie. O Júlio César disse que ser um zombie não é uma questão de escolha, acontece. O meu tio diz o mesmo dos homossexuais. O Venâncio disse-me que, no fundo, já somos todos uma espécie de zombies, todos atrás de moças sem usar o cérebro devidamente. Perguntei-lhe porque raio me disse ele isso depois de quase me ter incentivado a convidar a Xana da cantina para sair. O Venâncio disse-me que mais vale ser viciado em moças do que viciado em cocaína e que nunca a polícia mandou apreender o Ford Escort dele por levar lá uma moça mas já fez isso por ele levar lá uma dose de cocaína. O meu tio diz que as moças são como uma droga legal que se pode consumir em público. O Gary diz que se as moças forem uma droga isso faz dos homossexuais aqueles moços que andam a vender bíblias na rua.
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