sexta-feira, 18 de outubro de 2013

É sexta-feira, estou em casa e começo a ter pensamentos


Mas não são daqueles pensamentos porcos. O meu tio diz que sempre que fica em casa mais que uma hora começa a pensar em sexo e tem que ir ver pornografia. Não são esses pensamentos que eu tenho. Quer dizer, tirando agora, que me estou a lembrar que uma vez entrei em casa e o meu tio estava na sala a ver um filme chamado «Violada na Lua de Mel». Perguntei se violação não era crime. O meu tio disse-me que na pornografia não era crime e que se alguém fosse apanhado a violar uma moça na vida real e culpasse a pornografia só tinha de pagar uma multa e pagar a conta do hospital da moça. Uma vez a Xana da cantina disse-me que se tivesse que ser violada queria que o violador fosse eu. Fiquei contente por ser escolhido para alguma coisa, na escola nunca ninguém queria ser o meu colega de carteira, ficava sempre ao lado do Paulo, que comia lápis de cera. Também nunca ninguém me escolhia quando faziam as equipas no futebol. Ao menos a Xana escolheu-me para ser o violador. Agradeci, mas disse-lhe que não queria entrar no mundo do crime.



Pelo que vejo nos filmes, entrar no mundo do crime fica caro. Tenho de fazer pelo menos uma tatuagem e cada uma delas custa uns 50 euros. Depois tenho de arranjar uma arma. Perguntei ao meu tio quanto custava uma arma e ele disse-me que tinha a dele para que nunca ninguém lhe fique a dever dinheiro. Não me disse quanto custava uma. O Venâncio disse-me que há uns anos tinha comprado uma pistola por 6€ nos chineses. Era de brincar, mas se alguém lhe entrasse a meio da noite em casa dele e visse a pistola apontada pensava que era a sério. O Júlio César disse-me que ele já estava no mundo do crime, porque em miúdo, quando saía da escola, passava por uma frutaria e roubava sempre uma maçã. Lembro-me de ouvir que roubar para comer não é crime. O meu tio disse-me que uma vez roubou a chave de casa a uma moça para a comer e o juiz disse que ele tinha cometido um crime. O mundo está cheio de incoerências.



Sei que querem que partilhe com vocês alguns dos meus pensamentos. 90% deles são em relação à Rosa. O resto é sobre se os Golden Grahams fazem mesmo cometer loucuras ou se é só na publicidade, sobre como seria o mundo se alguém inventasse rissóis de pargo e sobre a Xana da cantina. Ela hoje, ao almoço, disse-me uma coisa que me fez pensar. Perguntou-me se eu era selvagem. Não seremos todos um pouco selvagens? Não será o amor uma forma que encontramos de domesticar os nossos instintos selvagens? A Xana da cantina disse-me que demasiadas palavras lhe tiravam a atenção. Claro que ela disse naquela forma muito particular dela de falar rápido e disse que «lhe tiravam a tesão». A mim o que me tira a atenção são estes pensamentos sobre a Rosa. A Xana da cantina disse-me que me conseguia fazer não pensar em mais nada sem ser nela. Mas não sei se queria isso. Ouço sempre o Gary trocar os treinadores de futebol que fazem «troca por troca», portanto fazer isso não deve ser uma coisa positiva. 



O meu tio disse-me que as moças gostam de ser surpreendidas e que, por isso, é que ele era gentil ao início e depois era agressivo e arrogante. O Júlio César também me disse que as moças gostam de surpresas. O Gary disse-me que prefere tortas Dan Cake de chocolate que as de morango, porque o morango das tortas vem todo espalhado e ainda por cima é framboesa, não é morango. Eu não consigo surpreender as moças, acho que sou previsível. O Venâncio conta-me sempre que quando vê uma moça no autocarro ou no metro a abrir um pacote de bolachas ou de chiclets, se chega ao pé dela e estende a mão, a pedir uma. Depois diz que estava a brincar e faz um sorriso. Ele diz que isso mostra inteligência e sentido de humor e que se a moça estiver solteira até fala com ele. Eu até sou inteligente, que o meu pai está sempre a dizer que os que são apanhados com droga nos aeroportos e vão presos são mesmo burros. Eu nunca fui preso nem nunca estive num aeroporto, por isso até acho que sou inteligente.



O pior é o meu sentido de humor. Não sei nenhuma piada. O Gary no outro dia contou-me uma que era com uma cerveja e um croissant e eu fingi que percebi e ri-me. Depois ele disse-me que não era nenhuma piada, estava-me a dizer o que tinha lanchado. Sou péssimo com humor. A Xana da cantina disse-me que não se importava que eu não a fizesse rir desde que a fizesse gritar. O meu tio disse-me que já fez chorar moças que foram para a cama com ele, mas nunca as fez rir. Será assim o humor tão importante? O Júlio César diz-me que sim, que uma vez levou uma moça ao cinema para verem um filme de terror e não aconteceu nada, mas que passadas duas semanas foi com a mesma moça ver um filme de comédia e estiveram aos beijos o filme todo. Eu e a Rosa, se fôssemos um filme, para mim era um drama. Para ela não sei, provavelmente não era nada, porque a Rosa não vai ao cinema, diz que prefere ler um livro. O Gary ontem disse-me para mandar a Rosa à merda, mas ainda há duas semanas o meu tio mandou o mecânico dele para o mesmo sítio e não quero que eles se encontrem. É que o mecânico tem fama de enganar as pessoas e ainda pedia 40 euros à Rosa para lhe mudar o óleo ou para lhe arranjar o tubo de escape. 







P.S.: Ouvi dizer que gostaram do meu poema. Diz muito do meu estado de alma neste momento. Como me continuo a sentir assim, e ainda por cima o «Aquecimento Global» ainda não voltou a abrir, vou escrever outro e abrir o meu coração para vocês: «Toda a gente no Mundo diz que a magia não é mais que uma ciência. Não sei porque dizem isso, nunca dei em Ciências como é que se cuspia fogo ou como se faziam truques de cartas. Adoro truques de cartas, confundem-nos e depois dão-nos a solução. Fosse a vida assim, que tanto nos confunde e tão poucas vezes nos dá soluções, deixa-nos sempre à toa. A vida é um truque de cartas que nunca mais acaba e vai ficando cada vez mais complexo. O amor é magia. Pobres daqueles que dizem que é ciência. Batas brancas, teorias, matemática, laboratórios e nasce o amor. Eu acredito na magia. Às vezes não a percebo e bato palmas na mesma, mas acredito nela. Pobres daqueles que não conseguem ver no amor uma magia e vêem nisso só ciência. Também nunca dei o amor em Ciências. Dei o ciclo da água, o sistema respiratório e como funcionam os vulcões. Será o amor um vulcão? Vi um filme em que um vulcão matava um porradão de gente, ainda mais do que a gente que morre por amor. O que será pior? Morrer por amor ou morrer sem nunca amar? Eu preferia morrer por amor, ao menos amei. Só não queria morrer por causa de um vulcão, deve doer. Mais até que a dor que é amar.»


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