sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Mais coisas que eu só vejo acontecer nos filmes ou nas séries de televisão


Eu até podia fingir que ia ser original e pensar num tema novo e o título ser «Coisas que eu só vejo acontecer nos filmes ou nas séries de televisão» mas depois alguém descobria o texto que fiz há uns tempos (http://comidosdocerebro.blogspot.pt/2012/07/coisas-que-so-acontecem-nos-filmes.html) e enxovalhava-me em público. Não gosto daqueles que se fingem originais e depois vai-se a ver e é tudo copiado. Tipo o Mussolini. Ainda no outro dia estava a ver um documentário do Mussolini no Canal História e aquilo era tudo copiado do Hitler, nem disfarçava. Depois fazia-se amiguinho do Hitler só para lhe copiar as ideias e as políticas e fazer furor no país dele, como se tivesse sido ele a inventar aquilo tudo. Eu tinha um assim na minha turma, o Alcino, que tinha os amigos na turma B mas ficou na nossa. Passava os intervalos com os da turma B e quando voltava para as aulas contava as piadas que tinha ouvido dos outros como se fossem dele.



Mas a sociedade não gosta dos originais. Ainda ontem contei uma piada incrível que inventei sobre o King Kong e só uma pessoa é que se riu. Também só contei a uma pessoa, por isso não me posso queixar muito. A piada era assim: como é que o King Kong fica logo com o dia estragado? Quando está a subir um prédio e bate com o mindinho num andaime. A pessoa em questão riu-se. Acho que não fui eu, eu lembro-me de ter contado a alguém. Ou não. Se calhar fui eu que me ri sozinho. De qualquer maneira, a piada é minha, ao menos fui original. A Paulinha diz que gosta quando eu sou original porque o antigo namorado dela ao lanche pedia sempre torradas. A primeira vez que ela me disse que gostava que eu fosse original pensei que estava a falar relativamente ao sexo, mas não, era sobre os lanches. Afinal o estereótipo de que os moços só pensam em sexo é capaz de ser verdade.



Outra coisa que tem acontecido muito é a Paulinha ir trabalhar e eu ficar na cama dela a ver televisão, que ela tem televisão por cabo no quarto e então passo lá os dias. Tenho 9 ou 10 horas para pensar em lanches originais e no resto do dia estou ali deitado. E foi aí que voltei a pensar em mais coisas que só acontecem nos filmes ou nas séries de televisão:




  • Os pretos, quando fazem de vilões, têm sempre barba, seja em que feitio for. Nos últimos 160 filmes que vi, isto aconteceu sempre. A maior parte deles anda sempre de óculos de sol, mas todos eles têm barba, perinha, bigode, o que seja. Não sei qual é a finalidade disso, se para lhes dar mais credibilidade ou só por uma questão de estilo;

  • Sempre que alguma moça está deprimida ou triste vai chorar, cantar ou pensar para a beira de um rio ou de uma ponte. Também há um montão de videoclips com moços numa ponte a olharem para o horizonte e a fingirem que cantam enquanto pensam numa moça mas nos filmes é mais dramático para realçar o sofrimento que existe por não se conseguir encavar aquela moça em particular;

  • Por falar em deprimidos e pessoas tristes com a sua vida ... Se repararem, nos filmes ou séries, sempre que uma moça está triste com a sua vida, profissional, familiar ou amorosa, quando chega a casa bebe sempre um copo de vinho, sozinha ou com alguma amiga caridosa e com paciência para a ouvir. Eu não sei onde é que as moças vão buscar aqueles copos, mas são daqueles grandões que com uma copada acaba a garrafa de vinho. Os moços, pelo contrário, bebem sempre um copo de whisky (se estiverem mesmo mal o normal é pedirem um duplo sem gelo) mas ao menos é em copos que sei que existem no dia-a-dia;

  • Vê-se logo que os filmes são quase todos feitos nos Estados Unidos por uma coisa que acontece sempre: os estrangeiros, que estão sossegados nos países deles, falam e percebem inglês prá Mundial! Não usava esta expressão há algum tempo, mas como estamos quase em 2014 e é ano de Mundial achei por bem usar. Mas nesses filmes ou séries, seja em que país for, o inglês ou americano está para lá a falar e percebe tudo e ainda lhe responde mesmo dizendo que só fala um bocadinho de inglês. É mesmo irrealista. Uma vez conheci uma moça indiana que só falava inglês e eu só percebia os pontos essenciais do que ela dizia. Acho que esse foi sempre o meu mal com as moças, problemas de comunicação;

  • Os mauzões, mesmo que sejam assassinos treinados durante anos a fio, quando estão a trocar tiros contra os bons nunca acertam em ninguém. Quer dizer, na prática acertam mas é só em figurantes que vão a passar ou num sítio que magoe o bom mas não o fira mortalmente. E o pior é quando há reféns no meio, desprotegidos, e nem assim o mauzão acerta em ninguém;

  • Ou os programadores informáticos são todos uma grande merda ou os bons deixaram-se da programação e tornaram-se hackers. É incrível que em cada filme ou cada série há um deles que sabe fazer tudo, entra nos sistemas todos e faz o que lhe apetece. Foi por essas coisas que deixei de ter dinheiro no banco e agora digo a toda a gente que o tenho no colchão quando na realidade está noutro lado, para o caso de alguém ouvir e ir lá a casa procurar no colchão. Na televisão eles invadem os sistemas informáticos só para ajudar os bons, mas na vida real quem sabe o que é que eles andam mesmo a fazer;

  • Toda a gente é fascinada pelas culturas dos outros países. Naqueles filmes que se passam naqueles países todos esquisitos, os que vão lá sabem sempre as tradições, palavras, expressões e apesar de falarem o idioma fluentemente, só mostram que sabem para se armar, que depois falam sempre em inglês. Raros são os filmes em que um moço normal como eu, que apesar de tudo me considero normal mesmo que por vezes diga que sou um comido do cérebro e isso possa suscitar a dúvida em vocês de quem eu realmente sou, apareça a mandar piadas sobre a cultura e os costumes do país para onde vai.




Este sou eu a querer tornar a televisão mais real e a acabar com estes mitos. Já disse que, ultimamente, ao menos os filmes deixaram-se daquelas coisas de desarmar bombas no último segundo quando já toda a gente está à espera disso menos os que estão a fingir tudo, no filme. Mesmo assim, continuam a haver filmes com amores lindos, reencontros emocionantes após anos separados, mauzões que são derrotados pelos bonzinhos com muito menos armas mas mais inteligência e força de vontade e moças gordas e feias que acabam por ser amadas pelo seu interior e não pelo seu físico. Foi por causa destas merdas que às vezes vejo televisão sem som e faço eu os comentários ou as falas das personagens. A Paulinha disse-me no outro dia que eu devia tornar-me guionista e ir para Hollywood. Disse-lhe que se me quisesse mandar para o caralho, ao menos que o dissesse abertamente. 








P.S.: Apesar deste último parágrafo continuo com a Paulinha. Até nos damos bem menos quando ela se põe a falar de sentimentos e a perguntar o que é que eu sinto. Se há vício que me enerva nela, mas que acho que é comum em todas as moças, é quando estamos em silêncio e ela está a olhar para mim há 20 minutos, eu olho para ela um segundo e ela me pergunta «no que é que estás a pensar?». Ainda ontem me perguntou isso e eu respondi-lhe que estava a pensar na diferença entre um urso pardo e um urso parvo. Ela perguntou qual era e eu disse-lhe: «o urso parvo dá-se ao trabalho de te conhecer antes de te comer». Acho que ela não sabe que existem mesmo ursos pardos e pensa que fui eu que inventei o nome só para a anedota. 


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Temas que resultam sempre bem no jantar de Natal


Considerem este texto serviço público. Não que eu esteja em dívida para a comunidade, pelo contrário, acredito que é a comunidade que está em dívida para comigo, principalmente porque nunca pintei nenhuma parede e nunca agredi nenhum polícia. Pelo contrário, um polícia é que uma vez me agrediu porque me confundiu com o Pablo Escobar. Disse-lhe que o Pablo Escobar já estava morto há pelo menos 15 anos e era colombiano. Ele também me disse que não era polícia nenhum e só lhe apetecia bater em pessoas ao acaso e dizer que as tinha confundido com figuras do passado. Nunca mais vi esse moço mas numa coisa ele tem razão: no outro dia dei grande cachaço ao Jorge Abel e disse-lhe que o tinha confundido com o Stevie Wonder e foi o melhor momento do meu dia.



Há pouca coisa que eu gosto no Natal e muita coisa que não gosto. Uma das que menos gosto é o de quase ser obrigado pela sociedade a dar dinheiro a mendigos ou a desejar bom Natal a toda a gente que se cruza comigo, me atende em algum serviço ou me conhece de vista. Mas, a pior coisa do Natal é mesmo as mensagens que recebo no telemóvel de gente que eu já nem me lembrava que tinha o número ou que sequer ainda os conhecia. Ainda por cima podia aprender alguma coisa com as mensagens mas falam sempre de renas, de comer muitas sobremesas e de receber muitas prendas. Grande merda! Haviam era de mandar mensagens a dizer «aproveita bem este Natal e às 22:45 vai dar o Rambo III no Hollywood». Isso sim, eram mensagens que me fariam voltar a ter contacto regular com essa pessoa.



Contudo, o que me traz aqui hoje é outra coisa. Todos estamos envolvidos em jantares de Natal, seja sozinho só com o gato, com 300 pessoas das quais apenas conheço 4 ou num núcleo mais restrito, da família. Porém, em todo o lado acontece a mesma coisa: do que raio se vai falar nos primeiros 20/25 minutos do jantar, quando os que bebem ainda não estão alcoolizados para falar de tudo e há aquele desconforto? Eis-me a fazer serviço público:




  • Delirar sobre o percurso do Pai Natal. Se ele existisse porque país começaria? E que rota seguiria? E ia a todos os países ou só aqueles em que lhe permitissem o visto de entrada? E só ia aos países de uma determinada religião ou tem protocolos com todas as religiões? E para aqueles países xungas tipo o Lesoto ou o Burundi, ia lá ele, já para o fim, ou mandava um sósia fraquinho para eles ficarem contentes? As pessoas, de uma maneira ou de outra, vão aderir. Se estiverem crianças na mesa, a conversa vai ganhar contornos ainda mais realistas e o delírio até vai parecer real;

  • Mencionar o que deve pensar um bacalhau por esta altura. Voltou à cidade onde cresceu e a escola está vazia, os estabelecimentos estão todos fechados e a cidade, antigamente cheia de vida, é agora uma cidade fantasma. O Natal é uma espécie de apocalipse anual dos bacalhaus. É tipo o Walking Dead lá do sítio, em que os que se escondem bem é que conseguem sobreviver. Se alguém na mesa tiver visto Walking Dead, eventualmente este primeiro tópico delirante deriva para uma conversa sobre a série e sobre os desenvolvimentos futuros desta;

  • Dizer que em países como Israel, Marrocos ou Egipto há campeonato a decorrer, com jogos marcados. As pessoas depois vão começar a falar sobre lá não haver muitos cristãos e os muçulmanos não festejarem o Natal. Eventualmente, algum moço que esteja na mesa vai perguntar se há algum jogador de jeito no campeonato marroquino e outro moço, com mais idade, vai associar Marrocos aquele filme dos anos 60 que já deu 785 vezes na televisão, o Casablanca. Do nada, há um montão de temas de conversa;

  • Telecomunicações e telemóveis. Pessoalmente, recomendo começar-se com o tema das mensagens de Natal que se recebeu. Atenção para não se gozar com o conteúdo de algumas mensagens pois alguém na mesa pode ter enviado uma igual a alguém e ficar ofendido. É melhor deixar-se as críticas rebaixadoras sobre essas mensagens para quando já houver alguém alcoolizado na mesa. Até lá, fica sempre bem dizer algo como «todos os anos é a mesma coisa, nunca muda, até já sei algumas de cor». As pessoas vão começar a partilhar que receberam esta do não sei quem e aquela daquele. Quer dizer, as pessoas sabem de quem receberam, eu é que não e não vou estar para aqui a inventar nomes;

  • Política é sempre um tema que dá para sustentar um bom bocado do jantar enquanto o álcool não faz efeito. Criticar-se os actuais, os anteriores, dizer que eles são todos iguais, chamar-lhes mentirosos, corruptos e desleais. Fomentar o ódio para com a classe política até haver alguém que lhes chame «filhos da puta». Alguém mais idoso vai referir-se à ditadura e de como com o Salazar eram tempos duros mas era o que faltava agora ao país. Outro vai contrapor e dizer que o Salazar foi o pior que aconteceu ao país. Entretanto o tempo vai passando e o jantar já está lançado;

  • Estereótipos. Há um montão deles, muitos acertados, outros falhados. Mas, o que os estereótipos têm de bom é que geram sempre discussão. O meu conselho é este: atirar estereótipos à balda, para o ar, para ver se alguém se insurge ou se concorda e começar uma conversa daí. Eu começava por, por exemplo, dizer que os indianos estão cheios de doenças porque se lavam no Rio Ganges que é onde também tomam banho os elefantes e que é por isso que nunca vou comer a um restaurante indiano. Alguém há-de concordar, outro há-de discordar e ainda há alguém que se há-de rir, mas que não vai ajudar à discussão por só se rir e não contribuir com ideias;

  • Para acabar com os temas deixo para o fim o meu preferido: dizer mal dos vizinhos ou de pessoas da vizinhança e contar histórias chocantes. Mesmo que quase todos saibam da história, há alguém que não há-de saber e urge contar essa história; se todos conhecerem a história, não se importam que se repita, porque não há nada melhor que achincalhar e rir-se à custa de um vizinho ou de um conhecido que fez alguma coisa vergonhosa. Depois da primeira história, há um manancial delas que vêm à tona e já aí ganhas embalo para a noite toda.





Perante isto, só me apraz dizer uma coisa: não têm de quê. Mas se me quiserem mesmo agradecer, eu deixo o meu NIF em mensagem privada para que possa viajar até às Ilhas Seychelles e beber o melhor Capri-Sone do Mundo. Também pensei em ir até ao Egipto descobrir o segredo de Ramsés para um pequeno-almoço equilibrado ou então partir rumo à Nova Zelândia, terra natal e único sítio do Mundo onde existem realmente frutos do bosque e que, rezam as lendas, não são nada daqueles frutos que o Mundo Ocidental diz que são e que metem nos iogurtes. Ou isso, ou provavelmente é dinheiro para álcool e para anti-psicóticos. Não me julgues, ao menos fui sincero e não vos enganei. Tirando na primeira parte deste parágrafo, que foi propositadamente escrito para vos levar em erro.








P.S.: Mas é Natal, ninguém leva a mal. Ou isso só se diz para o Carnaval? Porque raio é que ninguém levaria a mal uma coisa no Carnaval mas levaria no Natal? Fazia mais sentido ser ao contrário. O Carnaval não é em Dezembro, em Dezembro é que é crime chatear-me com alguém ou bater em alguém. Uma vez no Carnaval vi uma moça mascarada de gata e atirei-lhe com água fria para ver se era verdade que gato escaldado de água fria tem medo. Ela tanto teve medo como chamou um moço que estava mascarado de cão e me deu dois estalos. O moço que estava mascarado de cão não ladrava, por isso é verdade que cão que ladra não morde, assim como é verdade que cão que não ladra espeta dois estalos daqueles que deixam a cara mais vermelha do que fazer a barba sem usar after-shave. 


sábado, 21 de dezembro de 2013

Foram duas semanas confusas e intensas. Mas mais confusas que intensas.


Fiquei tão confuso estas duas semanas que nem sabia o que pôr ali em cima, no título e essa costuma ser a parte mais fácil. Pelo menos, o meu tio diz que a parte mais fácil é pôr-se em cima. A Xana da cantina, que entretanto também voltou a falar comigo, também me disse que o mais fácil é pôr em cima, o mais difícil é manter o equilíbrio. O que também me provocou confusão foi que eu tinha confundido o estar confuso com o estar enjoado, apesar do Sebastião me ter dito que quando se sentia enjoado achava que o estômago dele estava confuso e não se tinha entendido com o intestino. Perguntei-lhe se os desentendimentos entre o estômago e o intestino não era o que provocava a prisão de ventre mas ele disse-me que quem tinha prisão de ventre era quem tinha tirado o apêndice, porque as cicatrizes ficavam na barriga e pareciam as barras de uma cela da prisão. Agora percebo porque é que o Gary diz que os iogurtes para a prisão de ventre não servem para nada.



De qualquer maneira, andei confuso e não enjoado. Apesar de ter ficado enjoado um dia em que bebi um bocado demais. O Gary disse-me que ficar enjoado é para moças que estão grávidas ou que fingem que estão só para o namorado não fugir durante 2 meses, até não se notar barriga nenhuma e descobrir que foi engodo. O meu tio disse-me que devia fugir sempre das moças que andam enjoadas porque se lhes tocar elas dizem logo que eu sou o pai e exigem-me que pague a pensão dos filhos. Não sei que práticas parentais são essas, mas o Venâncio disse-me que as pensões eram os sítios para onde levava as moças que conhecia na noite e não queria que soubessem onde era a casa dele. Perguntei ao Gary se alguma vez ele já tinha ido com a Paulinha para uma pensão mas ele estava ocupado a pensar em nomes apropriados para se dar a um minotauro caso estes voltassem a existir e não me respondeu.



Não sei porque é que andei confuso. Quer dizer, por acaso sei. O Mundo é confuso com moços que se vestem de moças, carros que estacionam sozinhos, sinais de trânsito onde aparecem bois e tortas de morango que sabem a framboesa. Mas não foi isso que me deixou confuso. O que me deixou confuso foi ter visto a Rosa no café com mais três moças. Se a visse com o moço com quem ela está agora não ficava confuso, agora com três moças deixou-me confuso. Quando eu conheci a Rosa ela disse-me que só tinha uma amiga verdadeira e não confiava em mais ninguém, portanto não sei quem eram aquelas 3. Eu não ia para o café com alguém que não confiasse. O meu tio disse-me que há quatro coisas que não se faz com alguém que não se confia: emprestar dinheiro, dizer o código do multibanco, jogar futebol na mesma equipa e ir para o café, para a mesma mesa, conversar. Ainda por cima, com mais 3 amigas, nem sabia qual era a que a Rosa confiava ou se não confiava em nenhuma e a que era mesmo amiga não foi. Com tantas dúvidas, decidi nem lhe dizer nada.



O Gary disse-me que eu fiz bem em não lhe ter dito nada porque não percebia moças que tinham nomes de flores e que se houvesse nomes de árvores para homem ele gostava de se chamar Eucalipto. Eu não sei se gostava de ter um nome de uma árvore, mas uma vez vi uma editora que se chamava Plátano e ficou-me no ouvido, principalmente porque acho que houve um moço importante na Grécia ou na Lituânia que se chamava Plátano e inventou um montão de teorias. «Plátano, anda almoçar», «empresta-me 50 cêntimos, oh Plátano», «sou eu, tu e o Plátano contra o meu primo, o irmão dele e aquele ali». São frases que me fazem sonhar como é que seria a minha vida se eu me chamasse Plátano. Talvez, se tivesse o nome de uma árvore, conseguiria cativar uma flor como a Rosa. O Venâncio uma vez disse-me que devemos tratar as moças como as flores: bem e carinhosamente até um dia as pisarmos sem querer e fingir que não fomos nós.



Moral da história: fez-me mal ter visto a Rosa. Principalmente porque no dia a seguir vi uma das moças com quem ela estava quando ia para a fábrica e não sabia se a Rosa confiava nessa ou era uma das que ela não confiava. Mas era gira. Pensei em adicioná-la no Facebook mas não sabia o nome dela. Quando cheguei à fábrica perguntei ao Venâncio como é que ele encontrava pessoas no Facebook e ele disse-me que eu não lhe tinha dito «Bom dia». Disse-lhe «Bom dia» e ele disse-me que encontrava pelo nome, pela localidade ou pelos amigos em comum. Estava feito. Não sabia nem o nome, nem a localidade, nem amigos em comum, porque a Rosa podia não ser amiga dela. Mais valia esquecer. Pensei na Rosa outra vez. Perguntei à Xana da cantina, à hora de almoço, o que é que ela fazia para esquecer uma pessoa e ela disse-me que saltava para cima do primeiro moço da Costa Rica que fosse trabalhar para a fábrica. Pela primeira vez, a Xana deu-me um mau conselho e que eu decidi não seguir.








P.S.: O Sebastião mandou-me mensagem agora mesmo a dizer que viu a Rosa no shopping com mais 6 moças. O Venâncio disse-me que as moças gostam de andar em grupos grandes a fazer compras porque sentem-se como um bando de leões a atacar uma manada de zebras e a dar em directo no National Geographic. A princípio não fazia muito sentido mas depois, numa época de saldos, vi duas moças à estalada por causa de uma blusa e percebi a metáfora. Não sei o que o Sebastião está a fazer no shopping, mas provavelmente está a comprar a minha prenda. Eu já fiz as minhas prendas de Natal todas. Só não comprei um coração para me dar a mim mesmo, porque prefiro que me ofereçam. E apesar do meu tio dizer sempre que a minha prenda de Natal é ir buscá-lo à Lixa, às 5h da manhã, também lhe comprei uma prenda. 


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A melhor prenda do vosso Natal


E ainda por cima de borla, não é como aqueles anúncios em que anunciam um produto como «a melhor prenda para dar a alguém próximo» e custa aí uns 500€. Depois ainda tentam enganar as pessoas a dizer que pode pagar em suaves prestações. As prestações suaves só têm um problema: nunca mais acabam. Quanto mais suaves são, mais anos demoram a desaparecer. Eu gosto das prestações como as diarreias: duras, repentinas e que acabem de uma vez. Mesmo assim, sinto-me melhor depois de uma diarreia dura que de uma prestação suave. Quando eu jogava futebol, em criança, tínhamos um defesa central que era o Alves e que também tinha «prestações suaves». Por isso é que sofríamos sempre pelo menos 3 golos por jogo. O Alves jogava sempre porque era neto do presidente. Posso dizer que desde pequeno que detesto prestações suaves.



Alguns de vocês devem neste momento estar a pensar que ando a escrever demasiado sobre o Natal. Provavelmente não têm razão, mas se tivessem não o ia admitir em público, quanto muito dizia-vos em privado algo como «sabes aquilo que tu nunca pensaste nem nunca disseste mas eu admiti que tu tinhas pensado embora não o tivesses dito? Se calhar até era verdade». Adoro ser claro nas minhas falas e que as pessoas percebam nas minhas palavras explícitas aquilo que estou a pensar. Gostava que as pessoas fossem todas assim, ia ser muito mais fácil movimentar-me no mundo da noite e comprar prendas de Natal. Eu não detesto o Natal, mas se me dessem a escolher entre ter Natal todos os anos e ter um vale de descontos de 40% no preço dos panados, eu escolhia o vale.



Como no último texto falei de prendas que gostava de receber, hoje vou fazer o contrário: dar-vos a possibilidade de oferecerem uma prenda de Natal gratuita a pessoas de quem gostem (ou de que não gostem, depende da perspectiva). Sendo assim, vou deixar-vos conselhos de vida que ninguém me disse, nem ninguém vos disse, mas que eu aprendi e vou partilhar:




  • Sempre que andares em transportes públicos em que os lugares sentados estejam todos ocupados, finge que vais a dormir. As pessoas olham sempre para os homens ou para os jovens para cederem o seu lugar, mesmo que seja um homem ou um jovem que vai de pé. Se estiveres a agir normalmente, os que vão de pé e até os que vão sentados vão olhar para ti com olhar reprovador e até podes apanhar alguém que te pergunta mesmo «não vai ceder o seu lugar?». Se fores a dormir (ou a fingir) ninguém te chateia com isso;

  • Quando comprares carne picada ou fiambre no talho, pede para o moço do talho picar a carne ou cortar o fiambre à tua frente, que assim, se ele cortar um dedo enquanto faz alguma dessas actividades, não só ficas informado e não levas a encomenda como também assistes a um espectáculo inigualável ao vivo e a cores;

  • Pede sempre um café cheio quando fores tomar café a um estabelecimento comercial. Se for muito aguado, podes sempre mandar para trás e pedir outro. Se vier bem tirado, pagas o mesmo por mais quantidade de café, em vez de seres como aqueles que vão aqueles sítios em que o café é 1€ e pedem café curto. Dão dois goles e lá se foi 1€;

  • Para não correres o risco de dizerem que não fazes nada em casa, faz a tua cama ao fim-de-semana e ocasionalmente oferece-te para ir buscar o pão. Mesmo que não faças mais nada, nunca vais ser acusado de não fazeres nada em casa. Ocasionalmente, naqueles dias da semana em que ao dormir não te mexes e os lençóis ficam todos direitinhos e em que fazer a cama é só puxar tudo para cima ainda ganhas uns pontos extra;

  • Sempre que estiveres na iminência de levar uma moça a tua casa certifica-te que não tens nenhum cenário na casa de banho que lhe retire vontade de qualquer envolvimento físico-sexual. Está provado que as moças, sempre que vão a casa de um moço, vão à casa de banho, seja por necessidades fisiológicas, por necessidades de observação ou por necessidades de reflectir no que vão fazer a seguir. Por isso, faz sempre uma vistoria detalhada antes dela chegar ou não vais a lado nenhum;

  • Sempre que fores almoçar ou jantar fora e fores a um daqueles restaurantes em que as entradas são boas e abundantes, de tal modo que não consegues comer todas antes de virem os pratos principais, fica com os pratos que ainda têm rissóis, patês ou queijos perto de ti e impede que o empregado os leve quando vem deixar o prato que pediste. Se vais pagar pelas entradas, tu é que sabes quando ele leva as entradas e não ele! Se ele mesmo assim insistir em levar, alega que o cliente tem sempre razão, que se ele contrariar essa lei universal podes ir embora sem pagar;

  • Se tiveres uma namorada com menos de 100 kg ou que ocasionalmente se queixe que está gorda apesar de não o estar e apenas estar gorda quando comparada com as normas e os padrões da sociedade ocidental que incentiva a um ideal de beleza mas, ao mesmo tempo, faz promoções nos gelados e faz leggins com tamanhos em que moças obesas cabem, leva-a a jantar fora e pede o teu prato preferido. Se dividires com ela uma dose, ao contrário do que acontece quando divides com o teu irmão ou com algum amigo, tu vais comer muito mais do que ela e no fim ela ainda te vai dizer que está cheia enquanto tu pedes sobremesa e um digestivo;

  • Normalmente, as pessoas vêem os filmes que conhecem. Por exemplo, no outro dia cheguei às 3h da manhã a casa e estava indeciso entre ver um filme chamado «Os ideais de ferro» e outro com o título «Mentes Perturbadas». Não conhecia nenhum deles e em nenhum havia actores conhecidos. Por exemplo, se em algum desses tivesse o Bruce Willis, eu via o do Bruce Willis. Mas depois no Hollywood estava a dar o «Jurassic Park» e eu vi outra vez esse. No entanto, se tivesse que optar entre dois filmes que não conhecia, via os primeiros 20 minutos de um. Se não houvesse nenhuma moça nua, nenhum moço a andar à porrada com outro ou nenhum crime, mudava para o outro e via o outro. É um critério que resulta sempre. 





No fim de tudo isto sinto que devia explorar mais uma ideia que me surgiu ali em cima. Acho que as crianças iam gostar muito mais da escola se a Físico-Química fosse substituída pela Físico-Sexual. Usei essa palavra ali em cima e lembrei-me que podia ser uma boa disciplina, desde que não se formassem professores que só passavam trabalhos de casa e obrigavam os alunos a ler livros e a estudar para testes. Foi assim que se estragaram as disciplinas todas. Imagino o primeiro professor de Físico-Química, a dar aulas no recreio e a explicar a diferença entre o Sol e a Lua ou a meter o pessoal todo num laboratório e a dizer ao pessoal para mexer nas cenas à vontade, que quem explodisse com o laboratório tinha negativa. Depois é que vieram os livros, os testes e os trabalhos de casa e Físico-Química passou a ser uma disciplina na qual nunca passei do 65% nos testes. Claro que Físico-Sexual também vinha substituir aquelas palestras de Educação Sexual que as escolas fazem, em que metem turmas inteiras num auditório para ver uma enfermeira enfiar um preservativo numa banana quando um moço que saiba usar a Internet já viu moças a fazerem isso com a boca em bananas reais. Já que o Mundo é um local que se rege por valores da modernidade, porque não modernizar em todos os aspectos?








P.S.: O lado negativo desta modernização é o chamado «Fenómeno Wrestling». Quando apareceram os programas de wrestling na televisão, eram só moços de cuecas a fingir que lutavam, num programa que dava para rir um bocado. Mas quando os miúdos descobriram que andar à porrada podia dar fama em vez de dar suspensões ou faltas disciplinares, começaram a copiar na escola tudo aquilo que viam na televisão e a andar com camisolas do Rey Mysteryo ou do John Cena. Imagino os miúdos a andarem a fazer na escola aquilo que viam na Internet. Tal como no wrestling os pais não iam aprovar, a escola ia censurar e castigar os que apanhasse a fazer isso e vinham psicólogos para a televisão falar como a televisão e a Internet deforma as mentes juvenis. Por outro lado, tal como a escolher as equipas para o futebol, os gordos eram os últimos a ser escolhidos e os que não quisessem jogar eram apelidados de «maricas», por isso, pouco ia mudar realmente. 


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Prendas de Natal que eu sei que não vou ter


Houve quem dissesse que eu andava desaparecido. Ainda bem que ninguém foi dizer isso à Polícia, senão por esta altura ainda estava desaparecido e isso não ia ser bom. Não tenho nada contra a polícia, só não gosto do agente Calvo que multa toda a gente que tem um médio fundido porque o irmão dele é o dono da oficina daqui e com as multas o pessoal vai lá todo comprar médios para não levar com as multas do Calvo. O agente Calvo também não gosta de mim desde que uma vez quando vinha embriagado de manhã lhe disse que Calvo era o nome de uma marca de atum. Ele levou aquilo a mal não sei porquê. A meu ver, relacionar alguém com um atum é um elogio. Ainda no outro dia a Paulinha disse que eu fazia amor como um leão. Preferia que tivesse dito que eu fazia amor como um atum.



Não tirei férias nenhumas, não perdi a pass do mail, não fui preso, não me escondi por dever 60€ ao Nando Farras nem fiz um périplo pela Europa para descobrir onde é que existem talhos que não vendam rissóis de pescada. Simplesmente tive mais que fazer do que vir aqui. Também não andei a fazer prendas de Natal e, contrariamente ao rumor que anda a circular por aí, espalhado por mim aqui mesmo e, por isso, sem perceber bem como é que já anda a circular por aí se o inventei agora mesmo, não andei a ver todos os filmes em que o Bruce Willis aparecia a andar à pancada com alguém ou a fugir de alguém com um miúdo. Por acaso no outro dia vi o «Assalto ao Arranha-Céus» mas isso é porque sou homem e gosto destas coisas.



Quem olhar para o título pensa que eu gosto do Natal e tenho espírito natalício. Errado. Nem sei onde é que se compra isso do espírito natalício. Assim, já que falamos de coisas que só existem na cabeça das pessoas (ainda que, estranhamente, ninguém lhe chame alucinação colectiva), vou dizer prendas de Natal que eu gostava de ter mas que sei que não vou ter:




  • No topo da lista está aquilo que quem me conhecer minimamente já adivinhou: gostava que os minotauros voltassem a existir. Não só para provar a carne deles, acho que no dia que os minotauros voltassem a aparecer o talho aqui do Jaime ia ter logo costoletas de minotauro, mas também para perceber a sua cultura, a sua convivência, os seus rituais de acasalamento e, acima de tudo, se eles iam falar ou não e, se falassem, que idioma;

  • Depois dos minotauros, gostava que me oferecessem um pack de DVD's com reconstituições históricas dos Visigodos. Mas não era daquelas reconstituições em que aparece um moço de barba e escudo a olhar para o horizonte e um montão de imagens de monumentos e de planícies enquanto outro moço fala por trás a contar a história. Isso é para dormir! Quero é aquelas reconstituições em que eles andam todos à batatada num campo de trigo e que depois os que ganham voltam às aldeias onde fazem o amor com as mulheres. E neste pack de DVD's essas partes podiam vir à descarada. Assim era Visigodos e pornografia, um 2 em 1 perfeito;

  • No outro dia vi um supermercado que na compra de 3 iogurtes de alperce oferecia o quarto. A mim até me podiam oferecer 200 iogurtes de alperce se comprasse 3 que eu não comprava. Alperce é aquele tipo de fruta que os cientistas descobriram e que usaram para champô porque sabia mal. Mas depois vieram outros espertinhos e como os champôs de alperce cheiravam bem, fizeram tudo de alperce e as pessoas compram. Uma vez veio-me um bocado de Garnier de Alperce à boca e aquilo sabia mal como tudo. Mas aqueles iogurtes de menta e eucalipto nem sabem mal. Se uma pessoa se habituasse até conseguia temperar a carne com aquilo. Posto isto, gostava que alguém me desse como prenda a notícia que já não existia alperce no Mundo, tinha-se acabado em todo o lado;

  • Há pessoas que oferecem cheques-prenda para as livrarias, lojas de discos ou lojas de roupa. Está muito na moda. Basicamente, um cheque-prenda é uma indirecta do género «para não me ires trocar a merda das prendas ou me obrigares a ir lá eu dar a cara por ti, pega lá isto e vai tu. Se não quiseres ir, o problema é teu, que o cheque-prenda passa de validade». Pessoalmente, não sei que raio faria com um cheque-prenda para discos ou para roupa. Mas sei o que faria com um cheque-prenda para produtos de atum. Estourava-o logo em latas, patês e lasanhas de atum. Ainda que nestas últimas, provavelmente ia comer cavalo;

  • Adoro ver futebol, principalmente quando estão a jogar aquelas selecções fraquinhas. Tenho pena que na televisão portuguesa só passem jogos da Alemanha, Espanha, Inglaterra ou Itália. Mas gostava que alguém me desse um canal onde só passassem jogos fraquinhos. Não deve haver melhor que ligar a televisão às 3h da manhã e ver um Turcomenistão x Nepal e tentar adivinhar quais as verdadeiras profissões dos jogadores e quantos deles são primos uns dos outros ou vivem na mesma rua. Eu até defendo a criação de um Campeonato do Mundo para equipas que nunca na vida vão chegar a um Campeonato do Mundo a sério. Até já tenho os cabeças-de-série do sorteio: Quirguistão, Turcomenistão, Nepal e Gâmbia. Depois iam convidando outras selecções e se sobrasse um lugar podiam convidar o Lesoto;

  • Para terminar, um desejo de um desempregado por convicção e por falta de oportunidades no mercado de trabalho: gostava que se voltassem a criar jogos de consola e computador em que não tivesse que pensar muito, fosse só andar para a frente, desviar-me de precipícios, pessoas e obstáculos, eventualmente ter que esmurrar alguém na cara para provar um ponto de vista e ir passando níveis. Esse jogo tinha que ter músicas de fundo daquelas que a melodia fica na cabeça e os níveis serem cada vez mais impossíveis até se conseguir passar o último com grande golpe de sorte. Não é como os jogos de agora, que têm 240 comandos diferentes, níveis todos complexos e onde uma pessoa se perde e até desiste de tentar.





Seis desejos, como vêem não peço muito. Basicamente, era apanhar a lâmpada do Jafar no deserto, pedir três desejos, ver para onde ele é que mandava a lâmpada, fingir que não tinha visto nada, deixar passar 2 ou 3 dias e ir lá outra vez e pedir outros 3 desejos. Era mais fácil assim do que estar à espera do Son Goku, que de cada vez que tinha 3 desejos, um deles era para ressuscitar o Yamcha ou o Tenshinan. Estavam sempre a morrer, nunca percebi porque é que o Son Goku nunca lhes disse que já chegava de os safar e para eles irem à vida deles. Quando andava na escola, havia um moço, o Albano, que quando jogávamos futebol enterrava sempre. Foi da minha equipa três vezes seguida e perdemos três vezes por culpa dele. Disse-lhe que ele não jogava nada e que mais valia ele ir brincar com as moças às bonecas e às casinhas. Nunca mais vi o Albano, mas o Lucindo disse-me que ele agora se chama Diana e trabalha na Bershka. 








P.S.: Se há coisa que não quero no Natal, além de comer um figo por engano ou de me sentar ao lado do meu sobrinho que come catotas, é de receber roupa da Bershka. Ou roupa no geral. Não sei como raio é possível ter um sobrinho se o meu irmão jogou 5 anos basket num clube aqui da zona e nunca fez um cesto. Ele dizia que o forte dele era o passe. O meu pai também dizia isso, que o passe dele apanhava aí umas 6 zonas diferentes e todos os meses eram quase 60€ a sair dos bolsos do meu pai. Uma vez li num livro qualquer que toda a gente tem sobrinhos e para desconfiar de pessoas que dizem que não têm sobrinhos, que ou têm uma identidade falsa ou me estão a mentir. Ou li ou alucinei, porque não me lembro da última vez que li um livro e não me parece que o Astérix e o Obélix tenham falado de outra coisa sem ser de javalis, poções mágicas ou romanos. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Já estamos quase no Natal mas não tenho ninguém para dar o meu coração


Hoje estavam a fazer a árvore de Natal lá na fábrica e de repente apercebi-me que o Natal chega mais depressa do que uma pessoa espera. A Páscoa também, o Verão igual. Na prática, demora tudo o mesmo tempo a chegar, uma pessoa é que pensa que é mais ou menos conforme a expectativa que tem das coisas. O meu tio disse que uma vez fugiu a um polícia durante 20 minutos e parecia que tinha corrido 3 horas. No dia a seguir descobriu que tinha mesmo corrido 3 horas e lhe tinha parecido 20 minutos derivado a uns comprimidos que lhe tinham posto na bebida. O meu tio jurou que tinha sido ele a minar a bebida dele, mas uma vez o Gary disse-me que o que não falta no mundo da noite é pessoas a porem coisas nas bebidas das outras pessoas, por isso acho que o meu tio foi minado. Não percebo qual a intenção, mas desde que li uma notícia no jornal em que um cunhado matou o sogro porque o sogro do irmão lhe devia 50 contos e ele confundiu os sogros, já consigo viver sem explicações e motivos.



Até porque se eu só vivesse com explicações, então não conseguia viver sem saber o porquê do meu coração ainda não ter dona. Principalmente agora no Natal. Há uma música de Natal que ouço todos os anos que é aquela do último Natal, que a moça deu o coração dela a um moço e ele devolveu-o. Ao menos a moça tem sorte. Primeiro, eu não tenho ninguém a quem dar o meu coração e depois, já que não o queria para nada, devolveu-o. O meu tio diz que se lhe dessem um coração a ele sem ele pedir, vendia-o logo no mercado negro e fazia dinheiro à custa da moça. O Venâncio disse-me para ter atenção às moças que oferecem assim o coração, porque as que valem a pena esperam que um moço ofereça o seu coração primeiro. As que dão assim corações à toa é porque têm alguma coisa a esconder. Eu achava que as moças tinham sempre alguma coisa a esconder, mas desde que a Xana da cantina me disse que bastava eu dizer-lhe uma palavra e ela mostrava-me tudo, deixei de acreditar muito nisso.



O Sebastião também é solteiro ou, como ele prefere dizer, «actualmente disponível». O Sebastião disse-me que a palavra «solteiro» remete logo para uma ideia ou de desespero e solidão ou de bandalheira e libertinagem. O «actualmente disponível» revela antes uma ideia de que se está solteiro mas que é por pouco tempo e isso aguça o apetite das moças. O exemplo que o Sebastião usou é que se alguém passar por um talho e vir lá que a pá de porco está em promoção, diz que vai lá no dia seguinte. Mas se passar e vir que é o último dia de promoção, até pode nem querer naquele dia, mas vai comprar. O Venâncio disse-me que se há coisa que as moças gostam é de promoções. Também gostam de champôs de côco, de compras e de chocolate. Principalmente se puderem ir comprar chocolate e champôs de côco em promoção. Não sei como é que o Venâncio está divorciado, o homem é uma enciclopédia de mulheres. 



A Xana da cantina disse-me que neste Natal vai trocar os frutos secos pelos frutos exóticos e que em vez de comer nozes vai comer fruta e beber todo o tipo de sumos da Costa Rica. Não sei porquê mas dá-me um bocado de ciúmes ver a Xana com o moço da Costa Rica. Tudo bem que ela continua a deixar-me tirar sobremesa e peça de fruta sempre que vou almoçar, mas agora não me deixa e diz que eu lhe posso tirar tudo, simplesmente nem sequer vê porque está a olhar para o moço da Costa Rica. Não sei de que raio eles falam que o torna tão interessante. No outro dia perguntei-lhe o nome e ele virou-me as costas e foi almoçar. O Sebastião disse-me que em algumas culturas, virar as costas era sinal de respeito e de medo. Perguntei-lhe em que culturas e ele disse que não sabia, que não era nenhum sociólogo e que se fosse, provavelmente não estaria a trabalhar na fábrica de tintas porque ainda hoje estava na expectativa de arranjar emprego na área dele. Não sabia que o Sebastião gostava de ser sociólogo, mas as amizades é isto, descobrir coisas novas todos os dias. 



Já que não tenho ninguém para dar o meu coração, comecei a perguntar às pessoas o que gostavam de receber no Natal, para eu lhes poder dar uma prenda, já que vou receber um subsídio de prendas. Perguntei à minha mãe e ela disse-me que queria que eu lhe fosse buscar pão ralado, 4 vezes por semana, nos próximos 19 anos. Não perguntei ao meu pai porque não o vejo há duas semanas. Acho que ele me anda a evitar, mas a minha mãe diz que acha que ele está preso. O meu tio disse-me que gostava que eu lhe desse boleia até Paredes e que esperasse lá por ele até ser hora de vir embora. Disse-lhe que isso não era nenhuma prenda de Natal e ele disse-me que então lhe podia dar boleia e um CD dos Gipsy Kings. Perguntei ao meu irmão e ele disse-me que gostava que eu não lhe desse nada, que assim tínhamos prendas iguais um para o outro. O Sebastião disse-me que a melhor prenda que lhe podiam dar era aquele que ele nunca tinha pensado. Depois pensou melhor e disse que isso não era uma prenda, mas uma surpresa. O Gary disse-me que gostava de comer uma torta Dan Cake de morango verdadeiro e não de framboesa. Ao Júlio César não perguntei porque os amigos dele da Robialac que lhe comprem prendas. 








P.S.: Perguntei a toda a gente o que queriam para o Natal, agora vou dizer o que eu gostava. São 3 coisas simples, mas difíceis de arranjar, pelo que vejo ao observar o mundo em que vivo. A primeira, gostava de ter uma moça bonita, por dentro e por fora, a quem pudesse oferecer o meu coração e todo o meu amor. A segunda, gostava de arranjar aquele manual que as moças recebem quando têm a primeira menstruação, de que o Venâncio me falou mas não encontro em lado nenhum. Já fui a 4 ou 5 livrarias, perguntei, e os moços fizeram-se de despercebidos e disseram-me que isso não existia. Vejo muitos filmes, quando algo não existe, as pessoas riem-se de nós e enxovalham-nos. Dizer que «não existe nada disso» ou «nunca ouvi falar disso» é esconderem um segredo. Por último, gostava de comer um ananás a sério. Sempre que compro ananás, venho todo contente para casa mas depois vejo na etiqueta que é abacaxi. Gostava que alguém me oferecesse um ananás verdadeiro. Mas essa era a minha terceira prenda preferida, as outras duas são mais importantes. 


domingo, 1 de dezembro de 2013

Porque é que detesto o Natal


Se há coisa que detesto são passwords. Esqueci-me da minha password para vir aqui ao e-mail e para ter uma nova tinha que ter um e-mail alternativo ou responder a uma pergunta. Não sei que é isso de e-mail alternativo, mas sei que sempre que um moço me diz que ouve um estilo de música alternativo eu encosto-o logo para canto e nem quero saber o que ele ouve. Também há aqueles que nas orientações sexuais são alternativos e a esses ainda os respeito menos. Pior que esses, só aqueles «alternativos» que gostam de recordes do mundo ou que preferem francesinhas vegetarianas. E chamo-lhes «alternativos» para não lhes chamar «paneleiros». Mas vamos lá ver porque é que eu detesto o Natal:




  • O Natal é uma vez por ano e todos dizem que gostam do Natal. Não sei o que raio tem o Natal de tão especial! Eu não vim aqui 4 meses e toda a gente pensava que eu tinha deixado de escrever. O meu tio André desaparece 8 ou 9 meses e quando aparece é para pedir dinheiro e toda a gente o evita. O Natal desaparece 11 meses, aparece sempre em Dezembro e toda a gente gosta dele. Não percebo as pessoas;

  • Não sei para que raio existem as arrecadações quando há tantas lixeiras a céu aberto e centros de reciclagem. As pessoas têm a mania de guardar tudo, sabe-se lá porquê. O pior é que guardam árvores de Natal e decorações de Natal que existem desde 1988. Aquilo fica 11 meses por ano, durante décadas, a ganhar um cheiro a mofo extremamente característico e depois fica exposto, na casa das pessoas, durante um mês, mesmo com visitas a irem lá e tudo. A mim obrigam-me a arejar a minha cama todos os dias antes de a fazer senão fica a cheirar mal, mas se for uma decoração de Natal, pode ficar 11 meses fechada;

  • Trabalhar na altura do Natal é a pior altura do ano, principalmente quando se é segurança numa clínica. A partir desta semana, todas as pessoas que forem à clínica, ao irem embora, me vão desejar bom Natal, porque provavelmente só lá voltam em Janeiro e então é a última oportunidade para me desejarem isso. O pior é que toda a gente deseja bom Natal aos outros como se realmente o sentisse e como se ficasse com o Natal estragado se alguma dessas pessoas a quem deseja bom Natal não o tiver;

  • O Natal é como aquelas moças da escola, que andam sempre com uma amiga atrás e não podes fazer ou dizer nada a uma que a outra não saiba. As pessoas podem desejar bom Natal à outra, mas a seguir também têm que desejar bom ano novo. É que desejar um bom Natal é só um período do ano, não implica tanta responsabilização como desejar um bom ano novo, um ano inteiro! Não percebo as pessoas. Responsabilizam-se para que o ano de uma outra pessoa seja bom, mas no minuto a seguir estão a atravessar passadeiras sem olhar;

  • Não sei como alguém pode gostar do Natal quando o Natal não tem símbolo. Os clubes de futebol têm símbolo, os partidos políticos têm símbolo, os canais de televisão têm símbolo, as empresas têm símbolo (ou logótipos, não venha para aqui alguém armar-se em esperto). Mas onde está o símbolo do Natal? É uma árvore? É um moço barrigudo de barba que entra por chaminés? É uma rena? Ninguém sabe! E como ninguém sabe, usa-se tudo, ao calhas, sem critério nenhum;

  • Outra coisa que me faz detestar o Natal é que as pessoas são obrigadas a estar bem-dispostas, alegres e atenciosas. Se eu acordar mal-disposto um dia em Outubro ou em Março, ninguém implica comigo. Mas se acordar assim em Dezembro, as pessoas vêm logo dizer que eu «não tenho espírito natalício». Mas que é essa merda do espírito natalício? É alguma característica da personalidade descoberta por algum estudo científico? É alguma coisa que se compre ou se pague tipo o selo do carro ou o aluguer da garagem? Ou é mais uma invenção da época das invenções?

  • Por último, o pior do Natal é aquilo que se inventou do Pai Natal. Quer dizer, o Bibi enganava as crianças e foi preso, as pessoas enganam as crianças com o Pai Natal e está tudo bem. Grandes práticas parentais. Além disso, o Pai Natal é um mito muito fraquinho. Por exemplo, os minotauros são um mito, os centauros são um mito, o Teófilo escrever aqui no blog é um mito. De qualquer maneira, são mitos muito mais consistentes, interessantes e plausíveis que um moço barrigudo, que vive no Pólo Norte e que faz prendas para a canalhada de todo o Mundo e que desce pelas chaminés. Ainda por cima veste-se todo de vermelho, mesmo para ninguém o ver.




O Natal tinha tudo para não ter sucesso: uma época em que se tem que levar com familiares que durante o ano não nos chateiam (ou se chateiam é por telefone e com conversas de 50 segundos), onde se gasta dinheiro em prendas para toda a gente, onde as lojas dos chineses fazem um dinheirão a vender luzes para árvores de Natal que se estragam passados 3 dias, centros comerciais cheios como se fosse domingo todos os dias e discotecas e tascos fechados porque é dia de fazer o jantar de Natal. Mas não, tem sucesso. Ainda por cima o Natal é em Dezembro, mesmo no meio do frio. Na televisão não há futebol e só dá filmes (e eu detesto cinema!). Nunca mais chega Janeiro, para a vida voltar à normalidade, sem luzes, sem neve artificial e sem músicas em que uma moça diz que deu o coração a um moço e ele o estragou. 








P.S.: O pessoal aqui da clínica está a pensar em organizar um jantar de Natal. Que, já agora, é outra coisa que odeio no Natal. Alguém faz jantares de férias de Verão? Ou alguém faz jantares de 25 de Abril? Ou jantares da implantação da República? Porque raio se fazem jantares de Natal? Isso é só para dar lucro aos restaurantes que se aproveitam das pessoas e do «espírito natalício» para levar 15 ou 20€ por uma refeição que em Novembro custava 10€. Os jantares de Natal têm a mesma base dos jantares do Dia dos Namorados: são jantares iguaizinhos aos outros, mas os restaurantes aproveitam-se das pessoas serem ingénuas e fazem lucro. 


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Factos históricos que nunca aprendi na escola


Constou-me que ando a perder qualidades. O pior é que ninguém me disse, fui eu que descobri por mim. Detesto descobrir coisas por mim. Pelo menos sempre que vejo episódios de CSI em que descubro logo quem é o assassino, mudo de canal, o episódio perde a piada toda. Porque raio hei-de ver eu um episódio inteiro em que já se sabe quem é o assassino e só se vê a forma como ele é apanhado? Para ver coisas que já sei como acabam leio a Bíblia, que aí também há mortes e sabe-se quem mandou matar e porquê, sem mistério nenhum. O problema da Bíblia é mesmo ter um porradão de páginas e usarem termos difíceis de compreender. Nisso a Bíblia é como aquelas séries de tribunais, que mal começam a falar em decretos-lei eu mudo logo de canal. 



Se há coisa que a Bíblia é forte é na sua componente histórica. Para ser um livro que tivesse tudo sobre História só faltava ter lá histórias de dinossauros e de Visigodos, mas acho que o padre daqui dizia às pessoas na missa que a Igreja não acreditava em dinossauros e que isso era tudo invenção. Eu não acredito que seja invenção porque uma vez vi um Pterodáctil a comer as pombas aqui no parque à beira de casa e não foi nenhuma alucinação porque o Nando Farras estava comigo e disse que também viu apesar de não saber o que era um Pterodáctil. E se os dinossauros fossem invenção o moço gordo que no Jurassic Park estraga tudo, não tinha acesso a ovos de dinossauro, porque eles nunca tinham existido. O Jorge Abel nas poucas coisas acertadas que disse na vida dele foi que gostava de ter vivido no tempo dos dinossauros. Eu também gostava. Devia ser um bom espectáculo de sábado à tarde vê-lo a ser comido por um Alossauro.



Mas sei que há muita gente que acredita na Bíblia, logo não acredita em dinossauros. Eu na escola nunca dei os dinossauros, o que é uma grave falha no meu percurso académico, felizmente corrigida pela presença em vários seminários, entre os quais o meu preferido, «As tendências políticas de extrema-direita dos Broncossaurus». Ao longo da vida reparei que há muitas coisas importantes sobre História que nunca aprendi na escola. Vou fazer-vos um favor e dizer os 5 mais importantes:




  • Foram os Homo Habilis que descobriram a agricultura. Para quem for mau a História, são aqueles meio curvados, que começaram a usar o fogo e a agricultura. Ao descobrirem a agricultura descobriram um cereal, que quando comiam de manhã lhes dava alta força, que até iam caçar mamutes e serrar eucaliptos, ainda antes de haver um campeonato nacional para essas modalidades. Um druida lembrou-se e chamou a esse cereal «Ferro». Muitos anos depois, na era em que o negócio de espadas era rentável (nada como hoje em dia, infelizmente), um artesão, que era o Rebelo daquela altura, chamou ao metal de que eram feitas as espadas de «ferro» porque era muito forte, tal como o cereal que os Homo Habilis descobriram um porradão de anos antes;

  • Um dos negócios que mais perdeu praticantes foi a feitiçaria, a bruxaria e as artes do oculto. Graças à Inquisição, hoje em dia, as videntes e os mestres do oculto que temos são todos farsas. Ao início, quando se anunciava que se iam queimar bruxas e feiticeiros aos domingos à tarde, as pessoas enchiam as praças e queriam ver. Com o tempo, duas coisas foram acontecendo: começou a haver escassez e as pessoas viam que alguns não eram feiticeiros de verdade, que só se dizia que eram feiticeiros para enganar as pessoas e atrair público, que queimar camponeses não atraía público nenhum, e com as transmissões televisivas, muitos desses espectáculos deixaram de ser ao domingo à tarde e passaram para os domingos à noite ou para dias da semana e começou a perder espectadores. Mas no tempo que durou, morreram todos os feiticeiros e bruxas em condições;

  • Nunca percebi bem porque é que existe a América do Norte e a América do Sul, mas depois percebi o porquê quando fui a um seminário sobre a origem das maracas na música tribal. Aparentemente, tal como hoje em dia existe o Capitão América, na altura existia o Sr. Américo, que na prática era o senhorio de todos os que quisessem alugar uma casa ou uma cabana naquele continente. Tudo parecia bem, mas quando o Sr. Américo morreu e ficou a mulher dele a tratar dos alugueres, os do Norte começaram-se a queixar que os do Sul tinham mais horas de sol e moças mais bonitas. A mulher do Sr. Américo, para resolver a situação, começou a cobrar mais aos do Sul que aos do Norte e fazia mesmo essa distinção. Como as pessoas na altura não sabiam fazer bem a concordância de género, pensavam que a mulher do Sr. Américo se chamava América, como se fosse nome de família em vez de ser nome próprio e a divisão que ela fez às terras passou a ser chamada de «Américas do Norte» e «Américas do Sul». Entretanto, como passamos a ser mais instruídos, tiramos o «s» de «Américas», mas mantivemos a divisão;

  • Se houve coisa que eu sempre li e que sempre gostei de saber mais era que os Fenícios e os Cartagineses se fartaram de fazer negócios entre eles na Península Ibérica. Mas depois, ao longo da minha vida adulta, descobri que não foi só isso. Eram pessoas de bons costumes, não era como agora, que uma pessoa vai a uma loja, está lá 20 minutos e ainda critica o empregado, que tem de estar lá 8 horas, por demorar muito. Os fenícios e os cartagineses faziam negócios mas também conversavam e conviviam. Foi desses convívios que surgiu o primeiro dicionário que traduzia de uma língua para a outra, como hoje há os de Português-Inglês, os de Português-Alemão ou os de Português-Francês (que ainda hoje não me dão jeito nenhum). O primeiro dicionário de tradução era o Fenício-Cartaginese e na prática era para eles se entenderem o suficiente para poderem falar sobre álcool, drogas e putas e saberem insultos noutras línguas. Muito como hoje em dia;


  • Para acabar, digo-vos a mais importante e tem a ver com os Visigodos. Nos documentos históricos, os Visigodos aparecem como «povo bárbaro». Inicialmente ficava indignado e não compreendia o porquê de serem considerados bárbaros, mas depois percebi o porquê. Na altura em que os Visigodos existiram, ainda existiam minotauros na Grécia. Tirando alguns ataques de fúria e falhas na comunicação, os minotauros viviam em sociedade e até tinham jeito para a construção. Os Visigodos eram um povo que viajava muito e quando o primeiro barco de Visigodos chegou à Grécia, confundiram um minotauro com um bisonte, mataram-no e comeram-no. Quando os gregos souberam disto ficaram possessos e começaram logo a chamar bárbaros, sem quererem perceber o que se tinha passado. Entretanto, a moda de chamar bárbaros aos Visigodos pegou. Certo é que a carne do minotauro era comercializada a um preço bem acessível e bem mais barata que a de vaca ou de novilho, que na altura já havia novilho apesar de eu ainda não saber que animal é esse. 






Para aqueles que dizem que eu faço textos muito longos, aborrecidos e desinteressantes este texto é muito bom, precisamente porque vos dá razão e mais um argumento para me atacarem. Por outro lado, para aqueles que acham os meus textos delirantes, sem fundamento e completamente descontextualizados da ocidentalização setentrional do mundo ecléctico e paradoxal no qual nos inserimos, não podia estar mais de acordo. Não sei o que escrevi agora, muito menos percebi, se alguém percebeu que me explique, certo é que amanhã quando ler isto nem me vou lembrar que escrevi. Se calhar estou a alucinar. Quem me dera que o meu cérebro tivesse uma daquelas cenas que tem na televisão, no canto superior direito, a dizer «Live» ou «Directo» que era para saber se estava na realidade ou se então era uma alucinação ou um sonho. Assim nos sonhos era fácil. Estava a ser esfaqueado por 3 índios que me queriam roubar o meu jaguar no meio da selva (mas jaguar animal, não era o jaguar carro, senão tinha escrito Jaguar e não jaguar), olhava para o canto superior direito, não via lá «Live» e até aproveitava melhor o sonho, porque sabia que não era real. 







P.S.: Outra crítica que me podem fazer é que raramente o meu último parágrafo serve de conclusão ao texto em si. Também não sei do que estavam à espera, que no último parágrafo vos fizesse um resumo de tudo o que tinha escrito antes? Lessem! Eu também tive que pensar, escrever, ler e reler, por isso não vos faz mal nenhum. Por acaso não pensei, mas podia ter pensado! Para apanhar um montão de informação para no fim me darem um papel onde estava tudo resumido, já me chegou o Dia da Defesa Nacional, quando lá fui há uns anos. Se quiserem tirar conclusões, leiam o texto e tirem vocês. Já agora tinha que fazer tudo eu. Lembrei-me agora que no Dia da Defesa Nacional eles tinham lá uma coisa em fatias que me parecia pão e tirei 4 ou 5 fatias de pão. Quando fui a comer era bolo e tinha os generais todos a olhar para mim com ar de reprovação. Eu devolvi o ar de reprovação, o bolo também não era grande coisa e tive que comer as 5 fatias porque se tirasse 5 e depois deitasse fora ainda me obrigavam a ficar lá. 


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fui com o Sebastião fazer uma visita guiada à Robialac e aquilo é uma porcaria


Hoje o patrão fez anos e deu um dia de férias a toda a gente. Só não deu à secretária dele, que foi obrigada a ir para a fábrica mesmo com aquilo fechado e sem ninguém lá a trabalhar. Deve ter tido um dia de seca, à espera que as horas passassem e a jogar Freecell no computador. O Venâncio na sexta-feira disse-me que queria matar o segurança que está na fábrica à noite, que pôs-se a jogar Freecell no computador da entrada e baixou a percentagem de vitórias de 73% para 66%. O Venâncio disse-me que ia mudar o nome do Freecell para «Calculadora», que ninguém usa a calculadora do computador e assim o moço da noite ia andar à procura do Freecell em todo o lado e não ia encontrar e assim já não baixava a eficácia de vitórias do Venâncio. Como tive um dia de férias e não há daquelas convenções para desempregados à segunda-feira, que é dia de ir ao centro de emprego, aceitei relutantemente o convite do meu ex-amigo Júlio César e fui com o Sebastião fazer uma visita guiada à Robialac. 



A impressão que eu tenho da Robialac é que nunca na minha vida iria trabalhar para ali. Também não iria viver, porque não vi nenhum quarto e as casas de banho não têm banheira, ia ser um bocado difícil para tomar banho. Mas trabalhar é que não ia mesmo. Para começar, não tem segurança à porta. Tem uma câmara a apontar para a entrada e um segurança que está num escritório reservado é que decide se te abre a porta ou não. Eu não conseguia ir trabalhar todos os dias e olhar para uma câmara que decidia se eu podia entrar ou não. Já fico uma pilha de nervos quando saio à noite e entro naquelas discotecas que têm ditadores à porta. Sim, ditadores. Só lhes faltava decidir quem entrava e quem ia para campos de concentração. Não vivo sem ouvir o Venâncio de manhã ou de lhe colocar dúvidas na pausa para o café. Também não vivo sem uma casa de banho que tenha papel ou toalha para limpar as mãos, que os secadores das casas de banho foram desenhados especificamente para não secarem nada e obrigarem as pessoas a limpar às calças. A Robialac por acaso tinha uma daquelas toalhas gigantes enroladas e que as pessoas vão puxando, mas mesmo assim não ia para lá. 



O trabalho deles lá não é difícil, mas reparei que enquanto lá na fábrica há um ambiente descontraído, em que as pessoas tentam sempre chegar à fila do almoço antes de só haver gelatinas, na Robialac é tudo muito competitivo e altamente organizado. Parecem robôs a trabalharem com tintas. Digo isto porque os robôs estão sempre todos bem pintados e polidos, o metal brilha, não tem um único risco. O meu tio uma vez disse-me que a melhor cor para um carro era o cinza metalizado porque além dos riscos não se notarem tanto, se bater em alguém e fugir, o que não falta aí é carros cinzentos. Perguntei ao meu tio se alguém bateu em alguém e fugiu. Disse-me que não, mas que uma vez a minha tia fugiu para casa de uma amiga 3 dias e ele quando a encontrou deu-lhe outro enxerto de porrada. O meu tio sabe sempre como apimentar a relação com a minha tia. Antigamente incomodava-me ouvi-lo contar histórias sexuais que fazia com a minha tia, mas agora que sou adulto compreendo que isso até é bom e saudável.



A pior parte foi a hora de almoço. Comi na cantina, como as pessoas normais. Na Robialac, mais de metade ou vai a casa ou vai ao tasco em frente à fábrica, que é da mulher do dono. Por isso, na cantina ficaram aí umas 20 pessoas. O Júlio César veio todo contente dizer que o almoço era do meu agrado, que eram panados com arroz de feijão. Quando fui servido, vi que era um panado todo cheio de óleo, daqueles que só de pôr o garfo já fico com o prato todo gorduroso. Eu na minha turma uma vez tinha um moço que era o Luís Gorduroso, que tinha um problema de pele, em que ficava todo gorduroso e besuntado, parecia que estava sempre a suar. O meu panado parecia o Luís Gorduroso, com a diferença que o Luís Gorduroso até era uma companhia agradável para se trocar Tazos, que a ele saíam-lhe sempre os mais difíceis. Depois disso, tirei uma maçã e ia tirar uma mousse de chocolate e o do bar chamou-me à atenção e disse que só podia tirar um dos dois. Perguntei ao Sebastião o que é que ele ia escolher, mas ele não queria nem fruta nem sobremesa. Eu a pensar que ele me ia ajudar com este dilema e ainda o agravou: devia levar a maçã ou a mousse? Ou nenhum dos dois?



Enquanto estava a comer, algo me assaltou de repente. Eu já tinha visto o do bar em algum lado! Perguntei ao Sebastião se ele já tinha visto o do bar em algum lado e ele disse-me que provavelmente tinha visto na Revigrés, que eles é que fazem azulejos em granito. Disse-lhe que não estava a falar dos azulejos mas do homem que estava no bar. O Sebastião disse que não olhava para homens desde que confundiu o Leonardo Di Caprio com uma moça e comprou um poster dele e depois teve que explicar ao pai que se tinha enganado. Ia perguntar ao Júlio César mas não quis, ele ainda pensava que tinha voltado a ser amigo dele. Decidi lá ir. Perguntei-lhe se não o conhecia de algum lado e ele disse-me que o devia estar a confundir com algum primo meu a perguntar pelas pessoas sem comprar sequer uma chiclet Gorila. Eu já tinha ouvido aquele discurso em algum lado. Ou era o Imperador da Macedónia ou era o Sr. Gonçalves, que na semana passada tinha feito o Venâncio correr até ao bar. Depois de pensar bem, era o Sr. Gonçalves, que o Imperador da Macedónia tinha morrido há 600 anos. Não sei que raio estava ele ali a fazer, mas na semana passada não gostei nada dele. Já devia ter adivinhado que trabalhava na Robialac ....








P.S.: Juro que nunca mais volto aquela fábrica. O Júlio César no fim disse que ficou muito contente de eu ter lá ido. Porque é que não ficou contente pelo Sebastião? Ele disse-me que ficou contente pelo Sebastião ter ido, mas o Sebastião só era amigo dele há uma semana. Não sabia que as amizades eram como as bebidas alcoólicas, que só são boas a partir de determinado tempo. O meu tio uma vez disse-me que as relações sexuais é como comer um bife, degusta-se tudo e depois caga-se tudo. Mas não sabia que as relações de amizade podiam ser assim também. Quando vínhamos embora o Sebastião perguntou se eu tinha reparado que as latas de tinta anti-fungo deles não pareciam as embalagens do Solero de Frutos Tropicais. Disse-lhe que podia haver tortas Dan Cake de frutos tropicais e ele concordou. O Sebastião é o meu novo melhor amigo. 


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Dizem que o tempo cura tudo e parece que é verdade


Normalmente não ligo a provérbios porque acho que foi o aproveitamento feio da sabedoria popular sem sequer lhes oferecer direitos de autor. Aposto que se fosse um cientista a inventar o «Grão a grão enche a galinha o papo» ainda hoje as pessoas lhe andavam a pagar direitos de autor por cada vez que usassem essa frase. Como foi o povo, toda a gente usa e ninguém lhes dá nada. E olhem que é bem difícil inventar provérbios! Uma vez eu inventei 4 e usei-os em todas as conversas que tinha mas ninguém prestou atenção e agora até eu me esqueci deles. Aparentemente, as pessoas estão bem servidas com o «quem te avisa teu amigo é», «quem tem boca vai a Roma» ou com o «não te rias do vizinho que o teu mal vem a caminho».



Mas há coisas que mudam. Os provérbios não, que ainda hoje se fala em telhados de vidro quando a arquitectura moderna usa telhados com outros materiais. Havia de ser bonito ter telhados de vidro. Por um lado poupava um dinheirão em luz, mas por outro, as pessoas viam tudo da rua. Adiante. Se há coisas que mudam com o tempo é a forma como avaliamos algumas figuras históricas. No outro dia ouvi um moço todo indignado num canal de televisão a insultar, enxovalhar, criticar, transpirar, respirar, pensar e a dizer mal do Hitler. Realmente, o Hitler foi uma personagem da História má. Se o meu sogro aparecesse nos livros de História era na página ao lado do Hitler. Quando vou jantar a casa dele obriga-me a usar o guardanapo no colo e a comer a sobremesa com os talheres de sobremesa. O Hitler foi mau mas os Faraós do Egipto ainda foram piores e toda a gente os trata com aceitação e admiração. Os Faraós promoveram a escravatura, mataram milhares de pessoas e iniciaram guerras só por capricho, como o Hitler e têm direitos a desenhos animados ,documentários a dizer bem deles e a falar de como veneravam os gatos, sabe-se que ao pequeno-almoço gostavam de comer pães tostados e há filmes no cinema sobre eles. E sobre o Hitler? Nada. A minha teoria é de que o tempo curou tudo. Aposto que em 2400, nas aulas de História, se fale tanto do Hitler como de Faraós e também haja um desenho animado do Hitler, como há de faraós, ou que o Hitler dê um nome a um bolo como dá o Napoleão, outro tirano e que matou um montão de gente. Por agora, que ainda é fresco, é que é proibido falar no Hitler.



Este é outro sinal de trânsito que me intriga e me inspira. Porque raio é que se pode considerar algo sem saída? Tudo vai dar a algum lado, tudo tem um destino. Uma vez, fui à mercearia comprar meio quilo de pêras, que a minha mulher me pediu, e aí, além de testemunhar um assalto à mão armada, fui também alvo de assédio sexual e de assédio telecomunicacional, porque a pessoa que me assediou sexualmente perguntou-me se eu era 91. Quem dita afinal o que é uma estrada sem saída? Somos nós que, tendo em conta a nossa acção, determinamos essa existência ou não de saída. Porque pode não haver saída para carros, mas há para pessoas. E afinal quem é mais importante? As pessoas ou os carros? Já vi notícias de jornais que se mata por amor, por dívidas, por discussões ou por partilhas. Isso é tudo entre pessoas. Nunca vi ninguém matar por causa de carros. Por isso o código devia estar ajustado a pessoas e não a carros. Mas é este o Mundo em que vivemos.





P.S.:  Como amante das Artes no geral e da poesia em particular, anseio o dia em que o Jorge Abel voltar à poesia. Até porque nunca mais vi poemas novos de outros autores portugueses e mesmo que os do Jorge Abel sejam fracos e sem sentido, sempre é alguma poesia. É como não comer francesinha há 4 anos e ir comer uma a Felgueiras onde, provavelmente, comi a pior francesinha da minha vida. Quando era solteiro comi uma moça em Felgueiras e recomendo, fez tudo e era provocadora. Mas francesinhas em Felgueiras, é uma estrada sem saída. 


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O Júlio César foi trabalhar para a Robialac e agora na fábrica sou só eu e o Sebastião


O Venâncio tinha-me avisado que Novembro era o pior mês do ano, porque era a última oportunidade das pessoas praticarem o mal antes de chegar o Natal. É que em Dezembro ninguém faz mal a ninguém. Disse-me o Venâncio que é por isso que no dia 1 de Janeiro os jornais só falam em aumentos de preços e impostos e só se fala em acidentes rodoviários, são as pessoas a descarregar tudo o que estiveram a guardar durante 31 dias. O Gary disse-me que odeia Dezembro porque parece que é obrigatório contribuir para instituições de caridade ou dar moedas aos mendigos. O Gary não gosta de mendigos desde que um lhe roubou uma torta Dan Cake de um saco de plástico enquanto ele estava a levantar dinheiro. Por falar em roubar, o Júlio César roubou 56% da minha felicidade ao ir trabalhar para a Robialac. Ia dizer que roubou muito da minha felicidade, mas depois as pessoas não sabiam exactamente quanto e assim já sabem.



Disse-me hoje que amanhã não ia trabalhar, que já ia para a Robialac. Eu não sabia como reagir. O Sebastião ficou triste mas disse que ficava mais triste se o Hollywood começasse a ser um canal codificado como os TeleCines e se tivesse de pagar. O Júlio César disse que na Robialac pagavam mais e tinham um horário mais flexível. Não sei porque raio quer ele ter um horário mais flexível e mais dinheiro, se passa os fins de semana em casa sem fazer nada. O Venâncio desejou boa sorte ao Júlio César e perguntou se podia ficar com o lugar de estacionamento dele. O Júlio César disse-lhe que ia sempre de autocarro para a fábrica. O Venâncio sabia disso, mas como não tinha mais nada para lhe dizer por não o conhecer bem decidiu perguntar na mesma, só para fazer conversa, que ao menos nos encontros com as moças essa estratégia resulta sempre. 



Não quero saber do Júlio César. Sinto-me traído. O Sebastião disse-me para não pensar muito nisso, que os amigos não se viam pelo local de trabalho, mas pelo dinheiro que nos deviam e pelo número de namoradas que nos roubavam. Tinha de ser namoradas ou podiam ser raparigas com quem quiséssemos sair mas ainda não a tivéssemos convidado por falta de oportunidade? O Sebastião disse que ambas. Lembrei-me da Xana da cantina! Será que ela também ia para a Robialac? Isso é que ia ser mau. Primeiro perdia o meu melhor amigo na fábrica, depois perdia a possibilidade de comer uma peça de fruta e um bolo ao almoço, quando o permitido é só um dos dois. Fui logo ao bar para ver se a Xana lá estava. Só estava o Sr. Gonçalves, que é o responsável do bar. Perguntei pela Xana e ele disse-me que devia estar a confundi-lo com um primo meu a perguntar pelas pessoas sem comprar sequer uma chiclet Gorila. Vim embora sem saber da Xana. Quando comentei este incidente com o Venâncio, ele foi logo a correr para o bar a dizer que não havia nenhum Sr. Gonçalves responsável pelo bar.



Pensei que mentir e atraiçoar os amigos era coisa de moças. O Venâncio disse-me para não dizer isso alto senão as feministas podiam mandar-me para a cadeia. Não sei o que é isso de feminista, mas o meu tio uma vez disse-me que adorava comer moças feministas e espancar moços feministas. O Gary disse-me que ser feminista era moda quando as mulheres não podiam votar no século XIX, mas que agora era tão actual como ir a Lisboa de coche. Ainda bem que nunca andei de coche. Devia ser mesmo difícil estacionar o coche de marcha-atrás. E naquela altura não era qualquer família que podia pagar a carta de coche, devia ser um dinheirão. Se calhar só podia andar de coche QUEM FOSSE TRABALHAR PARA A ROBIALAC. Desculpem, agora excedi-me. Já o meu tio me dizia que se devia manter sempre a postura em público e exceder-me apenas na cama ou na parte de trás dos carros. 



Hoje de tarde não encontrei a Xana da cantina mas encontrei-a à porta da fábrica quando ia embora. Ela perguntou-me se eu já sabia e eu disse-lhe que infelizmente sim e que estava muito triste. Disse-lhe que era muito duro perder uma pessoa amiga desta maneira. A Xana disse-me que foi por eu a considerar amiga que ela tinha aceite o pedido do moço da Costa Rica. Não estava a perceber nada. Eu estava a falar do Júlio César ir trabalhar para a Robialac. Ela também ia? E com o moço da Costa Rica? A Xana disse-me que não, que agora ia trabalhar para o moço da Costa Rica mas era em regime pós-laboral  e intensivo, em casa dela. Isso não me interessava, desde que ela continuasse na fábrica. Já me chegava ter perdido o Júlio César. Só faltava ir a Xana e em vez do moço da Costa Rica ir o Sebastião e o Venâncio passar a fazer os turnos dele à noite. Assim ao menos só tinha perdido uma pessoa. A Xana disse-me que à custa destas coisas e à custa das bananas da Costa Rica serem tão grandes como se apregoa é que ela tinha tido a escolha que teve. Vejo que a Xana da cantina continua a falar por charadas, como se eu tivesse o 12º ano para as perceber.








P.S.: O Sebastião já conheceu o Gary mas o Gary não conheceu o Sebastião. Quando os apresentei, o Gary disse que estava num daqueles dias em que tudo lhe parecia uma alucinação e perguntou ao Sebastião se alguma vez tinha comido um rissol de pêra. O Sebastião disse-lhe que não, mas que uma vez tinha comido um pica-pau no restaurante. O Gary disse-lhe que preferia comer aquele animal que faz «Bip-Bip» nos desenhos animados, porque se o coiote passa tanto tempo atrás dele é porque a carne deve ser espectacular e dar dinheiro se vender a talhos. Enquanto eles conversavam lembrei-me do que o Júlio César me fez. Mas foi por pouco tempo, que o meu tio apareceu-me a perguntar se lhe emprestava 50€ e se lhe dava outros 200€, que ele só me ia poder devolver 50€. O Venâncio sempre me disse que a honestidade deve ser recompensada, por isso dei 50€ ao meu tio e disse que não me precisava de mos devolver. 


domingo, 17 de novembro de 2013

Espero bem que nunca tenha de ir para o céu


Ontem descobri que há pessoas no Mundo mais chatas que o Jorge Abel. Antes que comecem para aí a dizer que eu sou severo demais com o Jorge Abel, severo era o meu professor de Ciências que uma vez me marcou falta disciplinar por eu dizer que em Ciências se devia ensinar os nomes dos principais dinossauros e que isso era muito mais interessante que perceber como funciona o aparelho digestivo. A partir desse dia, por muito bons que os meus testes fossem ele nunca me dava mais que 3. Ainda bem que no 10º ano deixei de ter Ciências. Foi uma perda de tempo. Hoje continuo sem perceber o meu sistema digestivo, só sei que ele funciona e ainda por cima não aprendi nada sobre dinossauros na escola. Só descobri que os dinossauros foram os primeiros animais a comer bifes com molho tártaro numa convenção a que fui com o Tolentino.



Mas perguntam vocês quem são essas pessoas mais chatas que o Jorge Abel. A resposta é fácil: aquelas velhas que andam a vender bíblias e a oferecer editoriais religiosos na rua. Ontem fui abordado por duas velhinhas que se dirigiram a mim com um «Jovem, quer purificar a sua alma?». Eu acedi. Já há uns tempos que ando à procura de um champô que lave consciências. Até tinha comentado com o Teófilo que o máximo que pagava por um champô desses era 5,99€. Se fosse 6€ já não pagava, esperava que estivesse em promoção. Por isso, cativou-me a ideia de purificar a minha alma. Uma vez disseram-me que fazer sauna purifica a pele porque liberta toxinas. Mas há muita gente esquisita nas saunas e ainda por cima quem me deu esse conselho foi o Rui Rotundas, um moço que nunca teve nenhuma namorada e aos sábados à noite sai de casa com pólos amarelos. Por isso, acedi.



Afinal era um embuste. Estavam a oferecer daqueles editoriais religiosos com capas enganadoras, que te obrigam a abrir a página 1 para veres que são cenas religiosas. Fixei lá uma frase: «Pratica o bem e caminharás toda a tua vida para as proximidades do Céu, que te abraçará na sua paz eterna». Grande porcaria ir para o céu. Espero nunca lá ir parar. Vou explicar-vos o porquê:




  • O céu é longe do mar. Ok, em termos de habitação e de preço por metro quadrado é muito mais barato, mas reparem bem como são desertificadas as zonas do interior e longe do mar. Além disso, estar longe do mar implicava não comer peixe fresco. Se quisesse comer peixe era só bacalhau ou atum enlatado. Grande «paz eterna», ter o desejo de comer um carapau fresquinho e ter que fazer 100 ou 200 km para isso;

  • O céu foi claramente concebido por um arquitecto incompetente. Como construir um espaço onde tanta gente vai residir (ou, pelo menos, aquelas que lerem e aceitarem os ideais que vêm naqueles editais) sem pensar no quão afectadas vão ser as vidas dessas pessoas com o constante barulho dos aviões a passar? Por alguma coisa os aeroportos são construídos fora das cidades, para não incomodar ninguém. Queria ver quem ia ter «descanso eterno» com aviões a passar debaixo de casa de 20 em 20 minutos;

  • Uma coisa que não me ia deixar nada descansado se eu fosse para o céu era o facto de em momentos sexuais ou românticos entre um casal (que, como andam as coisas, podia ser entre duas pessoas do mesmo sexo sem ninguém os perseguir e prender) estarem a olhar para a minha casa. «Já viste como são bonitas as estrelas? Parece o nosso amor, tão bonito». E estavam a olhar para a luz da minha casa de banho enquanto lá estou a ler revistas, sem o saberem. Detesto fazer parte de momentos românticos. Já por isso é que sempre que vou ao cinema entorno a bebida nos bancos todos da minha fila e nos dois lugares imediatamente atrás e à minha frente, para não ter que levar com nada disso durante o filme;

  • Outra coisa que me ia aborrecer no céu é que os vizinhos iam ser todos daqueles bem-comportados e sem histórias interessantes. Todos os dias iam ser monótonos, sem novidades daquelas que empolgam as pessoas que as sabem e envergonham as que as cometeram. Nada de nada. Por um lado, era bom que ninguém me ia dever dinheiro, mas por outro também não havia moças a traírem os namorados ou moços bêbados a perderem os cartões deles na discoteca. Que vida aborrecida;

  • Viver no céu ia ser como aqueles moços que vivem numa cidade calma onde não se passa nada mas sabem que na cidade ao lado há grandes festas, agitação e novidades a toda a hora. O problema é que uma vez entrando no céu não me deixavam sair, ficava lá para sempre. Nem sequer podia pedir um visto de turista para ir ao Inferno a uma festa da mulher ou alguma com bar aberto e voltar no dia seguinte. Estava preso no céu, obrigado a descansar para sempre, sem me poder ir divertir a outras cidades;

  • Com tanto descanso e paz eterna, e com o céu a abundar em sobremesas como as natas do céu ou o toucinho do céu, ia-me tornar obeso. Depois a roupa ia começar a ficar-me apertada e como não tenho conhecimento que haja lojas de roupa no céu ou sequer que haja dinheiro, ia tornar-me naquilo que mais desprezo: obesos que usam roupa claramente desajustada à sua estrutura corporal e a mostrar aquilo que têm a mais aos outros. Basicamente, um obeso é como um rico, mostra aquilo que tem a mais, a diferença é que ninguém admira o que os obesos têm a mais. Eu no céu ia ser assim;

  • Por último, provavelmente a pior coisa de ir para o céu: ia ter os mesmos vizinhos para sempre. Há vizinhos que, eventualmente, se mudam ou morrem e então vêm outros novos. No céu não. Iam ser os mesmos para sempre, porque não há morte da morte. Ou talvez haja e eu não sei, afinal de contas nunca morri. Em termos de morte sou virgem. Espero sair-me bem na primeira vez que morrer. Mas é melhor não pensar nisso senão toda a gente vai reparar que sou inexperiente. Imagino o que é ter um Jorge Abel como vizinho no céu, que todos os dias me vinha falar da diferença entre os fungos da tinta e os fungos da pele e perguntar-me porque é que a torta Dan Cake de morango sabe mais a framboesa que a morango. 






Uma coisa que eu também pensei no outro dia foi sobre se há céu e inferno para as células cerebrais. Vi num documentário no outro dia que, diariamente, num ser humano normal morrem milhares de células cerebrais. Para os que bebem ou consomem drogas esse número sobe ainda mais. Neste momento eu estou a matar células cerebrais. Elas simplesmente morrem e ninguém quer saber? E morrem a trabalhar ou morrem de velhice ou por doença? E imagino os funerais das células cerebrais a estarem vazios porque os amigos e familiares ou estão a trabalhar, ou estão a pensar ou então estão a morrer. Que vida triste a de uma célula cerebral, que nem pode ir beber uma cerveja no fim do dia de trabalho porque isso a mata. E as células cerebrais quando morrem ficam no cérebro a apodrecer ou desaparecem? É que se ficarem a apodrecer aqui e a amontoarem-se no cérebro, começo a perceber as minhas dores de cabeça que tenho tido ultimamente...







P.S.: Pensando bem, não queria ir para o céu mas também não queria ir para o Inferno. Vinha lá no edital religioso que o Inferno era uma prisão para as almas impuras e ímpias. Adoro a palavra ímpia. É uma daquelas palavras poderosas. Mas não gosto de prisões. Nas prisões vale usar carga de ombro e empurrar no basket, é quase todos os dias arroz de atum ao almoço e não há tortas Dan Cake ao lanche. A Paulinha na outra noite disse que eu a levava ao céu. Mas espero que a seja só mesmo levar e vir embora, ela que não se ponha com ideias de eu ficar lá também, que não quero ficar obeso e a passar os dias a ouvir os aviões a passar.